A mensagem do “31 de Maio” traduzida à missão do Brasil Tabor
Pe. Clodoaldo Kamimura – Ao celebrarmos, como Família de Schoenstatt brasileira, o jubileu do ideal Tabor, usamos, muitas vezes e em suas variadas fórmulas, a expressão “como no Tabor, aqui é bom estar”. E, quando o fazemos, em nossa fantasia pode existir uma associação espontânea com algum espaço físico bem bonito, imaculadamente limpo, bem ornamentado e com certa atmosfera de nobreza (aqui cada pessoa tem seu próprio conceito do que seria “espaço nobre”).
No entanto, observando a vida ao nosso redor, podemos perceber que nem sempre esses âmbitos com características arquitetônicas, que poderíamos denominar de “nobre”, trazem aquela sensação de se viver num paraíso que está associada à atmosfera do Tabor. Igualmente podemos observar que num lugar bem humilde, bem simples, de chão batido, também se pode sentir a atmosfera do Tabor, onde é bom estar e onde se quer erguer tendas de permanência duradoura.
O que percebemos com isso?
Não é o aspecto externo que faz a atmosfera do Tabor, embora esse exerça uma grande influência sobre nós. Onde reside, portanto, a diferença? O mundo dos vínculos humanos é o que determina predominantemente o “sentir-se bem como no Tabor”. Nós nos sentimos completamente à vontade onde os vínculos humanos verdadeiros e profundos estão prevalecendo sobre tudo o que é aspecto externo. Num ambiente de profunda comunhão humana sempre é bom estar, como no Tabor!
Isso é viver a missão do 31 de maio!
Explico-me. Muitas expressões foram e são usadas para tentar definir a missão do 31 de maio, deixada pelo Pe. Kentenich à nossa Família de Schoenstatt através do chamado 3º Marco Histórico. Porém, atrevo-me a usar a expressão proposta pelo já falecido Pe. Paul Vautier, Padre de Schoenstatt, para definir a missão do 31 de maio numa fórmula mais acessível ao público em geral: “um caminho do vínculo radicalmente pessoal”. Essa foi a temática do confronto travado pelo Pe. Kentenich e o bispado alemão com a famosa carta depositada por ele sobre o altar do recém-inaugurado Santuário de Schoenstatt no bairro de Bellavista, Santiago do Chile, no dia 31 de maio de 1949. Toda a controvérsia contida na carta e toda as repercussões provenientes da carta giravam em torno da restauração do “organismo de vinculações” e de sua aplicação pedagógica. E o Pe. Kentenich declara que esta restauração é uma “cruzada” para Schoenstatt.
Quando se vive, portanto, os vínculos pessoais de forma radical, temos um ambiente de Tabor. Dito em forma um pouco bruta, podemos afirmar: sem vínculos pessoais e radicais não é possível termos o Tabor, não é possível viver Schoenstatt em sua plenitude e radicalidade, pois Schoenstatt não quer o desprezo das coisas do mundo, senão justamente viver no meio do mundo cultivando de forma harmoniosa e radical as nossas relações com as coisas do mundo, com o trabalho, com a família, com a escola e, sobretudo, com o próximo. Isto chamamos também de “santidade de todos os dias”! Chegamos à santidade através dos nossos vínculos pessoais! Isto é a missão do 31 de maio! Isto é vivenciar o Tabor!
Todos percebemos que vivemos numa época onde os relacionamentos humanos estão colocados à prova, seja por causa do anonimato das grandes multidões, onde o indivíduo não é valorizado, ou mesmo por causa da pandemia, que nos força a viver o distanciamento social e cultivar o vínculo humano através de um filtro como a tela de um computador ou de um celular. Porém, sabemos: o ser humano só é capaz de ser mais humano se ele cultiva seus vínculos.
Vivemos também numa época de prosperidade e de possibilidades tecnológicas. Precisamos aprender a fazer uso correto das coisas. Vivemos numa época da agitação e da sociedade do descartável que pode representar a morte para as relações humanas. Precisamos aprender novamente a ter tempo para o outro, aprender novamente o que significa ter fidelidade ao vínculo com o outro.
Por isso, cultivar vínculos humanos e pessoais de forma radical, como aponta a missão do 31 de maio, é uma mensagem bastante atual e também um grande desafio e exigência para todos nós.
O ideal Tabor destaca, neste contexto, de uma forma bem acentuada, aquilo que o Pe. Kentenich, num congresso pedagógico de 1951, denomina como “cura radical” para a doença do “pensar mecanicista” apontado na carta do 31 de maio de 1949: o chamado para viver e vivenciar a relação filial, tanto no ambiente natural de uma família como também na relação com Deus. Só um pouquinho de amor não cura as misérias do tempo, senão o amor radical e total.
Consequentemente, quando estamos então falando da “filialidade heroica” como um dos temas de preparação ao jubileu do ideal Tabor, estamos querendo viver plenamente a missão do 31 de maio e, por isso também, elevamos a prece à Mãe de Deus com o pedido do Pe. Kentenich: “Que todos os filhos de Schoenstatt recebam e conservem até o fim dos tempos a graça da filialidade heroica”.