Dia do Professor – uma missão à luz da pedagogia de Schoenstatt
Andréia Janice Piovesan – Chegado o Dia do Professor, 15 de outubro, nós, educadores schoenstattianos, temos a oportunidade de refletir sobre nossa prática à luz da pedagogia de Schoenstatt e dos ideais de nosso fundador, Pe. José Kentenich. A prática pedagógica é imensamente desafiadora, de modo especial neste momento de pandemia ou pós-pandemia. A educação precisou ser reinventada e a pessoa do educador, seus princípios e propostas, totalmente alterados, bem como os educandos, que precisaram crescer em autonomia e autodisciplina. Ao retomarmos às nossas escolas presencialmente, criou-se o chamado “novo normal”, com a prática remota ainda vigorando para alguns alunos e para algumas tarefas.
Como educador, ter presente os princípios da pedagogia schoenstattiana representa um “norte”, um caminho seguro a seguir. Entre as muitas contribuições de nosso fundador, o conceito de “liberdade” ganhou uma expressão muito profunda na atual realidade. Vale salientar que esse conceito representa, de forma concreta, o princípio da escolha, da responsabilidade e da autonomia. Na história recente, nunca precisamos contar com o protagonismo dos educandos com tanta concretude como agora. A compreensão e a aplicação desse conceito, na prática da sala de aula, representa um “trunfo” para nós professores, uma vez que nos tira a responsabilidade total pelo processo de ensino-aprendizagem, remetendo ao educando a sua contribuição responsável nesse processo.
Foi assim também na história de Schoenstatt
Na relação de nosso fundador com os seminaristas a ele confiados, o tema “liberdade” surge como resposta aos anseios desses jovens, porém, Pe. Kentenich pede prudência “vamos caminhar para a liberdade, mas vamos devagar”. O Pe. Antônio Bracht aponta uma reflexão que pode ser traduzida para o ambiente escolar, no cotidiano da sala de aula, ao citar que “a confiança possibilita a liberdade” [1]. A relação de confiança entre educador e educandos é um dos grandes ensinamentos da pedagogia de Schoenstatt para o professor de ontem e de hoje.
Se no período de fundação da Obra de Schoenstatt enfrentavam-se os desafios do rigor das regras e da disciplina, hoje enfrentamos o oposto. Como conquistar a confiança de educandos, especialmente adolescentes e jovens, muitas vezes despidos de regras? A sociedade atual prevê na individualidade, no egoísmo e na exploração do outro o caminho para a satisfação. Como um professor, inspirado na pedagogia schoenstattiana, pode se posicionar frente à esse contexto?
Mais uma vez, nosso fundador nos inspira em sua apresentação inicial como diretor espiritual dos seminaristas, ao afirmar: “Estou inteiramente à vossa disposição com tudo o que sou e tenho: com meus conhecimentos e capacidades e com minhas limitações; mas, sobretudo, vos pertence o meu coração”.[2]
Como professora há 18 anos, sempre em contato com adolescentes, relembro as inúmeras dificuldades enfrentadas nessa trajetória. Desde o início de minha carreira profissional, tive uma entrega simples e inconsciente de minha profissão à Mãe Três Vezes Admirável, antes mesmo de ingressar no Movimento, apenas como peregrina do Santuário Tabor Porto do Céu, de nossa Diocese de Frederico Westphalen/RS.
Ao ingressar na Liga de Famílias, fui logo atraída pela vida e obra de nosso fundador e, aos poucos, fui tentando trazer algumas dessas abordagens em minha prática, mesmo com muitas limitações, visando de forma muito humilde a busca da santificação de meu trabalho, a chamada busca pela “santidade de todos os dias”.
Com o tempo, passei a utilizar com meus alunos de ensino médio, de forma adaptada, a saudação que nosso fundador fez aos seminaristas e que já lemos acima: “Estou inteiramente à vossa disposição com tudo o que sou e tenho: com meus conhecimentos e capacidades e com minhas limitações; mas, sobretudo, vos pertence o meu coração”.
Percebi que essa saudação, associada a práticas de desenvolvimento da “verdadeira” liberdade pregada por Pe. Kentenich, trouxe um efeito muito positivo para os educandos, mas muito maior para mim, como professora. Ao expor minhas limitações e meu coração, quando o que esperavam era só conhecimento, abri a porta para a aproximação e a disponibilidade mútua de crescimento. Mais ainda, retirei de meus ombros a obrigação de sempre ter as respostas, de nunca decepcionar, de sempre estar no comando. Expor nossas fragilidades e, mais ainda, deixar os outros aprenderem com elas, é libertador, tanto para nossa vida pessoal, como profissional.
A pedagogia schoenstattiana se tornou a minha base como educadora, tanto no relacionamento com meus alunos, como na educação de minhas filhas. Com uma filha de 12 anos, que também é minha aluna, e outra de 6 anos, os ensinamentos pedagógicos de nosso fundador se traduzem como prática, como forma de disciplina para a autonomia e para a responsabilidade. Essa proposta é uma resposta aos novos tempos e nos faz refletir em mais um 15 de outubro, Dia do Professor, sobre nossa responsabilidade de educadores schoenstattianos.
[1] Artigo “Liberdade: duas maneiras de viver e interpretar”, de 22 de abril de 2020
[2] Documento de Pré-Fundação de Schoenstatt