Onde está a beleza deste tempo de descobertas e de preparação?
Bárbara Rafaela B. R. de Mélo e Arthur Correia de S. Lima – A partir do cultivo de uma amizade e amor profundos, o tempo de namoro traz consigo uma nobreza e uma fecundidade própria deste período, que tem o ápice na vocação matrimonial.
Um no outro e um com o outro: uma autêntica amizade
O amor no namoro deve conduzir à unidade de corações. É um presentear-se ao amado com atos de ternura e de amizade. Esse impulso deve ser ponderado por meio do respeito mútuo que traz o equilíbrio necessário entre a proximidade e a distância. Neste tempo pandêmico, essa realidade se torna ainda mais concreta, pois a força unitiva do amor não se condiciona à presença física, mas transcende qualquer distância, podendo-se exclamar: “tu em mim e eu em ti!”
Pela amizade chega-se ao conhecimento mais genuíno e puro de alguém, pois, com amigos, somos o que somos e não há medo de se mostrar as misérias do nosso ser, ao contrário, há uma grande confiança firmada no amor. Assim também deve ser para com o namorado ou namorada, o amor deve unir de tal forma que se torne uma amizade profunda, buscando compartilhar não apenas sonhos, sentimentos, medo e alegria, mas, sobretudo, os valores e os pontos de vista sobre determinados assuntos relevantes.
“Será que vocês compartilham as mesmas crenças religiosas, os mesmos critérios morais, alguns interesses recreativos e intelectuais, pela arte, pela leitura, etc? É possível compartilhar os interesses do outro em alguns aspectos, mas convém partir de uma boa base desde o princípio”¹
O amor verdadeiro traz consigo a capacidade de assemelhar aqueles que se amam. Por meio de uma autêntica amizade entre os namorados, “transmite-se ao outro os valores, a riqueza interior e a concepção de mundo e vida, ou seja, há transmissão e assimilação de valores”².
Um para o outro: doação máxima
No namoro, que tem por objetivo chegar ao matrimônio católico, a concentração no “eu” é encerrada pela felicidade de ter e colocar o outro no centro, renunciando ao egoísmo de pensar apenas em si e nas suas vontades. Mas, para que isso aconteça, deve-se fazer exigências para que então se possa oferecer o melhor de si para o amado – e isso requer inúmeros sacrifícios, ou melhor, perpétuos sacrifícios, porque o amor impele à máxima doação de si pelo outro, libertando-se do apego desordenado ao próprio ser e dilatando o amor a uma pessoa, realidade essa que será mais concreta na vida matrimonial.
É um tempo de cultivar amizade, carinho, pureza e o esquecimento de si mesmo, é um caminhar de mãos dadas. Embora seja o início da história que se constrói em um relacionamento, visa a preparação para a verdadeira “doação máxima”, que é o matrimônio, por isso, deve-se vivenciar essa etapa da forma mais amável e fecunda possível.
Juntos no coração de Deus: o namoro conduz ao céu
É importante reconhecer a fragilidade humana, herança de Adão. Isso significa que sem o bom Deus não se chega a lugar algum, sem a sua graça logo perecemos. Para que a riqueza do namoro possa se fazer presente, Deus deve ocupar o lugar excelso na relação, ou seja, a pessoa que está ao nosso lado deve impulsionar-nos a estar ainda mais próximos de Deus, de tal forma que se possa ver Deus Pai em quem amamos.
Esse tempo implica em muitos desafios até que se chegue à realidade conjugal, as batalhas contra os instintos são constantes para manter intacta a pureza do ser e do corpo, a força para enfrentar toda dificuldade está na oração, tanto pessoal como oração juntos, como casal. Apenas a graça de Deus e o esforço mútuo são capazes de fazer com que alcancemos os céus juntos e que o amado possa experimentar ainda na terra a felicidade do céu por estar ao nosso lado.
Um enamorar-se eterno
É importante lembrar ainda que o namoro é um estado que deve permanecer mesmo na preparação para a vida matrimonial, também no próprio matrimônio. O “enamorar-se” deve ser constante, pois é este que torna os esposos amáveis e unidos para enfrentar todo obstáculo inerente à vocação. Essa capacidade de “conquistar” diariamente quem amamos, de enxergar a sua grandeza como filho de Deus, eleito para nos conduzir ao céu, solidifica e aprofunda o amor esponsal, tornando-se não apenas uma só carne, mas um só coração, que eleva e conduz sempre para o alto.
Belo é enamorar-se pelo que já não é novidade, mas, sempre deve ser nova a vontade de amar e de se entregar constantemente pela mesma pessoa, para sempre, com o mesmo empenho do namoro, porque o amor é uma amizade eterna e apaixonada que apenas se sacia quando se ama em abundância.
Referências:
MORROW, Thomas G. O namoro Cristão em um mundo supersexualizado. São Paulo: Quadrante, 2011.
DOTTO, Fátima Elisa. A educação do amor humano na perspectiva do Pe. Kentenich. Roma: Centro Mariano, 1994.