A importância da confissão para a preparação para a páscoa
Ana Paula Paiva – A Páscoa se aproxima. Após um longo, e oportuno, período – a quaresma – no qual fomos insistentemente convidados pela Liturgia a abandonar o pecado, a nos afastar dos vícios e nos converter para a vinda de Nosso Senhor, nossa Igreja celebrará a Paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Nesse tempo tão penitencial, é bastante conveniente que nos aproximemos de Cristo contritos pelas ofensas cometidas e que depositemos nossa confiança em Sua misericórdia e perdão.
O sacramento da confissão muitas vezes também é chamado de sacramento da penitência e da reconciliação. E assim o é. O próprio Cristo, na figura do sacerdote, se deixa aproximar por nós, miseráveis pecadores, que implorando Seu perdão e reconhecendo nossa culpa, somos tocados por Sua infinita misericórdia.
Vejam, Cristo sempre nos perdoa – a tudo nos perdoa. Não é o pecado apenas que entristece o coração de Deus, mas a distância, o desinteresse, o sentimento de autossuficiência.
A soberba dos que já não veem ofensa em nada ou que reconhecem como absolutamente relativa a Verdade revelada. Deus não nos quer humilhados, mas nos quer conscientes e arrependidos. Não nos quer subjugados, mas livremente resistentes à tentação e ao pecado, não sem falhas, não sem repetidos pedidos de perdão.
A confissão sacramental não é a evidência de um Deus que nos julga – como se ao confessar nossos pecados perante um sacerdote, que age in persona Christi, estivéssemos nos relacionando com um Deus que nos quer condenados e que anota, como que um pedacinho de papel, todas as nossas falhas. É o extremo oposto disso: a confissão de nossos pecados é a celebração alegre da volta do filho pródigo, da misericórdia, do retorno à casa. É a expressão da vontade divina em nos acolher e nos salvar.
Teologicamente, a confissão nos permite apagar a culpa amarga do pecado – e a penitência que advém dela (e das penitências que livremente nos impomos – também em relação aos pecados veniais) nos retira a pena que restituiremos a Deus no purgatório (assim como as indulgências plenárias).
Quando devemos nos confessar? Sempre que estivermos em estado de pecado mortal. O pecado mortal mata nosso vínculo de amor com Deus, nos disse certa vez o Fundador. Nos condena e nos impede que a luz de Cristo brilhe em nós. Santa Teresa D’Ávila dizia (no livro Castelo interior ou moradas) que o precioso diamante que brilha no íntimo de nossa alma – e que reflete o Sol que é Deus – presente no centro do nosso Castelo, tem como que um pano podre e sujo por cima dele jogado. Um pano asqueroso que é a expressão do nosso pecado. O diamante está lá, sem ser visto. O Sol também está lá, eclipsado e impedido de refletir em nós devido a imundice de nossa alma. A confissão nos limpa, retira a amargura, a sujeira e nos permite novamente trilhar os caminhos da santidade.
Quantas vezes devemos nos confessar se não estivermos em estado de pecado mortal?
A Igreja não estabelece a quantidade máxima de confissões, mas sim a mínima (confessar-se uma vez ao ano é matéria grave, e mandamento de nossa Igreja) e logo, essa é uma decisão que pode ser tomada em conjunto com seu confessor habitual ou diretor espiritual. É sabido que a confissão frequente, desde que não impulsionada pelo escrúpulo, mesmo que dos pecados veniais, nos concede a graça específica para o combate daqueles pecados e vícios e é uma ocasião de repararmos, com mais presteza e organização, em nossas falhas e em como corrigi-las.
Agora temos um momento oportuno e conveniente para realizamos um bom exame de consciência e uma boa confissão: entregar a Deus nosso coração e, firmemente arrependidos, vivenciar a Páscoa com o espírito de filhos que querem se aproximar de Deus de maneira filial, alegre e confiante.