Dúvidas fazem parte dessa jornada que inicia com a pergunta: o que Deus sonhou para minha vida?
Christian Callegari – Desde que iniciamos nossa caminhada na fé, um dos temas mais polêmicos e inquietantes é o da vocação. “Qual será a minha?”, “Será que estou no caminho certo?” – são perguntas que surgem ao longo da jornada e causam alvoroço, principalmente nos mais jovens.
Essas dúvidas vêm com o tempo. Para alguns é natural, para outros é estranho, mas, para todos, independentemente, é apenas uma coisa: Vontade Divina.
Uma vez escutei a seguinte pergunta: “Nossa vocação é pré-definida?” Algum tempo atrás essa dúvida seria inquietante para mim – afinal, somos livres – mas, por algumas experiências, realmente parece, para mim, que as pessoas nascem para ser um leigo, ou casar-se, ser sacerdote ou religioso… e isso causa dúvida.
SIM E NÃO
A resposta vocacional, apesar de controversa, é simples: sim ou não. Nascemos todos com o poder do livre arbítrio, afinal, Deus nos ama tanto que, como prova disso, nos deu essa liberdade de escolha. Tudo o que fazemos, fazemos por nós, ou, em outras palavras, como diz Santo Agostinho do Hipona, a alma humana “quer aquilo que quer, livremente”.
O caminho trilhado é reflexo das nossas decisões durante a vida e isso nos faz completamente à vontade, na maioria dos casos, para escolhermos a vocação à qual seguir. Não obstante, também há o “não” da questão.
Mesmo livres, Deus é onisciente e constante infinidade, Ele sabe tudo aquilo que já passou, passamos e vamos passar. Existe um caminho já ladrilhado para nós? Sim, existe! Até mesmo Jesus Cristo teve um caminho já “escrito” por Deus. Mas a beleza de tudo inicia neste ponto: o caminho pré-existente, a trilha já traçada, é Vontade Divina, é o “ser conforme o Pai deseja”. Mas, Deus não nos faz escravos de Sua Vontade, pois, Sua Palavra é verdade, pura e imutável e por esse mesmo motivo nossa vida está toda escrita em Deus, mas quem escolhe segui-la somos nós.
A CERTEZA DO SER
Então, se nossa vocação já existe, mas nós escolhemos segui-la ou não, a próxima pergunta é: “realmente é essa a minha vocação?”.
A certeza da escolha é difícil e o caminho mais fácil para realmente encontrar essa certeza é: oração. Pe. José Kentenich, durante a vida, sempre rezou para que a Obra de Schoenstatt se concretizasse, além de que, ele só soube que seu esforço foi válido apenas por esse modo, só orando ele teve certeza.
Bom, apesar de tudo, preciso explicar aquilo que eu vivi durante esse tempo de discernimento. A vida de oração é uma tarefa que eleva a alma, que nos mantém dentro do “Castelo Interior” que Santa Tereza D’Ávila nos conta. Ir fundo dentro do Castelo é difícil, explorar os caminhos interiores é árduo e revela as inquietudes do microcosmo que somos. O Pe. Kentenich diz que: “O grau do nosso progresso no domínio das ciências tem que ser o grau do nosso aprofundamento interior, do crescimento da nossa alma” [1], ou seja, que o tanto que conhecemos do mundo, devemos conhecer de nós mesmos. A oração é a porta para o caminho do céu e por isso é de suma importância para a certeza.
Portanto, a oração traz sabedoria e com sabedoria temos a firmeza necessária. Um exemplo disso vemos no próprio Pe. Kentenich: em 1919 ele confiou cegamente nos jovens para que, sozinhos, presidissem e organizassem o Congresso acontecido na cidade de Hoerde. Isso nos mostra o poder da oração, afinal, a única coisa que fez o Pe. Kentenich pelo congresso foi rezar, pedir com carinho à MTA que cuidasse de tudo – e assim ele fez durante toda a vida.
Agora, imagine que você está na situação do nosso Pai e Fundador: você entrega tudo aquilo que têm puramente para que Deus decida o que fará e, assim, você escuta dentro de si mesmo aquilo que Deus quer. Exatamente isso é vocação, é o chamado de Deus que ecoa dentro da sua alma, é quando você sabe que deve ser/fazer algo, não porque tem convicção daquilo por mente humana, mas, sim, porque ouve dentro de si a voz da alma carregada da Vontade, a qual te leva ao caminho certo; é fechar os olhos e saber onde está o seu norte, não há outra explicação que eu consiga achar para vocação. Então, resumindo: reze e persista, com todo o seu coração, para que quando Deus achar que a hora é certa, ele te dê a Verdade disso.
* Contribuição da Juventude Masculina de Schoenstatt do Regional Sul
[1] Documento de Pré-fundação de Schoenstatt