Fazer, mais que falar.
Pe. Irineu Trevisan – É convicção geral que, hoje, a crise de pais autênticos tornou-se alarmante.
Os pais, em sua grande maioria, pecam ou por falta de autoridade, perdendo a influência e domínio sobre os seus filhos, especialmente no campo religioso, moral e educativo. Ou pecam por excesso de autoridade.
Mas, a falha maior está no âmbito da educação dos filhos. Como educá-los?
A verdadeira pedagogia paternal deveria primar em dois aspectos: no amor e no exemplo. Dom Bosco, exímio educador, assim definiu a característica de um educador: deve ser terno como o amor de mãe e duro como o diamante. Há circunstâncias, no exercício da educação, que requerem do educador ternura, compreensão, paciência…. Como há outras circunstâncias e tipos de educando a exigirem firmeza, decisão, disciplina, para que a educação obtenha êxito. A arte de educar está no uso correto, oportuno, de um e outro acento do amor, consoante os casos.
Às vezes os pais e educadores saberão discernir pelos conhecimentos de pedagogia ou psicologia; outras vezes, pela experiência já possuída ou pelo aconselhamento de educadores mais experientes. Outras vezes, poderão saber ou adivinharão por uma certa intuição. Há casos até que exigem uma iluminação do Alto, para saber qual o tipo de amor – terno ou firme – a ser empregado.
O exemplo
Os pais poderão educar seus filhos pela palavra de aconselhamento, pela ação pedagógica, pela oração e sacrifícios (caso de Santa Mônica com relação a Santo Agostinho). Mas será sempre indispensável e prioritário o exemplo. As palavras voam, os exemplos arrastam – reza o provérbio.
O Sr. João procurou exercer assim o seu papel de pai, dentro do seu lar.
Soube ser terno quando era necessário; forte quando as circunstâncias exigiam firmeza. Sempre cuidou de ser exemplo naquilo que ensinava aos filhos.
Recordo-me deste fato:
Fiz ao Sr. João essa observação:
– “Oh, Sr. João hoje o senhor está elegante, com roupa de frio nova!”.
Ele replicou-me:
– “Só agora consegui este capote novo para chuva e frio. Pois, primeiro quis dar um para meu filho, e fiquei por último”.
Quando distribuía sua herança aos filhos, confidenciou-me: “Quero passar-lhes tudo. Só ficarei com o necessário para mim. Há intriguinhas – como é compreensível em tais casos, mas procuro solucioná-los com equilíbrio, paciência e diálogo com meus filhos”.
O lar, os filhos e a esposa eram o alvo constante de seus cuidados.
Viveu 24 horas por dia para eles. Mesmo no exercício intenso de suas atividades apostólicas, viagens longas, jamais se desleixou em casa, preparava o café e o servia à esposa ainda no quarto.
Devotou um carinho especial à sua esposa.
Contou-me esse fato:
“Pe. Irineu, durante trinta anos levantei-me por primeiro em casa, preparava o café e o servia à minha esposa no quarto.
– Durante quantos anos, o Sr. prestou este serviço?
– Durante trinta anos. Até a morte de minha esposa.
– Quando começou?
– No dia que ela teve o primeiro filho. Devendo ficar de cama, comecei a servir-lhe o café no quarto.
– E porque o senhor prolongou este serviço até a morte de sua esposa?
– Porque ao servi-la percebi a alegria estampada em seu rosto e coração, por se sentir servida pelo esposo. E eu desejei que ela saísse com esta alegria, todos os dias, do nosso quarto de dormir”.
Muitos pais, hoje, não teriam que buscar seu exemplo nesse pai exemplar que foi o senhor João?
Multipliquemos nossas preces, pois, ao senhor João, para que do céu interceda junto ao Pai do Céu por pais autênticos e hábeis, à altura dos tempos.
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Entrevista concedida por ocasião da abertura do processo de beatificação de Pozzobon