A que eu dou mais importância? O que é o mais importante em nossa vida?
Pe. Carlos Padilla Esteban – O primeiro domingo do Advento começa com um pedido de Jesus: “Portanto, ficai atentos (velai) e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem” (Lc 21, 36). Velar, esse verbo sempre me inquieta. É difícil para mim velar. Custa-me estar de pé, sem adormecer. É difícil levar a vida velando em silêncio, acordado, sem fazer nada. Velar, este verbo tem algo que transmite paz: a mãe que vela por seu filho adormecido; aquele que ama velando ao seu amado enfermo. Não há palavras, só o silêncio e o coração que vela, esperando a quem se ama. O gesto de velar tem a ver com a espera, com a paciência que tanto me falta. Tem a ver com esperar por uma vida melhor e mais plena, com viver em uma profundidade que me falta. Velar. Sem adormecer em meu comodismo, em minha passividade. […]
O amor tem como semente a espera. Aguarda pacientemente. Ele não conhece a impaciência. Vivo em uma sociedade enferma, assim como eu mesmo. Uma sociedade impaciente. Eu me acostumei com o imediatismo. Eu quero tudo agora, já, nesse instante. Sonho com a rapidez. Não há amanhã, não existe depois, tudo tem que ser agora, que é quando faz falta: neste instante. […] Por que velar então? Porque o amor sabe esperar. Espera e acompanha. Velar é isso. Não só esperar algo bom. Velear é estar com aquele que sofre, sem pretender curá-lo com a mera presença. Velar é acompanhar quem morre. Ou acompanhar quem vive. É estar em silêncio com quem chora. Palavras não são necessárias para manter uma boa vigilância. Eu fico com quem eu amo por amor. Eu permaneço porque meu amor é fiel e criativo. […] Gosto dessa espera “infrutífera”: é o amor que aparentemente nada produz. É um exercício maduro do amor. Uma fidelidade sadia que me faz mais profundo. Na espera, me desprendo de minhas pressas, dos meus medos, das minhas pretensões. Nada produzo, nada faço de importante aos olhos humanos. Estou simplesmente lá, amando. […]
Jesus me pede para ir com a alma leve. Ele não quer que o meu coração fique pesado e duro: «Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós» (Lc 21, 34). Jesus me pede que cresça no amor neste Advento: “O Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais, a exemplo do amor que temos por vós” (1Ts 3, 12). Ele me quer mais leve do que tudo que me endurece e me pesa, mais livre para amar com toda a minha alma, com todas as minhas forças. Eu me pergunto: o que pesa em meu coração? São muitas coisas. A dor dos meus pecados. Meus apegos desordenados. Minhas metas não cumpridas. Meus medos que não me deixam voar mais alto… As preocupações da vida têm muito peso.
Começa a preparação para o Natal. Quero que este ano seja diferente. Não a tantas comidas, sim a mais coisas verdadeiras. Não a tantos presentes inúteis, sim a mais entrega da minha vida. Menos “andar de um lado para o outro” com a correria do Natal. Sim a uma vida tranquila junto à criança de Belém. Paciência e espera. A paz da alma e a calma que tanto desejo. Que Jesus venha para mudar minhas prioridades. A que eu dou mais importância? Tenho tão invertida a ordem dos meus desejos: coloco na frente o que eu não amo de verdade e, atrás, aquilo que acredito poder esperar, sendo que isso é o que realmente importa para mim. As promoções do momento me tiram o sono e compro tudo o que não preciso, o que não é necessário para minha vida agitada.
Eu me detenho diante de uma mesa vazia. Quero começar com meu presépio. Uma gruta. Alguns pastores. O castelo de Herodes. Casas dispersas pela montanha. Uma estrela que anuncia a chegada. Ao longe coloco os reis magos. E então ovelhas, muitas ovelhas. E a noite estrelada. E na gruta um boi e uma mula – que aguardam, que velam, como os pastores que cuidam do rebanho. E José e Maria caminhando em direção a Belém. Maria grávida. Eles caminham devagar. Tudo está lento no meu presépio. Algo estático. Mas gosto de olhar para o anjo, que canta em voz baixa. E logo os pastores, que parecem mais amigáveis do que o esperado. E as ovelhas. E a palha que mantém o calor da criança. Como minha própria vida. É um longo caminho para chegar a Belém. É um pouco mais de três semanas. Eu quero me colocar a caminho. Esvazio minha alma para que fique mais leve. Eu não estou com tanta pressa, mas eu quero andar sem parar. O amor arde dentro de mim com mais força do que antes. É o que peço a Jesus, que me ensine a amar com as mãos abertas. Sem pressa. Sem parar. É assim que quero começar esse longo caminho.
Leituras deste Domingo:
1ª Leitura – Jr 33, 14-16
Salmo – Sl 24
2ª Leitura – 1Ts 3, 12-4,2
Evangelho – Lc 21, 25-28.34-36
Trecho da homilia para o I Domingo do Advento, de 2 de dezembro de 2018.
Para ler na íntegra, em espanhol, clique aqui: https://drive.google.com/file/d/151OGJ1YlbUNgeNZ8nXIKAylvMWwrjFxo/view
Bom dia
Que lindas colocações sobre o l Domingo do Advento!!!!!
Seria possível enviar sobre os demais Domingos do Advento ? A continuação deste mesmo ano Dezembro de 2018?
Ficarei muito feliz.
Deus esde já gratidão.