“Senhor, dá que, em toda parte, eu creia que tu me amas como a preciosa pupila dos teus olhos” (Rumo ao Céu, 388)
Estamos encerrando um ciclo e iniciando um novo tempo: Como você enxerga o mundo, as pessoas e a realidade que te cercam? O Pe. José Kentenich, em sua concepção pessoal, classificava três formas diferentes de olhar e encarar a realidade: com o olhar de mosca, com o olhar de anjo ou com o olhar divino.
Por meio de cada um deles é possível compreender as pessoas, os lugares, as situações, a vida de formas diferentes. Vejamos quais são…
Olhar de mosca
“A que olhar nos referimos, quando falamos do ‘olhar de mosca’? Ao olhar sensível, ao olhar exterior que temos em comum com os animais” – é assim que o Pe. Kentenich explica aquilo que ele chama de “olhar de mosca”, ou “olhar de animal”.
O que isso quer dizer? Mesmo pequena em tamanho, a mosca tem olhos muito desenvolvidos, com cerca de 4 mil facetas (“omatídeos” é o nome científico dessas facetas). Seu ângulo de visão alcança praticamente 360 graus.
Apesar disso – explica o Pe. Kentenich – a mosca (ou os outros animais) é capaz de ver somente aquilo que está colocado à sua frente, o exterior. “Nosso olhar natural é semelhante. Só vemos as coisas exteriores, palpáveis, não vemos o que está por trás das coisas”.
Por exemplo: Com o olhar de animal ou de mosca, vemos apenas a beleza exterior, a força física, a aparência. É um olhar superficial, que se prende ao visual.
Esse é o primeiro estágio da visão. Mas, como podemos ir mais a fundo, como conscientizar-nos e captar as faculdades espirituais?
Olhar de anjo
A segunda definição que o Pe. Kentenich apresenta é o “olhar de anjo”, ou “olhar divino”.
Assim ele explica para um grupo de casais: “Vejo, por exemplo, que minha esposa é inteligente, ou que meu esposo revela muitas capacidades. Dia por dia ou dou-me conta de que o coração da esposa é bondoso. Como vejo tudo isso? Com o olhar espiritual”.
O “olhar de anjo” vai além do físico, ele abrange uma inteligência mais racional e exige ver mais do que apenas a aparência – é necessário captar a essência. Com esse olhar, é possível descobrir os dons, as qualidades da pessoa e das situações.
Olhar divino
Temos ainda um terceiro olhar – diz o fundador – o “olhar da fé” ou “olhar divino”. Ele quer dizer que pela fé que nos é infundida no santo Batismo, assumimos o modo de pensar de Deus.
O olhar da fé permite contemplar mais que os dons e o que há de positivo nas pessoas e nas situações. Ele leva a descobrir aquilo que há de divino nelas. “Com o olhar da fé vejo que o outro participa da natureza divina, que é habitado pela Santíssima Trindade”, diz o Pe. Kentenich.
Utilizando os “óculos da fé”, enxerga-se cada situação segundo o olhar de Deus. É estar atento ao que a Divina Providência desenha no dia a dia: “Se o olhar de fé estiver preparado e capacitado, verá sempre a vida divina no outro, o Deus Trino à transparência do terrestre”. Essa forma de olhar a realidade está ligada ao que chamamos de “fé prática na Divina Providência”, pois é um exercício constante de encontrar Deus em cada realidade, mesmo nos momentos difíceis.
Olhos que irradiam calor
Schoenstatt é a terra “onde olhos brilhantes irradiam calor”, diz o Hino da Minha Terra. E esse olhar – que passa pelos três estágios – é reflexo do interior. Do Santuário e pela autoeducação, a Mãe de Deus ajuda a cultivar olhos divinos, que permitem ver o que há de sagrado em cada situação da vida, em cada pessoa ou lugar.
“Em ti, quero orientar-me sempre no Pai, renunciando ao abrigo deste mundo; voltar ao lar, em sagrada união contigo, os olhos presos nas mãos e no olhar da Mãe” (Rumo ao Céu, 303).
Referências:
Pe. José Kentenich. Às Segundas-feiras ao Anoitecer, vol 21 – Diálogos com famílias, Nossa vida à luz da fé. Sociedade Mãe e Rainha. Santa Maria/RS: 2008.
Conferência de 17 de abril de 1961, em Milwaukee/EUA – Superando dificuldades concretas no Matrimônio
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