O que ele fala sobre nossa oração pessoal?
Ir. M. Clarissa Konrad – Pe. José Kentenich fala sobre oração em muitas ocasiões. Não é de admirar, pois simplesmente era expressão da sua profunda união com Deus e com a Mãe de Deus e o transmitiu aos que lhe eram confiados.
Certa vez disse: “Grande é somente tudo o que se relaciona com Deus.” Quando voltou do seu exílio de 14 anos, disse a um grupo de pessoas as seguintes palavras, que o caracterizaram como sacerdote voltado ao mundo do além: “De mim, não ouvirão outra coisa, a não ser: Deus, Deus, Deus!”
Conscientes do que significava Deus em sua vida, podemos entender melhor o que ele nos ensina sobre oração. Lendo algumas das suas homilias, palestras, meditações, etc…entre tantas, encontramos esta definição:
Rezar “é uma elevação da alma ao Deus vivo. (…) Digamos, mais precisamente, elevação do coração ao Deus vivo. Que é a oração? Um diálogo do coração com o Deus vivo.”(1963)
Quando o Pe. Kentenich fala sobre oração, sempre fala do relacionamento filial com o Deus vivo. Para ele, Deus não é apenas uma ideia, um objeto sagrado, mas enfatiza Deus como realidade concreta, uma pessoa, o BOM DEUS.
Em agosto de 1949, em Santa Maria/RS, ele fala sobre a oração interior, para encontrar-se com o Deus vivo: “Precisamos cultivar com todo cuidado a oração interior e pessoal (…) Se não a praticarmos com todo cuidado, tornamo-nos superficiais.” (…)
Esta forma de oração dá-se sobretudo na meditação, no falar pessoal com Deus ou a Mãe de Deus. Na mesma ocasião disse: “Podemos tomar qualquer livro de meditação, porém, o livro predileto é a meditação de nossa própria vida e, nela, das misericórdias de Deus. (…) Não esqueçam, sua meditação predileta deve ser as misericórdias de Deus durante o dia.”
Em conferências no ano de 1936, Pe. Kentenich questiona, “por que ainda somos tão poucos santos(as)? Por que ainda corporificamos tão pouco os grandes ideais que temos: ideal da Família, ideal pessoal…?” Ele responde: “Em primeiro lugar posso dizer: damos demasiada importância ao saber e muito pouco ao saborear as coisas divinas.”
E explica que isso não significa não se interessar em conquistar conhecimentos sobre Deus. Em Santa Maria, em 1949, ele diz justamente que “devemos conquistar conhecimentos sólidos das verdades religiosas”, mas o decisivo é que o conhecimento leve a um maior amor. Precisamos “apropriar-nos de um saber claro e preciso”, porém, se buscamos uma vida de maior perfeição espiritual, “então também devemos deixar tempo para que o saber chegue a ser sabor.” (JK 1936) Por exemplo: alguém estuda o valor do açúcar. Isto é um saber teórico. Outro saboreia o açúcar, experimenta a sua doçura.
Uma oração assim vivenciada, leva a um contato perene e íntimo com Deus e, com o tempo, à semelhança com Ele. “Dize-me com quem andas e te direi quem és!” Esta oração transforma, transfigura, ensina a superar o homem massa; com outras palavras, nos torna filho(a)s Tabor.
Pe. Kentenich chama também a atenção para uma realidade bem concreta que, para haver uma verdadeira experiência de Deus, na oração, é necessário levar em conta dois aspectos essenciais: “O desprendimento da alma das coisas puramente terrenas e a vinculação a Deus. Ambas se requerem. O desfazer-se e desapegar-se das coisas terrenas favorece a união com Deus.” (Santidade de Todos os Dias). Os vícios e a “insaciável cobiça dos bens terrenos” causam grandes dificuldades à vida de oração. Por isso é tão importante a autoeducação, a predisposição para a renúncia do supérfluo ou as vezes até do necessário por amor a Deus e ao próximo. É sair do ‘eu’ e ir ao encontro do ‘tu’.
Além disso, apesar de todo esforço, as graças de oração precisam ser pedidas. É o Espírito Santo que clama em nós com suspiros inefáveis. (Cf Gl 4,6; Rm 8,26)
Rezamos com o Pe. Kentenich: “Senhor, ensina-nos a rezar! Cuida que recebamos de novo a fala e aprendamos a falar, de modo certo e original, contigo, o Deus Eterno e Infinito. Cuida que aprendamos a ouvir o que tu falas em nós através dos estímulos, que escutemos de novo o que nos falas através dos golpes da nossa vida, mas também, o que nos queres dizer pelas grandes aflições do tempo atual. Senhor, ensina-nos a rezar!” (18/08/1963 Milwaukee).