Quem ama a Deus, ame também ao seu irmão (I Jo 4,19-21)
Júlio César e Jane Beatriz Machado – Pela união matrimonial formamos um grupo, isto é, o núcleo de uma nova família. São duas pessoas que vieram, muitas vezes, de culturas familiares diferentes e que precisam acordar o seu modelo de vida matrimonial, ou seja, do grupo familiar que formaram. Considerando essa dimensão, o namoro tem a nobre função de fazer esse acerto para a formação desse grupo.
O homem de nosso tempo vem externando forte concepção hedonista em sua vida, isto é, admite que o prazer é o seu maior bem de conquista, sem isso ele vive na infelicidade. Não é muito difícil de constatar isso, basta acompanhar a expressão das pessoas nas redes sociais. Nesse aspecto, bem prosaico, já entendemos o quanto somos hedonistas, porque quando se pensa em matrimônio, muitas vezes, vem primeiro o prazer do sexo e, se isso der certo, então se pensa em casar-se. No entanto, na grande maioria das vezes, os ajustes para uma vida matrimonial madura ficam para trás.
Em nossa vida há muitas alegrias. Mas, é claro e muito natural que nossa existência seja marcada por alegrias e tristezas. É impossível, é ingênuo pensar ou admitir que seja possível uma existência sem tristezas. Nós, cristãos católicos que cremos na mensagem de Jesus Cristo, admitimos que, nas grandes tristezas, Deus sempre nos ajuda, consola e, sobretudo, nos ama. O fortalecimento de um forte vínculo a Deus pode ser uma conquista durante o tempo de conhecimento mútuo do novo casal. Essa vinculação a Deus inexoravelmente nos fará nos aproximar do nosso mais próximo e, no caso do casal, dos próprios cônjuges.
O casal fortalece este forte vínculo com Deus por meio da oração, individual e em comum com o cônjuge. Isso os ajuda a colocar uma base sólida no matrimônio e, assim, poder superar as tristezas e dificuldades que surgem no caminho da vida matrimonial. A oração ajuda, também, a compartilhar as alegrias, porque esta base sólida, que é a oração, se traduz na harmonia com o outro, o casal, especialmente, e a sociedade.
Como resultante deste forte vínculo a Deus e ao próximo, o casal vai aprofundando o amor fraterno num amor mais pessoal, direcionado ao cônjuge. A ponto de não prevalecer mais, sobre o todo, pequenezas, de modo que a construção de um diálogo franco e tranquilo vai se tornando o suporte para amortecer as tristezas e valorizar as alegrias.
O diálogo, como suporte, é importante para o jovem casal, assim também como para os com mais tempo de matrimônio, pois ele serve para que aprendam a fortalecer a unidade fundada na sinceridade. A abertura para o outro permite que as alegrias e as tristezas sejam colocadas de forma clara, com respeito e sem reservas, o que cria um clima familiar de harmoniosa convivência.
Isso tudo deve resultar no Sacramento do Matrimônio, com o juramento de viver em união nas alegrias e nas dificuldades. Este juramento é consequência de um profundo conhecimento de um e do outro, juramento esse que será selado na forte moldura de uma amizade sólida, sincera e caridosa, porque nessa aliança está presente um terceiro contraente que é o próprio Deus.
Quando olhamos espantados para a crueza da vida de uma grande quantidade de casais, que se desentendem o tempo todo – que expressam falta de resiliência para com as infelicidades, os limites do outro, ou quando não se regozija com a alegria de conquistas – o nosso coração de observador chora e lamenta, porque, muito provavelmente, esse casal teve pouca, ou nenhuma, experiência de namoro. Um juramento, testemunhado pela comunidade, parentes e amigos, como é o caso da União Matrimonial, não pode se resumir a palavras ditas ao vento.
Essa é uma forte razão para nós, que consagramos nossas vidas para expressar os valores da família no mundo, mostrar que o namoro, como fonte da nova família e a preparação para o matrimônio, bem como a oração e o diálogo auxiliam os casais a superarem as tristezas e viverem a intensidade das alegrias.
Firmamos, também, e de modo bem convicto, aquilo que nos diz São João em sua Carta: QUEM AMA A DEUS, AME TAMBÉM AO SEU IRMÃO.
Suplicamos, permanentemente, a Maria e José, que ajudem os jovens e todos os casais a descobrirem o valor do namoro, da oração e do diálogo, pois sem isso teremos famílias defeituosas, incapazes de estabelecer vínculos e de superar as tristezas e valorizar as alegrias.
* Contribuição do Instituto de Famílias de Schoenstatt