Quais paredes e janelas nos prendem?
Pe. Carlos Padilla Esteban – Faz uns dias, entrou um pardal no Santuário. Ele fez isso com muita facilidade, por alguma janela aberta, talvez pela porta. Mas então, querendo ir embora, ele não encontrava a saída. Depois de horas de tentativas malsucedidas, de se chocar contra as janelas, de piar pedindo ajuda aos outros pardais que o ouviam do lado de fora, ele viu que não era capaz de sair. Todos nós que estávamos rezando no Santuário sofremos com o pobre pardal. Sabíamos o que o passarinho estava fazendo de errado. Ele subiu muito alto, porque tinha medo dos homens, e então não conseguiu encontrar a parte aberta da janela. O pobre pardal não encontrava a saída. Nós sabíamos qual era a saída, mas o passarinho não pediu ajuda, não permitia que o ajudassem e não pudemos ajudá-lo. Nós não nos entendíamos e não podíamos chegar perto dele. É verdade aquilo que li outro dia: “Quando você está enrascado, todo mundo diz o que fazer, mas ninguém diz como fazer”. [1]
O pardal estava indefeso e cansado. As horas se passaram e, à noite, ao desligar as luzes do Santuário, ele viu a luz do lado de fora e encontrou a saída. Na escuridão da noite, ele foi capaz de alcançar sua liberdade. Nós somos como esse pardal. Às vezes, nos metemos em problemas facilmente. Pouco a pouco, por alguma janela aberta, nós criamos dependências, vícios, complicamos nossas vidas. E então, tentando sair sozinhos, falhamos. Alguns que veem nossa desolação e tristeza tentam nos mostrar a janela aberta, mas não pedimos ajuda – não sabemos pedir. Quanto nos custa reconhecer que somos necessitados! Como é difícil gritar ao outro para que nos mostre o caminho de saída! […]
Quanto custa aconselhar alguém que está próximo, sofrendo! Temos medo de dizer a verdade sobre sua vida para aquele que não a vê. Eu mesmo tenho medo de contar às pessoas mais próximas de mim. É um falso respeito. Esperamos que ele se dê conta sozinho – e muitas vezes não se dá. Nós o deixamos continuar enredado em seus problemas e não ajudamos. Vivemos em um mundo muito individualista. Cada um busca a saída sem pedir ajuda. Cada um salva a si mesmo. Não queremos ser salvadores, mas somos responsáveis por aquelas pessoas que nos são confiadas. Muitas vezes pecamos por omissão. Calo e não ajo. E me contento pensando que não posso fazer nada. Onde estão me pedindo ajuda hoje? Quem posso ajudar a encontrar a janela de saída?
Por que temos medo?
Por que temos tanto medo da vida? O medo faz parte da nossa natureza, é verdade. Hoje vemos como Jesus lhes perguntava: «Por que vocês estavam com tanto medo? Ainda não têm fé?». Fé e medo estão relacionados. Quem tem mais fé tem menos medo. A falta de fé aumenta o medo. Medo do futuro, do que não controlamos. Jesus toma meus medos porque ele se importa. Ele se preocupa com tudo o que acontece comigo. Ele, somente Ele, pode acalmar a tempestade de minha alma. Ele pode transformar meu medo em paz se eu me entrego, se eu me abandono a ele. […]
Por que temos tanto medo da vida? Jesus conhece nosso coração. Impressiona-me que, quando o acordam no barco, Jesus apenas pergunta sobre o seu coração, sobre os seus medos. O que conta não é a tempestade, mas como a vivemos. O que conta é sempre o “como”: o estilo, a forma, o que sentimos por dentro. A mesma coisa, fácil ou difícil, podemos vivê-la com amor ou pensando em nós mesmos; com luz e otimismo ou sem esperança.
Muitas vezes o medo é muito forte porque colocamos a confiança em nossas próprias forças, nos nossos planos. Recorremos a Deus de vez em quando para garantir que o barco segue meu curso. Outro dia li algo sobre a importância do otimismo: «O otimismo liberta da necessidade de estar seguro e de ter tudo sob controle, da ruminação egocêntrica, porque se concentra no presente, no que posso fazer hoje e agora, sem medo do futuro».[2]
Porque o importante é viver entregue nas mãos de Deus: «É preciso aprender a entregar-se à ação de Deus aos poucos. Deseja-se planejar a vida com excessiva rapidez. Desconfia-se de toda passividade, por medo de se soltar as rédeas. Na velhice, você tem que suportar a ação de Deus. E assim é necessário render-se passo a passo à vontade de Deus e à sua providência. Isso requer a entrega do coração».[3]
Confiar e entregar o coração. Então, quando fazemos isso, o medo desaparece. O Pe. José Kentenich dizia: «Devemos estar entregues nas mãos de Deus. Meu Deus e meu tudo. Devemos conhecer apenas a Ele, apenas o seu amor, entregar-nos em suas mãos, de qualquer maneira que Ele queira dispor de nós. Pensem na bola com que Deus poderia jogar, segundo a imagem de Santa Teresinha».[4]
Viver inteiramente nas mãos de Deus, confiando no amor que Ele tem por nós. Ele constrói a casa da nossa vida. Ele o faz delicadamente, com infinito respeito. Por que tenho medo? Ele é minha rocha. É a segurança em meu próprio barco. Eu não tenho que temer. Ele vai comigo!
Leituras deste domingo:
1ª Leitura – Jó 38, 1.8-11
Salmo – Sl 106
2ª Leitura – 2Cor 5, 14-17
Evangelho – Mc 4, 35-41
* Trecho da homilia do Pe. Carlos Padilla de 21 de junho de 2015. A versão completa, em espanhol, você encontra aqui.
Referências
[1] Carlos Chiclana, Atrapados por el sexo
[2] IDEM
[3] Anselm Grün, La mitad de la vida como tarea espiritual, 71
[4] J. Kentenich, Madison Terziat, 1952