“Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!”
Karen Bueno – Na passagem da Transfiguração, há alguns elementos muito fortes que delineiam a realidade do Tabor. Um deles é a presença ‘palpável’ de Deus, que se faz ouvir dos céus: “Este é meu Filho amado. Escutai-o”. Outro fator marcante é a filialidade de Cristo diante do Pai, como um filho heroico e totalmente entregue – um no outro, um com o outro, um para o outro.
A Mãe de Deus viveu um momento singular na hora da Anunciação e, apesar dessa cena ocorrer muitos anos antes da transfiguração, traz alguns ‘traços do Tabor’, que revelam a vivência de Cristo como filho muito amado do Pai, mas também de Maria, que se faz filha heroica. O Papa Francisco escreve: “Ela vive, com Jesus, completamente transfigurada, e todas as criaturas cantam a sua beleza” (Encíclica Laudato Si, 241).
No ‘sim’ de Maria, dado ao Senhor, está seu maior testemunho de filialidade heroica vivida. Na planície da vida diária, a Mãe recebe a visita do anjo, como porta-voz de Deus Pai, apresentando a ela um fundamental convite. O Senhor fala à singela jovem, ele se faz presente naquele lugar, ele desce e passa a habitar nela. Não havia testemunhas naquele momento, mas certamente alguém que estivesse ali poderia dizer: “Façamos tendas, aqui é bom estar!”
Pe. José Kentenich dizia, na Páscoa de 1962: “Em nome de Deus, ele (o Anjo Gabriel) saudou a Bendita entre todas as mulheres, com a alegre mensagem: Ave, cheia de graça! (Lc 1, 28) Que significa para nós? Maria aparece, de modo evidente, como modelo insuperável do homem novo pascal, da nova criatura em Cristo Jesus” (20 de maio).
O ‘homem novo’, definido pelo Pai e Fundador, é justamente o filho heroico, vinculado, que busca fazer tudo o que agrada ao Pai. É aquele que tem a atitude de Cristo no Monte Tabor, que tem a atitude de Maria na hora da Anunciação.
O Pe. Kentenich, ao apontar a Fé Prática na Divina Providência como caminho para o céu, recorda que vários acontecimentos são para nós como que “saudações do anjo”, no qual Deus nos faz uma proposta. Essas são também horas de Tabor na vida diária, que somente os que se colocam na presença de Deus conseguem perceber e sentir.
No coração da Mãe de Deus, Santuário vivo, Tabor de graças, experimenta-se a hora da Anunciação, num ‘sim’ que ecoa ao Pai por todos os tempos. Ali também se aprende a ser Tabor, por isso, podemos pedir à Mãe: “Com júbilo, imerge novamente o Senhor em minha alma, para que em tudo, como tu, eu lhe seja semelhante; torna-me portador de Cristo para o nosso tempo, a fim de que resplandeça na mais clara luz do sol” (Rumo ao Céu, 89).
Um esplendoroso momento que, na sua simplicidade e obediência a vontade do Pai, muda o curso da História da humanidade.