Quais são suas raízes? Como elas estão hoje?
Pe. Carlos Padilla Esteban – Hoje, na liturgia, ouvimos falar de árvores fortes que protegem e dão sombra: «Ele produzirá folhagem, dará frutos e se tornará um cedro majestoso. Debaixo dele pousarão todos os pássaros, à sombra de sua ramagem as aves farão ninhos. E todas as árvores do campo saberão que eu sou o Senhor, que abaixo a árvore alta e elevo a árvore baixa; faço secar a árvore verde e brotar a árvore seca» (Ez 17, 23-24). Árvores frondosas que sobem ao céu, rompendo as alturas, surpreendendo quem olha do chão, sendo lar e ninho para muitos.
O reino de Deus é comparado a uma árvore que nasce da menor semente: “Com que mais poderemos comparar o Reino de Deus? Que parábola usaremos para representá-lo? O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra. Quando é semeado, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças, e estende ramos tão grandes, que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra” (Mc 4, 30-32).
Eu gosto dessa imagem de uma árvore forte que resiste aos ventos e às tempestades. Uma árvore que sobe ao céu sustentada por seu tronco forte, por suas raízes profundas. Um lugar de descanso, onde a alma se encontra acolhida. Sei que sem raízes, a árvore não aguenta os ventos e as tempestades.
O Pe. José Kentenich dizia: “Se não educamos pessoas que tenham raízes saudáveis, também não conseguiremos cultivar árvores saudáveis” [1]. Uma árvore é forte e cresce forte se suas raízes são saudáveis. Mas é vulnerável se suas raízes forem superficiais, pouco profundas. Pessoas sem raízes são mais vulneráveis, mais frágeis. Podem ser feridos com facilidade. Elas caem ante os contratempos. Para permanecer forte na vida, preciso de raízes profundas.
O poeta Francisco Luis Bernárdez escreve: «Porque depois de tudo compreendi, o que a árvore tem de florida, vive do que tem de enterrado». A árvore se lança às alturas graças à profundidade de suas raízes. Sem elas, não tem solidez. Sem elas não é florida. Eu gosto de ver assim. O que torna a minha vida sólida não são as flores, nem as aparências. É a profundidade das minhas raízes. Sem elas, eu desmorono diante da menor contrariedade.
A vida sempre traz consigo problemas, tensões e contratempos. As raízes não são visíveis, mas é delas que eu bebo e vivo. Elas me sustentam. O reino de Deus são essas raízes que o mundo não aprecia. Elas me dão vida, elas me alimentam. Elas permanecem ocultas sob a terra e não se destacam. O mais importante em minha vida é aquilo que não se vê. O que ninguém vê ou valoriza. O trabalho oculto, o esforço constante, a entrega silenciosa, o sacrifício contínuo… a profundidade da minha vida. Dessa profundidade dependem a minha solidez como pessoa e a minha fecundidade.
Santo Inácio escreveu uma frase clássica: “Nunca se deve colher os frutos de uma árvore colocando o machado nas raízes”. Sem raízes não haverá mais frutos, nem vida verdadeira. O tronco seca e com ele os ramos, as folhas, os frutos. Poderei dar frutos um dia, mas depois, sem raízes, não voltarei a florescer novamente.
É por isso que tenho que cuidar das raízes para garantir que os frutos sejam bons, para que a árvore se fortaleça e resista às tempestades e surjam mais frutos. Quais são as minhas raízes? Como está a profundidade da minha vida interior?
O Pe. Kentenich fala da alegria profunda que só é possível, permanente e profunda quando permaneço enraizado em Deus: «Exige um elevado grau de amor a Deus e, ao mesmo tempo, um distanciamento muito forte do apego a mim mesmo e ao mundo, um desvincular-se de si e do mundo, um vincular-se de forma sumamente profunda a Deus, uma intimidade muito forte com Deus e um estar cativado por Deus» [2].
Um desapego de mim mesmo, do mundo, daquilo que me tira a paz. Um profundo apego a Deus. Viver cativado por seu amor. Isso é possível? “Ir em busca de Deus não consiste em sair de si mesmo para encontrar um objeto no mundo exterior, mas em separar-se deste mundo e recolher-se em si mesmo”. [3]
Leituras deste domingo:
1ª Leitura – Ez 17, 22-24
Salmo – Sl 91
2ª Leitura – 2Cor 5, 6-10
Evangelho – Mc 4, 26-34
Trecho da homilia do Pe. Carlos Padilla de 17 de junho de 2018. A versão completa, em espanhol, você encontra aqui.
[1] Padre José Kentenich, Hacia la cima
[2] Padre José Kentenich, Las fuentes de la alegría sacerdotal
[3] Cardeal Robert Sarah, La fuerza del silencio, 66