Crer sem ver, em meio à escuridão deste tempo, e tocar as chagas de Jesus na dor dos irmãos
Pe. Vitor Hugo Possetti – A liturgia do dia de São Tomé, 3 de julho, nos remete ao evangelho de João (20, 24-29): “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos… não acreditarei”. Oito dias depois, Jesus ressuscitado dirá ao apóstolo: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a sua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel”.
Ao ver e tocar as feridas de Jesus, foram sendo curadas as próprias feridas de Tomé. Finalmente proclamaria: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,29).
Queremos também nos aproximar e tocar as feridas de Jesus. “Bem aventurados os que creram sem terem visto” (Jo 20,29).
Como amar ao Deus que não vejo se não amo ao irmão a quem vejo? (1 Jo 4,20). Como tocar as chagas de Cristo glorioso que não vejo se não me aproximo das próprias chagas e a dos irmãos a quem vejo?
Na situação da pandemia percebemos diversos aprendizados e lições e, às vezes, até tentamos encobrir de alguma maneira aquilo que nos dói. Deus pode tirar de um mal um bem ainda maior, mas a verdade é que muitas feridas seguem abertas, e várias delas nos machucam demais. Onde está Deus? Será que não nos vê?
Tomé também escutaria de Jesus: “Eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28, 20).
Deus está em nosso meio e não nos abandona. Padece conosco em cada cruz de nosso tempo e pode encontrar, até mesmo em nossas feridas, abertura para seu amor e janelas para nossa salvação.
Jesus glorificado mostrou a Tomé suas chagas. Permaneciam ali as marcas daquele que se fez homem, sofreu e nos amou até o fim.
Queremos tocar e aproximar nossas feridas e a de nossos irmãos às chagas de Cristo, e encontrar ali um abrigo seguro e fendas de esperança. Suas feridas ressuscitadas nos recordam que esse mundo realmente nos deixará marcas, mas que nada do que hoje nos fere tem a palavra final.
O mesmo lado aberto de Cristo, tocado pelo apóstolo, foi contemplado por Maria aos pés da cruz. Aquela lança também atravessou a alma de nossa Mãe. A Virgem dolorosa padeceu junto as feridas de seu filho, cheia de esperança. No terceiro dia, Jesus ressuscitou.
Que ao tocar as feridas de nosso tempo, possamos reconhecer a presença de Cristo e, por intercessão de São Tomé e de Maria, ser, em Suas chagas gloriosas, restaurados em nossa fé.