Mais uma reflexão sobre o ato de meditar, segundo a espiritualidade de Schoenstatt
Flavia Ghelardi – Antes de entramos na meditação propriamente dita, vamos recordar o que nos diz o Pe. José Kentenich sobre a preparação próxima da meditação, ou seja, como preparar nosso coração ao nos aproximarmos desse encontro com o Senhor:
“Se eu durmo à noite com determinados pensamentos, eles continuam trabalhando em meu interior durante o sono e, pela manhã, ao despertar, me encontrarei disposto. (…) Para que me levanto? De acordo com nosso método, a partir daqui se trata da consagração da manhã. Preparo os primeiros atos que desejo realizar pela manhã quando acordar. E assim acabam todas as ocupações do dia. Este é o heroísmo, este é o sentido do grande silêncio depois da oração da noite. (…) O que consiste uma consagração da manhã como esta? (…) sinal da cruz, Ideal Pessoal e Exame Particular, Oh minha Senhora, oh minha Mãe e depois, ficar um pouco em sintonia com os pensamentos da meditação”*
Assim, ele ensina a nos preparamos para dormir e quando acordar também já iniciar o dia pensando sobre a matéria que iremos meditar.
Início da meditação
Para iniciarmos a meditação, é aconselhável que tenhamos um caderno para anotarmos as inspirações que possam surgir. No local que escolhemos para esse momento, é bom ter alguma imagem que nos remeta ao mundo sobrenatural (cruz, quadro da MTA, uma vela acesa, etc). Para aqueles que gostam de um estímulo auditivo, pode colocar um canto gregoriano ou canção apropriada num volume baixo. Todos esses passos ajudam a criar o clima propício para esse encontro de amor.
“Devemos nos deter respeitosamente no lugar em que vamos realizar nossa meditação, entrar em contato com o Deus pessoal e aprender a estremecermos frente a Ele em profundo respeito, mas também conversar com Ele com amor familiar.” (Pe. Kentenich)
Depois, nos colocamos na presença de Deus, respirando profundamente algumas vezes para acalmar nossos sentidos para conseguirmos nos concentrar. Então, imploramos a ajuda do Espírito Santo, através de uma oração apropriada e convidamos nosso santo anjo da guarda a participar desse momento tão especial do nosso dia.
“Expressando de uma maneira popular, diremos: agora o bom Deus deixou de lado os assuntos do governo do mundo; agora quer passar uma meia hora somente comigo, para entrar em um relacionamento somente comigo.”* (Pe. Kentenich)
Desenvolvimento da meditação
Agora passamos a refletir sobre o tema de nossa meditação. O Pe. Kentenich nos ensina: “E agora sobre o que meditamos. Certamente não queremos perder de vista para nós, que estamos insertos no meio da realidade da vida, a modalidade simples da meditação, que tão frequentemente cultivamos. Qual é a sua matéria? Em si, essa matéria é nossa própria vida. O Deus da vida quer tocar nossa vida e receber de nossa parte uma resposta de vida. (…) Para repetir expressões antigas, isto constituiria em ‘pós-experimentar’ e ‘pós-degustar’ as misericórdias divinas e as misérias pessoais. Portanto, minha vida cotidiana é o objeto de minha meditação”*
Porém, para os iniciantes, o ideal é começar por algum texto e depois, com a prática, passar para a meditação dos acontecimentos da sua vida, como ensina o Pe. José Kentenich. O texto deve ser conhecido, como alguma passagem bíblica ou um trecho de algum livro de espiritualidade ou de um livro de oração como é o Rumo ao Céu.
É importante que você já conheça o texto, pois a reflexão que é feita através da meditação não é para conhecer algo novo, mas para descobrir a Verdade naquele texto, o que Deus quer falar com você através dessa passagem. Não escolha um trecho muito grande, pois o tempo maior da meditação deve consistir no “degustar” o que Deus está falando, como Ele está mostrando seu amor por você com essas palavras. Um texto longo acaba dispersando as ideias.
Leia com calma e vá se detendo nas partes que te chamam mais a atenção. Se tiver alguma inspiração do que o Pai esteja querendo te mostrar, anote no seu caderno. Não se preocupe se nas primeiras vezes parece que você não está “ouvindo” nada. Com o tempo, seu coração ficará mais sensível e captará mais facilmente o que o Pai quer te falar.
