As notícias da semana e nossa missão pela Aliança de Amor
Karen Bueno – Algumas histórias na bíblia mostram um jeito peculiar que Deus se utiliza para revelar seu cuidado e sua paternidade. O que será que passou na cabeça de José, do Egito, quando seus irmãos o jogaram num poço e depois o venderam como escravo? Será que ele conseguia ter sonhos, esperança, confiança?
E a pecadora, no Novo Testamento, diante dos seus acusadores, na mira das pedras: o que pensou? Haveria um “fio de esperança” em seu coração?
Olhando com “os olhos humanos”, tudo parecia perdido para os dois!
Talvez seja dessa forma que algumas pessoas se sentem hoje, lendo e ouvindo as notícias recentes de vários recantos do mundo. “Esperamos que depois deste momento inicial de crise, no qual só estamos vendo escuridão, se abra algum vislumbre de luz”[1], desabafa o Pe. Matteo Sanavio, presidente de uma associação católica de apoio a crianças em Cabul, no Afeganistão.
As notícias dessa semana trouxeram (ou deveriam trazer) uma mistura de compaixão, empatia, solidariedade, amor ao próximo… Alguns cantos do planeta, como o Haiti, tiveram sua história marcada por eventos desastrosos aos nossos olhos humanos, chegando ao marco de 2000 pessoas soterradas sobre escombros. No Brasil, a realidade também inquieta, afinal, a insegurança política, econômica, social é inflada pelas polarizações e confrontos entre diferentes linhas de pensamento: “Diálogo? Que palavra é essa?” – parece que deixou de existir no dicionário de muitos brasileiros.
Todos esses episódios de sofrimento não são teoria, são realidade. No entanto, olhando mais uma vez para a Bíblia, muitas vezes encontramos Deus agindo “nas” e “por meio das” situações mais conflituosas. E não trazemos isso como uma forma de justificar ou amenizar o mal, mas como forma de direcionar os olhos para o divino que atua também por meio desses escombros.
Eu não posso fazer nada?
Olhando nos olhos da nossa MTA, no Santuário, essa pergunta escapa quase que instintivamente: “Eu não posso fazer nada?”
Bem, não é possível à maioria de nós, por exemplo, ir ao Afeganistão e trazer “na bagagem” os diversos homens e mulheres que sofrem. Também não há como impedir novos furacões de avançarem sobre o Haiti. Mas a pergunta continua gritando: “Eu não posso fazer nada?”
Numa reflexão, o Padre de Schoenstatt chileno Humberto Anwandter, já falecido, disse: “O mundo normaliza-se a partir de nós mesmos. Nem todos, nem cada um de nós, pode mudar o mundo. Mas cada um de nós pode mudar o seu mundo, o seu mundo pessoal, mediante o esforço da sua autoeducação e, por ela, o meio em que vive: sua família, seu ambiente de trabalho, seu ambiente social. Ali podemos atuar no sentido da nova ordem social”.
Parece pouco? Talvez seja realmente, diante de tanta dor que esses povos enfrentam. Mas, é preciso lembrar que, sob o olhar da Mãe e Rainha, as menores ofertas de amor se transformam em graças para o mundo todo.
É interessante lembrar, aqui, uma história conhecida sobre a infância de Santa Teresinha – a quem o Pe. José Kentenich chama de “primeira schoenstattiana”, pois viveu a filialidade de maneira singular. A menina Teresa nunca se encontrou pessoalmente com Henri Pranzini, um prisioneiro acusado de matar duas mulheres e uma criança. Mas a notícia sobre ele, nos jornais, a tocou. Mesmo com a condenação à morte, Henri não se mostrava arrependido. Foi então que Teresa decidiu rezar e oferecer sacrifícios para a salvação da alma deste prisioneiro. “Eu queria a todo custo impedir que ele caísse no inferno… Sentindo que por mim mesma não podia fazer nada, ofereci a Deus todos os infinitos méritos de Nosso Senhor, os tesouros da Santa Igreja” [2], ela conta. Pouco antes de ser executado, Henri pediu e beijou o crucifixo três vezes, demonstrando sua conversão.
Quando Teresa fala sobre os “tesouros da Santa Igreja”, está se referindo aos méritos que Cristo conquistou para a humanidade. Nós, do Movimento de Schoenstatt, temos uma missão especial de incluir neste tesouro nossas humildes ofertas – é o que chamamos de “Capital de Graças”. Teresinha não viu o assassino, não falou com ele, nem esteve próxima deste homem, mas foi capaz de mudar sua história “à distância”, por meio das orações e dos sacrifícios que ofereceu na intenção dele. Hoje existem muitos “Henris” no mundo – seja no Afeganistão, no Haiti ou mesmo aqui no Brasil –, que precisam de “Teresas” para acompanhá-los espiritualmente.
Podemos descobrir formas práticas de ajudar aos que sofrem, por exemplo, enviando contribuições materiais, alimentos e remédios, mas também podemos levá-los diante da Mãe de Deus, que, com nossa ajuda, derrama suas graças pelo mundo todo. Em meio a este tempo, ela nos diz: “Em meu coração a luz dissipa toda a escuridão. Não te esqueças: ESTOU SEMPRE CONTIGO!” (canção de coroação internacional).
[1] Entrevista para a Rádio Vaticano – Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2021-08/afeganistao-padre-sanavio-suspensas-as-atividades-sociais.html
[2] A História de uma Alma