“Jesus continua vivendo em nós sua vida transfigurada” (Pe. José Kentenich) [1]
Ir. M. Claudete Rauen – Celebramos hoje a Festa da Transfiguração de Jesus. Ela nos convida a dirigir o olhar para o rosto do Filho de Deus, como o fizeram os apóstolos Pedro, Tiago e João, que viram a Sua transfiguração no alto do monte Tabor. Recordamos a cena bíblica do Evangelho da Transfiguração (MT 17,1-13). Jesus sobe a um monte e leva consigo Pedro, Tiago e João e ali, diante deles, transfigura-se, isto é, revela, na sua humanidade, a realidade do seu ser divino. E para confirmar o que se manifestava, ouviu-se a voz do Pai que diz: “Este é o meu Filho muito amado”. Essa experiência, essa manifestação de Deus foi tão bela e tão grande que levou Pedro a exclamar cheio de admiração: “Como é bom estar aqui”. Entretanto, Jesus convida-os a seguir o seu caminho.
Qual caminho? O que leva a Jerusalém.
E o que seguiria em Jerusalém?
Toda a dramática concretização do plano da salvação.
Em Jerusalém Jesus é preso, padece a horrível flagelação, é condenado e morre pregado numa cruz. Os três discípulos que o acompanharam no monte Tabor são os mesmos que estão com ele no Jardim das Oliveiras, onde tem início a via dolorosa do Salvador.
O Tabor ilumina o acontecimento do Gólgota. A transfiguração aponta o sentido da paixão como caminho para a ressurreição. Jesus, o Filho amado do Pai, mostra aos apóstolos a sua glória divina para que eles compreendam que a sua morte na cruz é a vontade do Pai à qual Ele se entrega livremente na obediência do amor.
Um fato curioso é que em algumas regiões e paróquias no Brasil celebra-se hoje a festa do Senhor Bom Jesus. A imagem que ilumina esta festa é a de Cristo preso na coluna da flagelação. Então, recordamos do momento em que Pilatos apresenta Jesus à multidão, flagelado, coroado de espinhos e vestido com o manto de escárnio e diz: “Eis o homem!”
Cristo é o filho que se sacrificou por amor a nós, pois o seu sacrifício foi um ato perfeito de doação ao Pai pela salvação da humanidade. O Pe. José Kentenich ilumina este acontecimento da vida de Jesus. Ele diz: “Vejam também aqui: o caminho para o divino irromper nele (Jesus) é a vida de natureza sacrificada. O sofrimento não pode ser separado da transfiguração. Vemo-lo diante de Pilatos. Como a sua natureza está sacrificada”.[2]
Ao contemplar Jesus em sua natureza sacrificada, podemos perceber que também na dor, Ele se revelou como o Filho Tabor, o Filho amado do Pai. Como filhos Tabor partilhamos da vida de Cristo, também do seu aniquilamento. Inseridos nele pelo nosso Batismo, também nós vivenciamos momentos de Tabor e momentos de Gólgota, até que um dia, possamos gozar a plena transfiguração. O Tabor, onde é bom estar, não é a meta final. É prenúncio da ressurreição e antegozo do Reino que só podemos alcançar seguindo o caminho do Filho muito amado que, do Tabor, conduz ao Gólgota.
Família Tabor transfigura hoje a realidade
Como portadores da herança e da missão que o nosso Pai e Fundador, o Pe. José Kentenich, nos deixou, somos desafiados a empenhar-nos na grande tarefa de transformar o Brasil num único Tabor de Cristo e de Maria. Esta tarefa será realizável somente se somarmos todas as forças como Família de Schoenstatt.
Chamados a transfigurar a realidade hoje
Somos transfigurados, porque pelo Batismo participamos da vida de Cristo. Somos revestidos de Cristo e nEle nos tornamos uma nova criatura. O nosso caminho não é o de filhos desfigurados, mas sim, salvos, porque Cristo, pela sua paixão e morte e ressurreição, pagou o preço pela nossa libertação e introduziu-nos na sua vida transfigurada.
Neste tempo de pandemia onde fazemos a experiência da dor e do sofrimento, onde nos sentimos vulneráveis, dominados pelas incertezas, pela insustentabilidade política e econômica, tendemos ao desânimo. Celebrar a Festa da Transfiguração move-nos a olhar ao alto, para Jesus, o Filho amado do Pai, e a deixar-nos usar como instrumentos de transfiguração, preenchendo todos os espaços onde estivermos e atuarmos com a certeza da vitória de Cristo.
Geralmente não se trata de fazer coisas extraordinárias, mas de cumprir bem e com amor nossos deveres de cada dia. E ver esses afazeres diários, por mais monótonos ou pesados que sejam, à luz e ao serviço da grande missão, porque se tornam contribuições para o Capital de Graças que Deus nos pede nesse momento, para construir um mundo novo.
[1] 3 de setembro de 1947, citado em Tabor nossa Missão
[2] 2 de setembro de 1947, citado em Tabor nossa Missão, p.108