Um camponês, hoteleiro e comerciante exemplar
Pe. Argemiro Ferracioli – João Luiz Pozzobon primeiro foi homem do campo, agricultor bem sucedido num tempo em que não tinha os recursos que temos hoje. Usavam plantadeiras manuais, aradeiras puxadas a cavalo e colhiam com as mãos. O porão da casa era a tulha onde se guardavam as colheitas. Assim cresceu o servo de Deus João Luiz Pozzobon.
Segundo, foi um hoteleiro bem sucedido em Restinga Seca/RS, dirigindo um hotel próximo da estação ferroviária. Aqui não se sabe muito desse tempo. Hotel do Comércio em Restinga Seca (1928). Contam os testemunhos de 1930 que ele esperava os viajantes na saída dos trens com uma carriola para levar as bagagens para o hotel, assim os fregueses não precisavam carregar as suas malas. Sua esposa atraia os fregueses pela boa comida.
Poucos anos depois de casados, resolveu mudar-se de Restinga Seca para a cidade de Santa Maria/RS. Mas, antes de partir, deixou, para a pedra fundamental da futura igreja, uma pequena soma de dinheiro: “Em cada lugar eu deixava uma coisa assim para as obras pias, obras da Igreja” [1].
Depois também como hoteleiro em Santa Maria/RS, “Hotel Rio”.
Sr. João foi para Santa Maria com sua esposa doente e dois filhos pequenos. “Nesse meio tempo viu-se obrigado a vender, em condições desfavoráveis, sua casa de Restinga Seca para morar definitivamente em Santa Maria” [2]. A Sra. Teresa, sua esposa, procurava oferecer as melhores comidas nas refeições do hotel para atrair seus fregueses. João Pozzobon chegou a Santa Maria com a esposa doente e dois filhos pequenos. Estabeleceu-se no “Hotel Roma” (atualmente “Hotel-Rio”). Conta o Sr. João Pozzobon: “Vim para Santa Maria, no bairro de Quilômetro Três, não para esta casa, mas para uma a uns 500 metros mais adiante, e lá me estabeleci com um pequeno comércio” [3].
Por fim um pequeno comerciante em Santa Maria/RS.
Alugou a casinha simples de madeira na rua Osvaldo Cruz, em que viveu até o fim da vida (entretanto, foi parcialmente reformada) e aí se estabeleceu com a família. Montou um pequeno armazém e assim foi criando seus sete filhos. Chegou a ter mais de 200 fregueses. Continuou dedicando-se ao comércio, com o qual sustentava a família [4]. João instalou-se e ali onde encontravam as oficinas centrais da Rede Ferroviária, importante na época e foram seus fregueses fixos. Todos tinham confiança no seu trabalho e atendimento.
Não trabalhava aos domingos. Neste dia dedicado ao Senhor, pela manhã, bem cedo, iam todos à Missa na Paróquia. Celebravam-se os domingos e dias de festa, fechava o comércio nessas festas.
Desde seus primeiros anos no Movimento de Schoenstatt, João Pozzobon manteve um estrito horário espiritual e um controle efetivo de suas atividades apostólicas.
Pe. Esteban Uriburu conta: “Certa vez, falei-lhe da dificuldade que costumamos ter, nós latinos, para manter um controle escrito de nossa vida espiritual. Muitas pessoas assumem o mundo espiritual de Schoenstatt, porém, têm problemas com o sistema de controle. O Sr. João respondeu com assombrosa naturalidade:
– “Isso é uma coisa maravilhosa, bonita! Pense o senhor: se o comerciante não controla suas coisas… Irá mal! Por que não controlar, então, a alma, o espírito? É um pouco difícil no início, porém, mais tarde, a gente se acostuma e sente falta se não o faz” [5]. Ele se referia ao horário espiritual.
O que aprendemos com ele
Como comerciante, Pozzobon, nos deixa o que poderia ser uma lição do “empresário cidadão”.
“Como comerciante, Pozzobon sabia que era indispensável obter lucro de sua atividade, mas estava convencido também de que havia um limite, que ultrapassá-lo seria desviar-se de sua autêntica função de distribuidor das mercadorias” [6].
Ensinava aos filhos não cobrarem nenhum centavo a mais nem a menos, nenhuma grama a mais e nenhuma a menos. O preço e peso correto. E por isso confiavam nele comprando pela cardeneta.