“Se um pensamento me chama a atenção, devo me deter tranquilamente nele, sem me preocupar, temeroso, que deveria continuar. Primeiro, segundo, terceiro… esse não é o método (…) de meditação. Se chove, deixo que regue; se não, me esforço para conseguir água. Se Deus me presenteia um gosto em uma verdade, desfruto dela até que Ele queira. Se não, permaneço fiel em meu esforço. A meditação (…) é primeiramente uma escola de amor, não uma escola de pensamento, ou uma escola de sonho, preparação para uma pregação. Não é o muito saber que satisfaz a alma, mas o gostar e degustar as coisas divina. A reflexão é um meio para um fim. Assim que a alma se sente aquecida, deve se deter.”* (Pe. Kentenich)
Desta forma, pode ser que logo na primeira frase, você já deva parar para “degustar” o que o Pai lhe está mostrando. Enquanto você perceber que aquilo aquece seu coração, não precisa continuar. Pode passar todo o tempo determinado para meditar, nessa única frase ou pensamento. Não se preocupe em ter que ler tudo o que tinha se proposto. O texto é só um auxílio para esse encontro com Deus. Se o Pai está lhe falando, ouça e converse com Ele. Na próxima meditação, não precisa escolher algo novo, pode retomar de onde parou ou até meditar a mesma frase novamente, se sinto que ainda tem “carne nesse osso”.
Esse tipo de diálogo com Deus consiste em encontrar a Verdade que Deus quer te mostrar e através dessa Verdade, aumentar sua vinculação e seu amor ao Pai. Por exemplo, no versículo “tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4,13), Deus pode estar querendo mostrar a você a Verdade que Ele é o Supremo Bem, que para aqueles que estão em comunhão com Ele, que estão em amizade com ele, em estado de graça (sem pecado mortal), é possível realizar qualquer coisa. Outra Verdade presente nesse versículo é que Deus nos concede a força, as graças necessárias para cumprirmos nossa missão. Ele é quem nos sustenta a cada instante da nossa existência.
Dessa Verdade que você enxergou, pode ser que Deus esteja te convidando a fazer uma boa confissão para permanecer em estado de graça; ou Ele pode estar animando você a buscar forças Nele se estiver se sentindo abatido; ou ainda Ele pode estar confirmando que você deve assumir aquele apostolado para o qual foi convidado… Enfim, o Pai está falando com você, para a sua realidade, e se você estiver disposto a ouvi-lo, vai se sentir mais próximo dele e vai começar a enxergar, em seu dia a dia, o cuidado amoroso que Ele tem por você.
O Pe. Kentenich propõe três perguntas que podem ajudar a desenvolver esse encontro com o Senhor e com a Virgem Maria. Não são questões “obrigatórias”, mas um instrumento que nos ajuda a não nos dispersarmos. Tenha sempre em mente que a meditação não é um momento de estudo ou de esclarecimento de conceitos, mas é um tempo para estar com Deus, para “experimentar” o seu amor, para nos encontrar com Ele, para crescer em intimidade.
Estas são as perguntas propostas pelo P. Kentenich:
- O que Deus me diz com isso?
- O que eu digo a mim mesmo?
- O que eu respondo a Deus?
A resposta mais importante é essa última. Como nos ensina o P. Rafael Fernandes: “Se falamos de resposta não queremos indicar uma ação ou um propósito. Trata-se de uma resposta de amor, uma resposta do coração no âmbito de um diálogo pessoal com o Senhor. Expressamos a Ele nosso amor de gratidão, de arrependimento, de pedido. Damos-Lhe, se for o caso, uma resposta que nos compromete a realizar uma ação ou propósito determinado, que significa nossa entrega incondicional a Ele.”**
Conclusão da meditação
Terminamos a meditação com uma oração de ação de graças e dependendo do que meditamos, podemos concluir com algum propósito ou intenção. Se sentimos que não meditamos bem, pedimos perdão. Podemos anotar em nosso caderno as inspirações que tivemos, o que tocou mais nosso coração nesse tempo de oração.
No próximo artigo faremos um exercício prático de uma meditação, para esclarecer melhor esses conceitos e ajudar a colocar “as mãos na massa”.
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Fontes:
* El hombre heroico – ejercicios espirituales con la guia de San Ignacio y su método (p. 217-223) Pe. José Kentenich, Ed. Patris
** Como aprender a meditar, Pe. Rafael Fernandez, p. 78, ed. Patris