O que representa a Cruz da Unidade para nós, schoenstattianos?
Marcelo Mafra – A Cruz da Unidade já se tornou um patrimônio universal da Igreja. Nasceu dentro da Família de Schoenstatt e hoje está presente em nossos Santuários e Santuários Lares. Inúmeras pessoas a trazem no peito, muitos como expressão de sua Aliança de Amor. Ela expressa, juntamente com a Lâmpada da Missão, a expressão simbólica do nosso Jubileu.
Ao olharmos para a Cruz da Unidade, vemos também a expressão do Cristo Tabor. No alto do monte Tabor, Cristo resplandecente anuncia aos apóstolos a forma de como seria sua glorificação.
Maria, formada por Cristo e formadora de Cristo em nós, está presente no momento da glorificação do seu filho no alto do Calvário, representando cada um de nós. A glória também percorre o caminho do sacrifício. “Sem sacrifício não existe glória!”
História da Cruz da Unidade
A Cruz da Unidade foi criada no Brasil, em Santa Maria/RS, pelo Pe. Angel Vicente Cerró (chileno de origem), no período em que ele estudava junto com outros seminaristas chilenos, entre os anos de 1959-1960.
Este grupo queria presentear ao Santuário da Mãe e Rainha, em Bellavista, cidade de Santiago do Chile, um crucifixo que expressasse a imagem de Cristo, que o Pe. José Kentenich ensinava para a Família de Schoenstatt.
Os futuros sacerdotes escreveram atrás da cruz “Unum in Sanguine +Tua res agitur +Clarifica-te” para expressar a solidariedade de destinos que os unia com Cristo e Maria, com o Pai e Fundador e entre eles. O pensamento central seria o Cristo dos Vínculos. É o Cristo que, na força do Espírito Santo, está profundamente e intimamente vinculado a Maria, sua Mãe, constituída como colaboradora e companheira permanente em sua missão redentora do homem.
Entre os anos 50-60, a Família de Schoenstatt passava por momentos desafiadores em diversos países, pois era ainda uma espiritualidade nova e, em alguns momentos, pequenos fatos geravam grandes tensões. No Chile, em Bellavista, havia uma separação em dois grupos na Família de Schoenstatt naquele tempo.
O grupo de seminaristas que estudava no Brasil levou a cruz, recém-criada, para o Chile, na ida para as férias de verão. Nesse período aconteceu o “milagre” que ficou conhecido como “Milagre da Unidade”.
O Pe. Humberto Anwandter, primeiro sacerdote ordenado dessa geração, celebrou a primeira missa no Santuário da Mãe e Rainha no dia 24 de dezembro, véspera do dia de Natal do ano de 1960. Nessa noite, coloca a Cruz sobre o altar do Santuário, com o pedido pela unidade da Família em plena unidade ao Pai e Fundador, pois, sendo fiéis a ele, seriam fiéis à fundação que Deus havia realizado por meio dele.
E o milagre aconteceu. As hostilidades mútuas acabaram e voltou a unidade local da Família de Schoenstatt. Por isso, vem o nome de Cruz da Unidade. Também foi usado o nome, menos conhecido, de Cruz de Bellavista.
A Cruz da Unidade na atualidade
A Cruz da Unidade é, atualmente, uma das cruzes mais difundidas em todo o mundo e usada por muitos católicos e comunidades religiosas, que, às vezes, não conhecem a história de origem dessa cruz.
Ela foi presenteada ao Papa Paulo VI no ano de 1972, na festa de Pentecostes. O Papa João Paulo II recebeu uma Cruz da Unidade de presente no dia 29 de novembro de 1980 dos Padres de Schoenstatt. Também o Papa Francisco recebeu uma.
A Presidência Internacional da Obra de Schoenstatt fez a introdução oficial no Santuário Original no dia 18 de outubro de 1997, em preparação ao terceiro milênio do cristianismo. Em todos os Santuários da Mãe e Rainha no Brasil a Cruz da Unidade está sobre o tabernáculo
Teologia – Cristo dos Vínculos
A Cruz da Unidade é portadora de uma grande simbologia cristologica e mariana. No monte Tabor: “Este é meu Filho muito amado, em quem me comprazo, ouvi-o!” (Mt 17,1-9).
Os apóstolos escutaram essa voz e ficaram admirados com todo o ambiente que se tinha produzido. Nunca tinham visto algo tão divino e maravilhoso e ali gostariam de permanecer. Foram admoestados pela voz, que este homem, que eles acompanhavam, era o Filho Amado a quem eles deveriam escutar. Isso uniu-os mais entre si e com Jesus. Ao descer do monte Tabor, Jesus esclarece aos apóstolos, que estavam maravilhados, que eles deveriam guardar silêncio deste acontecimento até que ressuscitasse dos mortos. Jesus anuncia-lhes de que forma será sua glorificação, por meio da morte – e morte de cruz.
