A caridade nas palavras do Pai e Fundador:
Reconhecemos aqui com extrema clareza o ensinamento de Jesus […]: o amor é a lei fundamental do universo. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração…
A fala de Jesus é tão unívoca, que nos permite compreender os Apóstolos e, mais profunda e classicamente ainda, a São Paulo. Quantas vezes ele fala da lei universal! É óbvio que também usa outras expressões, mas todas elas podem ser reconduzidas à nossa fórmula da lei fundamental do universo. Ela constitui a última, a mais essencial realidade de toda a ordem do universo e de nosso trabalho pedagógico e pastoral.
[…] “Portanto, como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos de sentimentos de compaixão, de bondade, humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente. Se alguém tem motivo de queixa contra o outro, como o Senhor vos perdoou, assim também fazei vós. Mas, sobre tudo isso, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição” (Col 3,12-14). Que significa “sobre tudo isso”? Lei fundamental do universo! Sobre tudo tende o amor, tudo depende disso! Como devemos entender o amor? Como vínculo da perfeição. […] Por este motivo, o amor é a rainha das virtudes.
Se temos amor, todas as outras virtudes nos são dadas com ele
Vejam o Hino à Caridade (1 Cor 13)! Aconselho que o leiam antes de irem dormir. Verão que lhes dá uma luz nova. O Apóstolo sabe muito bem (apresentar a questão): se o amor é, efetivamente, a lei fundamental do universo, podeis fazer o que quiserdes, podeis ter uma fé que remova montanhas, praticar Deus sabe como a pobreza, entregar o corpo para ser queimado. Mas o que é tudo isso se não tiverdes o amor? Vejam a profundidade em que ele captou que a lei fundamental do universo é o amor.
Como nossa vida é fraca! Quanto já lutamos para nos aproximarmos mais de Deus! Como nosso amor é fraco, quando não o vivemos como vinculação pessoal à pessoa de Deus! Nós, sacerdotes, sobretudo por nosso modo de ser pronunciadamente masculino, corremos o perigo de chegar ao amor pelo conhecimento (racional), de ficarmos presos ao amor como ideia e não chegarmos à pessoa. O amor, porém, não é amor à ideia, mas à pessoa, (é) amor pessoal à pessoa de Deus. Precisamos examinar o valor positivo do Hino à Caridade. Nada, absolutamente nada sem amor! Mas se temos amor, todas as outras virtudes nos são dadas com ele. Devemos compreender que é assim, porque o amor é a lei fundamental do universo. Que produz o amor? Paciência, mansidão, segue uma enumeração de todas as virtudes.
O amor pede ação
O amor é a lei fundamental do universo, aliás, o amor como dever: revesti-vos da caridade (Col 3, 14)! Que efeito produz? Todas as outras virtudes brotam do amor. Se eu tenho amor, devo ter todas as outras virtudes. Compreenderão melhor que é assim se eu lhes recordar a seguinte frase: do ponto de vista filosófico, o amor é uma força unitiva e assemelhadora. Na mesma linha, também entenderão porque o Hino à Caridade conclui com a ideia: o amor é eterno porque é a lei fundamental do universo.
Analisem novamente São Paulo. Ele sabe dizer tantas coisas sobre o amor! A mim, pessoalmente, agrada a palavra: in caritate radicati et fundati (arraigados e fundamentados no amor, Ef 3,17). Embora saibamos muitas coisas, pode ser terrivelmente difícil passar do conhecer ao amar, tendo em conta justamente o que acabamos de constatar! A forte fundamentação no amor garante um conhecimento mais profundo de Deus. O amor é o meio (para alcançarmos) o conhecimento. Interroguem a vida prática, se não é assim: quanto mais vinculado estou, mais claramente reconheço as realidades que estão diante de mim. Para avançarmos no caminho ao verdadeiro amor, precisamos, pelos menos, esforçar-nos o máximo possível na oração, despertar sentimentos de anelo.
Em: José Kentenich, Alegria sacerdotal, Retiro para sacerdotes, Schoenstatt, 7 a 13/10/1934.
Trecho retirado do livro Na Escola do Apóstolo Paulo, textos escolhidos do Pe. José Kentenich. Pe. Peter Wolf (editor). Santa Maria/RS: Sociedade Mãe Rainha, 2008.