Tem hora para dizer “tudo” e hora para dizer “nada”
Adriano Santolino – Todos sabemos que nossas vidas são repletas de escolhas, sempre nos deparamos com situações que exigem algum tipo de decisão, seja ela muito significativa, como, por exemplo, escolher o emprego ou a faculdade, ou menos, como escolher qual camiseta usar. É sobre esse cenário de recorrentes decisões que eu gostaria de aplicar o questionamento: é importante fazer tudo bem feito?
Para guiar a resposta, vou me basear em duas personalidades – uma muito significativa para toda a humanidade e a outra mais significativa para o Movimento schoenstattiano. A primeira é o filósofo Aristóteles, que diz em seu livro Ética a Nicômaco: “O homem livre é senhor da sua vontade e escravo somente da sua consciência”. O filósofo grego, nesse trecho, nos fala sobre o que conhecemos como livre arbítrio, que cada ser humano livre pode decidir sobre sua própria vida. Porém, mesmo podendo tomar as decisões livremente, as consequências fogem de nosso alcance e essa condição de escravos da consciência, descrita no trecho, está não somente, mas também relacionada com esse fator. Isso quer dizer que estamos fadados a sermos conscientes das decisões que tomamos e que as consequências dessas decisões vão afetar nossas vidas diretamente. É exatamente aqui que encontramos o ponto de encontro com nosso questionamento inicial. Sabendo que nossas decisões geram consequências, é prudente pensar nestas e tomar decisões mais sábias, em outras palavras, fazer tudo bem feito gera mais consequências boas em nossas vidas e em tudo que gira ao nosso redor.
A segunda personalidade que eu pretendo referenciar é Hans Wormer, mais especificamente uma frase que motivava nosso herói schoenstattiano: “Aut Caesar aut nihil”, na tradução livre, “Ou tudo, ou nada”. Essa máxima é muito conhecida na nossa cultura, podemos considerar até como um clichê, mas aqui eu pretendo incluir uma análise diferente, quero dar mais enfoque nas últimas palavras: “ou nada”.
Todos nós temos nossas vocações, nossas profissões e nossas áreas de maior apreço e interesse, porém, ninguém pode abraçar o mundo todo sozinho. É humanamente impossível saber tudo ou ser bom em tudo, existem muitas situações em nossas vidas que precisamos assumir o “ou nada”. Precisamos aprender a, quando necessário, confiar nos outros e nas decisões dos outros, primeiramente porque pode ser que o próximo seja mais capacitado ou, de alguma outra forma, mais indicado para aquele posto ou para tomar aquela decisão; em segundo, deixando de lado as decisões e compromissos que não nos cabem, podemos nos dedicar mais àquelas que nos cabem e, assim, podemos dedicar mais tempo e mais energia com aquilo que temos condições de fazer bem feito. Como consequência disso, iremos tanto nos afastar dos frutos ruins daquelas decisões que não tínhamos total capacidade em tomar e trazer mais frutos positivos das escolhas bem feitas, dessa forma também evitando o peso na consciência de ter feito uma decisão sem a sabedoria necessária.
O herói cruz-negra referenciado, Hans Wormer, é um ótimo exemplo a ser observado. Hans, em sua juventude, carregava uma paixão ligada à arquitetura, gostava muito desse campo, porém, em um certo momento de sua vida, percebeu que ele precisava e conseguia se dedicar mais à construção espiritual da Igreja do que da construção física. Assim, passou a se dedicar mais ao conhecimento profundo da fé e da religião e, para isso, colocou em segundo plano seus estudos e escolhas sobre os conhecimentos técnicos da engenharia e da arquitetura. Ele até poderia continuar sua formação na área, mas em primeiro plano deveria estar sua vocação sacerdotal. Isso se observa em seu ideal pessoal: “Quero ser uma coluna da Igreja”.
Observando as referências e ideias citadas, podemos finalmente chegar à resposta da nossa pergunta inicial. É importante fazer aquilo que nos cabe de maneira bem feita, porém, é importante também lembrar que não é tudo que nos cabe, o discernimento auxilia a colheita de bons frutos.
* Contribuição da Juventude Masculina de Schoenstatt do regional Sudeste