É o monte Tabor unido com o monte Calvário. A glorificação unida com a morte e ressurreição. Essa ressurreição os apóstolos não compreendiam (Lc 9,10).
A Cruz da Unidade quer expressar o Cristo dos Vínculos. Vínculo é a grande carência do mundo atual. Mesmo com o excesso de meios de comunicação, os quais facilitam o diálogo, os contatos, os homens vivem uma solidão existencial pela falta de vínculos. Cristo responde a carência de todas as épocas.
A Cruz não separa a dimensão natural da dimensão sobrenatural. Ela quer expressar a organicidade e unidade entre os dois mundos, que também algum dia todos os homens vão participar de ambos. Nela está o Vínculo de Cristo com Maria, vínculo de Cristo com o Espírito Santo e vínculo de Cristo com o Pai.
Maria está unida a Cristo, na cruz, numa aliança indissolúvel. Maria e Cristo estão no alto da Cruz. Maria está participando do momento culminante da entrega de seu Filho no alto do Calvário. E, também, Maria participa ativamente da Igreja nascente do costado de Cristo, na Cruz. Ela é, a partir do momento da cruz, a portadora, no cálice, do sangue redentor de seu Filho para o mundo.
No monte Calvário, Maria acompanha os últimos mistérios terrenos de seu filho. Com Ela, queremos contemplar a Cristo, para amá-lo como Maria amou.
Como Maria olha a Cristo?
O que vê em Cristo?
Que sente seu coração ao olhar o Senhor?
Ela vê em Cristo:
O Filho amado do Pai.
O Filho obediente ao Pai.
O Redentor do homem.
Unir-se à Maria pela Aliança de Amor é unir-se ao mistério de Maria junto à Cruz, que assume o papel de ser a Igreja nascente. A Aliança de Amor é um crescimento em profundidade da Aliança Batismal que nos torna filhos de Deus.
Maria ao pé da cruz torna-se a Colaboradora e Companheira permanente de seu Filho; e quer fazer-nos, também, parte dessa grande missão que assumiu junto ao seu filho.
Na Aliança, por meio da mão educadora e intercessora de Maria, cresce-se na corresponsabilidade de ser um colaborador de Cristo na Obra da Redenção, tal como foi Maria, construindo a Igreja na entrega, caridade, resiliência e magnanimidade.
Os elementos da Cruz da Unidade
A Cruz da Unidade lembra uma forma oval, pois não tem pontas. Ela possui uma harmonia de desenho na qual não se contemplam “esquinas”. Essa forma ovalada quer expressar a vida orgânica existente. A cruz também, quando bem condicionada em nossa vida diária, irá produzir vida, e vida em abundância. A cruz não é sinal de morte, mas de entrega amorosa e de vida nova, a Ressurreição.
Olhando a Cruz, percebe-se no alto da mesma o olho do Pai, o Pai que acompanha todos os momentos do filho. Em Mateus (3,15) Deus Pai se refere ao seu filho: “E do céu baixou uma voz: Eis meu Filho muito amado em quem ponho minha afeição”. Jesus também, em várias oportunidades, referiu-se ao Pai e um dos dizeres mais fortes é quando ele menciona: “Quem me vê, vê o Pai.”
TABORfest III e a Cruz da Unidade
Quando houve a proclamação do Ideal Tabor pelo Pe. Kentenich, em 20 de abril de 1947, ainda não existia a Cruz da Unidade. Ela veio mais tarde, como um presente da Divina Providência, para trazer a paz e a unidade entre os povos, por unir o céu e a terra em um vínculo de profundo amor.
A celebração da Proclamação do Ideal Tabor, acontece todos os dias, todas as vezes que nós nos vinculamos a Cristo por Maria, revivemos a proclamação do Ideal Tabor encarnado. Esta maravilhosa realidade queremos propagar a todos os cantos do Brasil e do mais além, é essa a nossa alegria e motivação para a celebração da TABORfest III.
Viva a Cruz da Unidade! Viva o Brasil Tabor!
Referências:
Pe. Vandemir Jozoé Meister. ISch. Assessor Nacional do Terço dos Homens – Link: https://bit.ly/3gVI9rP/
Fernandez A, Rafael. El Cristo de la Unidad – Signo de Redencion. Ed. Patris, 1990, pág. 6.
Excelentes esclarecimentos, mostram o que nos une por Maria à Santíssima Trindade.