Dia da Aliança de Amor
Karen Bueno – Quem entra no Santuário, ou recebe a imagem da Mãe Peregrina, deve ter notado o marcante olhar da Mãe, que mira a cada um pessoalmente, como se a contemplar o que existe de mais profundo em toda a alma. O Papa Francisco recorre a esse olhar todos os dias quando acorda de manhã e reza diante da imagem. Não por isso, mas talvez por influência dela, ele nos diz:
“Olhai para Ela e deixai que Ela olhe para vós, porque é vossa Mãe e vos ama muito; deixai que Ela olhe para vós, a fim de aprenderdes a ser mais humildes e também mais corajosos no seguimento da Palavra de Deus; para acolher o abraço do seu Filho Jesus e, fortalecidos por essa amizade, amar todas as pessoas segundo o exemplo e a medida do Coração de Cristo […]. Olhemos, irmãos e irmãs, para a nossa Mãe, que está no coração de Deus. O mistério desta jovem de Nazaré não nos é estranho. Não é ‘Ela lá e nós cá’. Não! Estamos unidos. Com efeito, Deus dirige o seu olhar de amor também para cada homem e mulher, com nome e sobrenome! O seu olhar de amor dirige-se para cada um de nós” [1].
A direção
Ambos os olhares – da Mãe e do Filho – buscam com ansiedade a outros olhares. Eles estão voltados para frente: desejam contemplar a face de cada um dos filhos. “Esses olhares não ficam estáticos um no outro. Como que movidos por uma necessidade, as duas pessoas saem de si mesmas para ir ao encontro do outro. O olhar da Mãe e do Filho se dirige de modo especial às pessoas de todos os tempos, dirige-se a ti e a mim, de uma forma bem pessoal” [2].
Pe. José Kentenich diz: “A frase ‘longe dos olhos, longe do coração’ não se aplica a ela. Frequentemente assim acontece às pessoas que apenas se querem bem superficialmente, mas não à Mãe de Deus. Sua dedicação e seu amor permanecem sempre voltados para nós e seus cuidados estão sempre dedicados a nós” [3].
O que esse olhar desperta
Muitas coisas ele desponta no íntimo do ser, impossíveis de se traduzir em palavras. Dentre tantas, encontram-se as três graças do Santuário:
– A primeira sensação é o abrigo. Maria se interessa por quem chega até ela, está atenta, ela tem tempo, quer saber o que cada um tem a lhe dizer. É sempre assim! Pe. Kentenich falou certa vez: “Eu imagino, facilmente, como a Mãe de Deus nos olha do céu ou aqui no Santuário. Seus olhos nos procuram continuamente. Ela quer saber onde seu filho e sua filha estão, onde trabalham, se correm perigo, se o filho e a filha estão em meio a milhares de pessoas. Os olhos da Mãe não descansam enquanto não os descobrem” [4].
– Seu olhar toca a alma, leva à transformação de vidas. Mesmo que a pessoa não saiba rezar ou não tenha o que dizer, o diálogo entre os olhares toca o interior e fala ao coração. É uma conversa simples e silenciosa entre Mãe e filho.
– A direção do olhar de Jesus e de Maria ensina a olhar adiante, para o outro, como eles fazem: é o envio apostólico. Quem contempla essa imagem se sente impelido a compartilhar a acolhida que recebe, não a guarda para si, por isso é tão comum conhecer pessoas novas que chegam ao Santuário motivadas por aqueles já o conheceram. A direção do olhar – um olhar “em saída” – pede a atenção com o outro, o servir sem interesse.
Em nós percorre o nosso tempo
Pe. Kentenich nos diz que “Ela enxerga todas as pequenas coisas ao nosso redor! É um olhar maternal afetuoso que repousa sobre nós. É sempre um coração generoso que pulsa por nós” [5]. Por isso, peçamos a graça de ter um olhar semelhante ao dela, que acolhe, transforma e está direcionado ao outro, um olhar missionário: “Torna-nos semelhantes à tua imagem. Como tu, passemos pela vida fortes e dignos, simples e bondosos, espalhando amor, paz e alegria. Em nós percorre o nosso tempo, prepara-o para Cristo” (Rumo ao Céu, 609).
Referências
[1] Discurso à comunidade do Pontifício Colégio Português de Roma, 8 de maio de 2017.
[2] Minha Aliança com a Mãe Admirável, Maria Clara Bercetche, pág 16.
[3] Maria Mãe e Educadora, Pe. José Kentenich, pág. 54, edição revisada – 2017
[4] Às segundas-feiras ao anoitecer, Pe. José Kentenich, vol 3, pág 116
[5] Que as rosas falem por nós, Pe. José Kentenich, pág 114.