Que sejamos transfigurados em um vinho novo
Pe. Filipe de Freitas Araújo – O evangelho deste domingo nos traz uma cena bastante conhecida por todos nós: é o casamento em Caná da Galileia, as bodas de Caná.
Jesus, sua mãe e seus discípulos são convidados a participar deste casamento, no qual acontece uma situação bastante complicada para os noivos, uma situação que, naquele contexto cultural, era bastante vergonhosa: faltou vinho!
O vinho aqui, além de toda essa situação cultural, traz uma simbologia importante para o evangelho de João. Ele, que é símbolo da alegria na festa, representa muito mais do que isso no evangelho. É o vinho “daquilo que aconteceria”, que seria servido no banquete messiânico.
No contexto bíblico, o vinho traz a simbologia da aliança com Deus, a simbologia da vinda do Messias, a simbologia da abundância. E, por isso, quando Jesus transforma a água em vinho, ele transforma não só uma quantidade normal, mas uma quantidade abundante. São muitos litros de vinho que aparecem naquela festa, que são transfigurados, transformados. Aqui, então, nós vemos que a simbologia das bodas de Caná nos ajuda a viver o nosso ideal Tabor na prática.
As bodas de Caná e o Ideal Tabor
Por um lado, temos a presença de Jesus: o Tabor bíblico, o Tabor do filho heroico. Nós queremos que Jesus se transfigure em nossa vida, que ele nos ajude a transfigurar a nossa própria realidade. Queremos viver um Tabor no qual Jesus se faça presente: ele se coloca no centro e nós o colocamos no centro e pedimos que ele nos ajude a transfigurar as nossas próprias vidas, a nossa família, o nosso modo de viver a realidade ao nosso redor.
Por outro lado, está presente o Tabor das glórias de Maria. A grande glória de Maria é que o seu filho se transfigure, apareça em nosso meio, se faça presente. É por isso que nós selamos uma Aliança com ela, para que ela nos ajude a fazer com que o nosso coração seja mais semelhante ao coração de Jesus, para que ela nos ajude a transfigurar a realidade ao nosso redor segundo os critérios de Jesus.
Maria antecipa a hora
Por mais que Jesus, nas bodas de Caná, tenha dito que sua hora ainda não chegou, Maria é aquela que adianta a hora do Senhor, que o conduz a realizar o seu primeiro milagre e a iniciar o seu ministério público – a iniciar essa era messiânica, a era do Messias. Ela é aquela que adianta a hora e, portanto, nós, a sua Família Tabor, podemos confiar a ela que essa transformação em Jesus aconteça também hoje em nossa vida. Por mais que a gente sinta que a nossa hora também não chegou, ela pode adiantar a nossa hora. O Tabor, então, se vive na prática, deixando que Jesus e Maria realizem esse milagre de transformação em nossa vida, abrindo o nosso coração para esse milagre de transformação.
Mas, também, a exemplo daqueles que serviram a água, precisamos ajudar aqui, na prática, para que esse milagre aconteça. O milagre nas bodas de Caná não aconteceu sem que antes os discípulos, aqueles que serviram o vinho, pudessem colocar a água na frente de Jesus. Era necessário que a água fosse colocada. Portanto, viver o Tabor na prática é colocar diante de Deus toda a nossa realidade, todo o nosso desejo de ser transformado, transfigurado, mas não só o desejo, também as ações, nossas ofertas ao Capital de Graças, as nossas obras de caridade, as nossas obras de autoeducação.
Como está nossa água hoje?
Tudo aquilo que nós formos fazendo em nossa vida é a água que nós colocamos para que Jesus transfigure, transforme. Assim, a transformação da água em vinho é também uma transfiguração pessoal e comunitária pela qual nós precisamos passar. É Jesus que tem o poder de transformar, mas nós colocamos a água.
Essa transfiguração pessoal que nós precisamos passar em nossa vida – cada um de nós sabe muito bem aquilo que precisa ser transformado – é o que pode ajudar para que a nossa vida se transfigure, se transforme em um Tabor.
Revisando: Como as bodas de Caná nos ajudam para que a nossa transfiguração pessoal aconteça? Nós já falamos aqui algumas coisas: o auxílio de Maria, mas também o nosso esforço pessoal.
Também podemos contar com a ajuda dos nossos amigos, da nossa família – e a ajuda que nós damos a eles. Tudo isso são formas de encontrar a era messiânica em nossa vida, de encontrar a hora adequada, o momento oportuno: O momento oportuno é agora! É agora que nós podemos colocar diante do Senhor toda a água da nossa vida:
- Às vezes uma água um pouco mais turbulenta, um pouco mais suja, cheia de minérios, uma água que precisa ser filtrada, decantada: são os nossos pecados, as nossas limitações, aquilo que ainda não está muito bem em nossa vida.
- Mas, às vezes, uma água pura, uma água límpida, que já passou por certa purificação: os nossos propósitos, as nossas alegrias, aquele desejo pela santidade que nós cultivamos em nosso interior, aqueles passos que nós já demos rumo à santidade.
Cada um sabe a água que pode apresentar ao Senhor neste momento. E é essa água que será transfigurada em vinho: o vinho da alegria, o vinho da salvação, o vinho que em cada eucaristia é transformado no sangue de Jesus, no sangue do Messias, que foi derramado para nossa salvação, o vinho que é símbolo dessa vida em abundância que Jesus nos dá, o vinho que, além disso, é servido junto com Maria, em uma vida de Aliança de Amor com ela, em uma vida que busca sempre a santidade.
Pe. Filipe de Freitas Araújo
Instituto Secular dos Padres de Schoenstatt