Como ensina São Paulo
Se quisermos nos deter aqui para penetrar um pouco mais profundamente na obra prima, ou no ideal e na imagem do ideal, é aconselhável que frequentemos, por uns momentos, a escola do Apóstolo São Paulo.
Recordemos, uma vez mais, a definição da imagem cristã do homem. Partimos da imagem ideal do Deus Trino e da imagem ideal de Jesus, do Deus Homem Jesus Cristo. Somos chamados a ser imagens originais de ambos. Quando tivermos penetrado mais a fundo no seu espírito, no seu coração, no seu modo de pensar, de amar e de viver, compreenderemos que a constante ideia predileta de Paulo é a imagem do Homem Deus. Como vê ele o homem remido? Como vê a imagem cristã do homem? Permitam que resuma brevemente o que diz a esse respeito, repetindo uma única frase: viver em Cristo.
De novo: que queremos e devemos fazer para encarnarmos a imagem cristã da pessoa humana, frente à imagem moderna do homem? Queremos transformar-nos cada vez mais em imagens originais da Santíssima Trindade e de Cristo, Homem Deus. Que pretende Paulo destacar? Que sejamos imagens de Cristo. Como imagens de Cristo, temos toda a nossa existência em Cristo Jesus.
Um novo ser
Para os que já compreendem um pouco este mundo de ideias e de ideais, creio dever ainda acrescentar: trata- se de uma realidade ontológica, de um novo modo de ser em Cristo. Que significa isso? Participação da vida de Cristo e, consequentemente, participação da vida do Deus Trino; viver em Cristo na ordem do ser, na ordem das atitudes, na ordem existencial. Creio que é quase impossível captar a abrangência desta breve descrição.
Paulo tem um pensar extremamente claro e tem coragem de tirar consequências dos últimos raciocínios e princípios. Em dois trechos de suas cartas afirma: quem vive em Cristo Jesus, tal como acabei de descrevê-lo, é uma nova criação. O que é antigo passa; nele, tudo é novo, tudo é renovado.
Nova criação. O que ela significa, concretamente? Encarnação da imagem cristã do homem, realização da nova criação em Cristo. O que era antigo passou. O que era antigo? Recordemos a velha imagem, encarnada por Adão. Cristo é o novo Adão no início de uma nova época histórica.
Que características tinha o velho Adão? Possuía dotes brilhantes, que agora não vou descrever! Mas… sobrevêm o pecado e a maravilhosa imagem que Adão e Eva representavam, desde o início da criação, foi repentinamente deformada. Sofreu uma quebra na ordem do ser, uma dilaceração interior da vida humana: da vida de Adão e Eva e da vida de seus descendentes.
Maria: imagem perfeita do homem novo
O que era velho passou, uma nova imagem (se apresenta). Como é essa imagem? Naturalmente, não representa inteiramente, nem imediatamente, o que Adão e Eva perderam. Fomos libertados do pecado original em si, mas as consequências do pecado permanecem.
Considerando a imagem da querida Mãe de Deus, devemos dizer e confessar: ela foi e permaneceu livre do pecado original e do mais lamentável efeito do pecado original: a discrepância interior que chamamos de concupiscência, de paixões negativas. Ela conhecia paixões, como Jesus, mas não as paixões negativas. O que era velho passou.
Nós somos destinados a nos tomarmos um dia como a Mãe de Deus. Ela foi ideada e pensada por Deus em vista de sua posição excepcional. E esta é meta à qual aspiramos: “(Mãe) Torna-nos semelhantes à tua imagem”.
À tua imagem! Sim, queremos espelhar-nos na tua imagem. Queremos espelhar-nos: tu não foste tocada pelo pecado original nem atingida pela mais lamentável consequência do pecado original. A graça que te libertou, liberte mais e mais também a mim, para que um dia, no céu, eu represente, o mais perfeitamente possível, a tua imagem.
Em outra passagem, Paulo aprofunda esta mesma ideia, sua ideia predileta. Para o compreendermos, recordemos que assumiu como tarefa de sua vida cuidar que os cristãos não precisassem tornar-se primeiro judeus. Por isso, sua grande e vigorosa afirmação: em Cristo Jesus. A ideia é sempre a mesma: em Cristo Jesus. Não importa a circuncisão exigida pelos judeus ou a não circuncisão. A única coisa que importa é viver sempre em Cristo Jesus.
Pe. José Kentenich, Homilia para a comunidade alemã da Paróquia São Miguel Arcanjo em Milwaukee/EUA, 16.12.1962
Trecho retirado do livro Na Escola do Apóstolo Paulo, textos escolhidos do Pe. José Kentenich. Pe. Peter Wolf (editor). Santa Maria/RS: Sociedade Mãe Rainha, 2008.