João Pozzobon se santifica no trabalho. Durante o serviço, não fica longe de Deus e nem da Virgem Maria. No dia 4 de julho de 1959 escreveu uma carta: “É a hora da trombeta da Mãe. São dez horas da manhã. Estava trabalhando num serviço bastante rústico, cortando taquaras e limpando-as. No trabalho continuava a meditação e a Mãe conservava uma palestra agradável, sobre a divisa deste ano: ‘viver realmente a Aliança de Amor, assim como José Engling”. [7]
Trabalhar e rezar era normal para ele. Certa vez, pendurou a imagem da Mãe e Rainha numa árvore. Às 11 horas, sua esposa Vitória veio chamá-lo e estranhou ver a imagem pendurada no tronco da árvore. João lhe explicou: “Eu a trouxe para meditar melhor e contemplar as coisas de Deus, enquanto ela me cuidava em meu trabalho” [8]. Em 1954 escreveu em uma carta à Ir. M. Teresinha Gobbo que, estando a trabalhar na terra, de quando em quando ia tomar um pouco de água, rezando. E assim, escreveu ele, “passei uma manhã em diálogo contínuo com Maria”.
João Luiz Pozzobon aplicou essa bagagem de conhecimentos sócio-culturais à própria vida familiar e, também, ao trabalho profissional. Desta forma, pode comprovar-se como um pequeno comerciante bem sucedido e honesto, era cumpridor dos compromissos contraídos com seus credores, fazia da profissão um serviço ao próximo e não só uma fonte de enriquecimento lícito [9].
Na força do carisma profético do Pe. José Kentenich, soube cumprir com heroica fidelidade os seus deveres de chefe de família, de comerciante e de Diácono a serviço da pastoral popular que foi sua Campanha da Mãe Peregrina. Seu trabalho era trinitário. “João Luiz tinha uma visão trinitária-patrocêntrica de Deus, isto é, Deus Pai estava no centro de sua relação com Deus. Ele começava o dia e o seu trabalho pedindo a bênção de Deus Pai por meio de Cristo no Espírito Santo, e também terminava o dia e tudo o que fazia agradecendo ao Pai por Cristo no Espírito Santo. Tudo parte do Pai e vem ao mundo e ao homem por Cristo no Espírito Santo e tudo vai ao Pai por Cristo no Espírito Santo). Ele viveu e trabalhou em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Ícone, J. Quaine) “Sua vida e seu trabalho foram marcados pela cruz, mas jamais perdeu a paz e a confiança na vitória do Senhor Jesus.” (Ícone, J. Quaine)
Concluindo
Podemos concluir com um testemunho. “Como comerciante, os testemunhos dados sobre João afirmam que ele tinha tino para comerciante, um comerciante muito honesto, ao ponto de sua irmã Tereza comentar que nesse trabalho ele ‘sempre teve a consciência de não pretender o que pertence aos outros’”. (Ícone, Pe. C. Moro)
Finalizando: “João Luiz Pozzobon era casado, teve sete filhos, depois netos. Exerceu várias profissões como: lavrador, hoteleiro e pequeno comerciante e, em meio a tudo isso, viveu plenamente o Evangelho. Ele serve de referencial exatamente pela sua condição humana que o aproxima de todos nós que vivemos plenamente no mundo e com a responsabilidade por uma família” (Evangelizador, pg. 37).
Referências
[1] URIBURU, J. Esteban. 140.000 Km a caminho com a Virgem. 2ª edição, 2005, pág 14
[2] URIBURU, J. Esteban. 140.000 Km a caminho com a Virgem. 2ª edição, 2005, pág 19
[3] URIBURU, J. Esteban. 140.000 Km a caminho com a Virgem. 2ª edição, 2005, pág 20
[4] URIBURU, J. Esteban. Herói Hoje, não Amanhã. 3ª edição, 2003, pág 35
[5] URIBURU, J. Esteban. 140.000 Km a caminho com a Virgem. 2ª edição, 2005, pág 26
[6] URIBURU J. Esteban; TUBERT. Joao Luiz Pozzobon, peregrino y misionero de Maria. 2ª edição, 1999, pág 48
[7] Um Ícone de Maria – 1° Seminário sobre a importância teológica da pessoa e obra de João Luiz Pozzobon. Santa Maria/RS, 2006, pág 22.
[8] Um Ícone de Maria – 1° Seminário sobre a importância teológica da pessoa e obra de João Luiz Pozzobon. Santa Maria/RS, 2006, pág 24.
[9] Um Ícone de Maria – 1° Seminário sobre a importância teológica da pessoa e obra de João Luiz Pozzobon. Santa Maria/RS, 2006, pág 14.
-TREVISAN, Victor. João Luiz Pozzobon, um “santo” com têmpera de missionário leigo, 1992.
-João Luiz Pozzobon, Evangelizador da Família na Pós-Modernidade. Simpósio Teológico Pastoral sobre a Família. PUCPR – Londrina, 2006.