Reflexões para o início do tríduo pascal
Pe. Vandemir Meister – Com a liturgia de hoje, que chamamos comumente de “Missa do Lava-Pés”, começamos o tríduo pascal. Chamamos assim porque algo, não somente um detalhe, também acontece nesta celebração. Mas o principal é a celebração da “Última Ceia”, e é por isso que ela assim se chama oficialmente.
Hoje somos convidados a reviver, na liturgia, um momento da ação divina de Pai com a humanidade. Na leitura do Êxodo apreciamos o lindo momento em que Deus orienta Moisés sobre como fazer e o porquê de celebrar a Páscoa. O cordeiro imolado seria partilhado por todas as famílias e esse seria o sinal de sua libertação. Tal acontecimento deveria ser sempre lembrado e repetindo: “Este dia será para vós uma f
esta memorável em honra do Senhor, que haveis de celebrar por todas as gerações, como instituição perpétua”. Ademais, Deus dá alguns conselhos para o povo, que está prestes a deixar a escravidão.
Celebrar é algo divino
Lembremos que celebrar é um pedido divino. Para além disso, celebrar um acontecimento que Deus quer tomar parte da história dos homens com a sua Aliança é fazer algo que realmente agrada a Deus. Deus quer estar com seu povo, com os seus queridos, com aqueles que dialogam com ele, com aqueles que dedicam tempo para reconhecer: “Ele é meu Deus, e nada mais”.
Esse Deus, que tanto ama seu povo, fez-se um deles para resgatar, por toda a eternidade, o que ele prometeu a Moisés por meio de uma instituição perpétua – a Páscoa.
Agora, Ele entre nós! O Emanuel, Jesus Cristo, quer celebrar a Páscoa com aqueles que ele mais amava e entrega um grande legado de sua obra: os Apóstolos. Reunidos em volta da mesa, para fazer memória da partida do povo de Israel, Jesus assume a condição de Cordeiro, fazendo sua entrega de vida e de sangue. “Dá seu sangue por aqueles que ama!” No momento em torno da mesa, Jesus quer ainda ensinar aos Apóstolos que “dar o sangue” significa entrega, como Ele fazia naquele momento. Servir e servir a vida.
O sentido de lavar os pés
Qual era a ação que Jesus Cristo demonstrava sobre o tema serviço? Ele até causou uma tensão com um dos seus – Pedro disse: “Tu nunca me lavarás os pés!”.
O lava-pés era um acontecimento pedagógico para mostrar aos apóstolos o sentido da vida: Entrega, serviço. Ele próprio iria entregar sua vida, como um cordeiro ao matadouro, sem resistência.
Lavar os pés, na época de Jesus, tinha um significado muito grande. O anfitrião da casa, sempre quando recebia uma visita, sendo esta importante, sentava-se à entrada da porta da casa, acercava um banquinho para a visita sentar-se e lavava seus pés. Pois, quem caminhava pela terra árida, chegava a qualquer lugar com os pés “pegando fogo”. Assim, toda a visita chegava com os pés encalorados. Ademais, o ato de lavar os pés demostrava uma atitude de acolhida por parte do anfitrião, que presenteava ao hóspede o prazer de refrescar o corpo, dava-lhe essa sensação, porque através dos pés passam muitas veias, então, com o refrescamento dos pés, a sensação era transmitida para todo o corpo. Àqueles que não eram convidados a sentarem-se para o lava-pés, esse era um sinal de que não eram bem-vindos naquela casa.
Jesus quer mostrar aos apóstolos que ele é o Anfitrião da Festa, que todos são bem-vindos, bem acolhidos, que se sintam bem junto com ele.
“Se eu não te lavar, não terás parte comigo”
Pedro não entendia a profundidade do acontecimento, por isso questiona a Jesus. Muitas vezes também nós questionamos a Jesus, não o entendemos, estamos presos em nós mesmos. Não compreendemos suas atitudes. Serviço sem renumeração, voluntariado, fazer coisas para os outros sem nada em troca… Hoje, muitas vezes, a realidade dura da vida nos desvincula da natural atitude de ajudar, de servir, de partilhar desinteressadamente com o próximo. Somos tentados continuamente em fazer os cálculos do retorno sobre aquilo que realizamos. Que receberei em troca? Em que vai me ajudar depois? Se eu necessitar, será que receberei ajuda?
Muitas vezes estou desocupado; mas para servir, para ajudar, ser voluntario, estou sem tempo. Ocupo o tempo desocupado sem ocupar o tempo. Não quero me envolver. Se não vejo um retorno imediato, não saio do meu reino de inércia. “Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que façais a mesma coisa que eu fiz”.
Nós somos instrumentos uns dos outros para juntos participarmos do reino de Deus. Se eu não te lavar, não terás parte comigo no Reino dos Céus. Que possamos ser instrumentos aos outros, aproximando-os de Deus. Assim rezava o Pe. José Kentenich:
Aqui vimos decidir-nos novamente a sermos qual cera em tuas mãos,
para que possas enviar-nos como instrumentos
e apascentar teu povo como te agrada.
(Rumo ao Céu, 140)
Foto: James Chan por Pixabay
Muito bom poder participar do grupo da mãe rainha muita graça