“Quanto mais idosos somos, mais jovem deve ser o coração”[1]
Ir. M. Flávia Victor Dias – “Eu conheço uma jovem em plena adolescência, é uma adolescente especial. A situação é difícil, porque todos em casa trabalham para ganhar: o pai trabalha fora, a mãe precisa trabalhar fora e ninguém tem tempo para uma jovem dessa idade. Os irmãos mais velhos (também) trabalham fora. Quando ela chega em casa e termina os trabalhos escolares, vai ter com a avó e ajoelha-se espontaneamente junto dela. A avó começa a contar histórias e a menina não se sacia de escutar”.[2]
O Pe. José Kentenich contou esse caso há vários anos; é uma história que bem podia fazer parte da rotina de tantas famílias hoje.
No entanto, com a pandemia, veio também o distanciamento social para se evitar a propagação do vírus. Com ela, a população de risco deveria ficar isolada para sua proteção; essas foram medidas preventivas muito importantes. Mas, pensamos que isso duraria pouco tempo e, infelizmente, essa situação perdura há muitos meses. Dessa forma, nossos idosos sentem o peso da solidão, o peso de não vivenciarem o contato com seus entes queridos, com seus amigos e, mais ainda, de ouvirem, dia após dia, que muitos partiram e eles nem puderam dizer adeus. Vivemos o grande desafio: como preencher essa solidão? Como se sentir útil neste cenário atual?
O Santo Padre, o Papa Francisco, em sua mensagem deste ano para o Dia Mundial dos Idosos e Avós, tem a dica acertada: “A Sagrada Escritura ajudar-nos-á também a entender aquilo que o Senhor nos pede hoje na vida. De fato, Ele manda os operários para a sua vinha a todas as horas do dia (cf. Mt 20, 1-16), em cada estação da vida”.
O Papa escreve aos idosos:
“Não importa quantos anos tens, se ainda trabalhas ou não, se ficaste sozinho ou tens uma família, se te tornaste avó ou avô ainda relativamente jovem ou já avançado nos anos, se é independente ou precisa de ajuda, porque não existe uma idade para aposentar-se da tarefa de anunciar o Evangelho, da tarefa de transmitir as tradições aos netos. É preciso pôr-se a caminho e, sobretudo, sair de si mesmo para empreender algo de novo.
Portanto, existe uma renovada vocação, também para ti, num momento crucial da história. Pode se perguntar: Mas, como é possível? As minhas energias estão acabando e não creio que possa ainda fazer muito. Como posso começar a comportar-me de maneira diferente, quando o hábito se tornou a regra da minha existência? Como posso dedicar-me a quem é mais pobre, se já tenho tantas preocupações com a minha família? Como posso ampliar o meu olhar, se não posso sequer sair da residência onde vivo? Não é um fardo pesado demais a minha solidão?
Nesta perspectiva, quero dizer que há a necessidade da sua presença para se construir, na fraternidade e na amizade social, o mundo de amanhã: aquele em que viveremos – nós com os nossos filhos e netos –, quando se aplacar a tempestade. Entre os vários pilares que deverão sustentar esta nova construção, há três que você – melhor que outros – pode ajudar a colocar. Os sonhos, a memória e a oração. A proximidade do Senhor dará – mesmo aos mais frágeis de nós – a força para empreender um novo caminho pelas estradas do sonho, da memória e da oração. Quem, senão os jovens, pode agarrar os sonhos dos idosos e levá-los adiante? Mas, para isso, é necessário continuar a sonhar: nos nossos sonhos de justiça, de paz, de solidariedade reside a possibilidade de os nossos jovens terem novas visões e, juntos, construirmos o futuro. É preciso que você testemunhe a possibilidade de se sair renovado de uma experiência dolorosa. E tenho a certeza de que não será a única, pois, na sua vida, serão tantas e sempre conseguiu triunfar delas. E, dessa experiência que teve, se aprende como sair da provação atual. Nisto se vê como os sonhos estão entrelaçados com a memória. Penso como pode ser de grande valor a memória dolorosa da guerra, e quanto podem as novas gerações aprender dela a respeito do valor da paz. Recordar é uma missão verdadeira e própria de cada idoso: conservar na memória e levar a memória aos outros. Por fim, a oração. Como disse o meu predecessor, Papa Bento (um idoso santo, que continua a rezar e trabalhar pela Igreja), ‘a oração dos idosos pode proteger o mundo, ajudando-o talvez de modo mais incisivo do que a fadiga de tantos’ Disse-o quase no fim do seu pontificado, em 2012” [3]
Que ensinamentos valiosos nos deu o Papa Francisco. Muitos podem até pensar que o idoso já não tem uma missão ou uma tarefa e o Papa, com sua sabedoria que vem de Deus, nos mostra a importância e o grande papel que ele pode e deve desempenhar na sociedade, iniciando no seu lar. Se você tem um idoso em casa, escute-o, abrace os sonhos dele, pois ele é alguém que já viveu e tem experiência e quer o melhor para você. Nunca te dará um conselho que ele não tenha experimentado antes.
[1] Padre José Kentenich. Às segundas-feiras ao anoitecer – Diálogos com famílias. Vol 21 – Nossa vida à luz da fé. Sociedade Mãe e Rainha. 8 de maio de 1961.
[2] Idem
[3] Papa Francisco. Mensagem para o I Dia Mundial dos Avós e dos Idosos – 25 de julho de 2021