Filha de reis, estirpe de Davi,
Como é gloriosa a luz em que fulguras!
Sobre as regiões celestes elevada,
Virgem Maria, habitas nas alturas.
(Hino da Liturgia das Horas de Maria Rainha)
Ir. M. Denise Mendes Ternes – Ao representarem a Assunção de Maria ao céu, muitos artistas pintaram Deus cingindo a fronte de Maria com uma preciosa coroa. Músicos, poetas e escritores anunciaram esta vertente do ser e da missão de Maria na sua grandeza de Rainha. O Apocalipse de São João descreve a “mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas” (Apc. 12,1). A festa de Maria Rainha está intimamente ligada à Assunção de Maria ao céu. E a tradição da Igreja aplica a Maria esta imagem: A Mulher de Sol, Rainha vitoriosa, elevada à glória de seu Filho, Rei do Universo.
Mas o que significa dizer que Maria é Rainha?
“Rainha” é um título mariano que a tradição da Igreja conhece há muitos séculos; sua festa, porém, foi introduzida na Igreja somente por Pio XII no encerramento do ano mariano de 1954. “Jesus é o Rei dos séculos eternos, por natureza e por conquista. Por Ele, com Ele, Maria é Rainha, por graça, por parentesco divino, por conquista e por singular eleição. E o seu reino é vasto como o do seu Filho e Deus, pois que do seu domínio nada se exclui.” Como Mãe do Salvador não devia Maria ser ornada de todas as virtudes? Ser cheia de graças, Imaculada? Por isso, o Espírito Santo desceu sobre Ela cumulando-a de glórias como a nenhuma outra criatura. Assim canta a Igreja:
Ave Rainha dos céus,
Ave Rainha dos Anjos,
Salve porta: salve raiz da salvação;
Traze ao mundo a luz.
Alegra-te, virgem gloriosa,
Salve, ó toda santa,
Pede a Cristo Senhor por nós.
Esta antífona da Igreja ressalta os louvores que a humanidade canta saudando e bendizendo a grandeza de Maria, nossa Mãe e Rainha que no céu nos precede. Na hora da Anunciação, o anjo diz a Maria que o Filho que dará à luz “chamar-se-á Filho do Altíssimo… e o seu reino não terá fim”. O anjo foi o primeiro a dizer que Maria é Rainha, porque seu Filho é o Filho de Deus Encarnado, o Rei. Maria acolhe em seu coração e no seu corpo a grandeza do mistério que nela se desenvolve desde o instante do seu sim.
Salve Rainha, Mãe de Misericórdia!
Quantas vezes rezamos a oração: “Salve, Rainha, Mãe de Misericórdia…”?! – Quando assim a evocamos como Rainha, refletimos sobre o sentido destas palavras? Como é rico o conteúdo desta oração que nos inspira tanta confiança, que parece responder aos anseios mais profundos de nosso coração! Ela nos dá resposta nos momentos de aflição, expressando a nossa confiança em Maria. Neste “vale de lágrimas” em que vivemos, a Ela volvemos confiantes nosso olhar, porque sabemos que nos acompanha a cada passo e sempre está intercedendo por nós junto a seu Filho Jesus. O ato de confiança na realeza de Maria é a confirmação de nossa entrega na Aliança que nos faz colocar nela a responsabilidade pela condução de nossa vida e nossos projetos. Nosso Pai e Fundador nos ensinou esta confiança heroica:
“Accipe coronam! Recebe a coroa real e conscientiza-te, para sempre, de séria responsabilidade pelo reino que deves reger: Recebe a coroa a que tens direito! Permanece consciente também de tua responsabilidade em relação a nós teus filhos. (…) Conscientiza-te não somente de tua dignidade e do esplendor de tuas virtudes, mas também, e acima de tudo, do teu poder! Tu és Rainha e nós queremos depender de ti” (Pe. José Kentenich, 1940).
Foi com essa certeza no coração que no dia 31 de maio entregamos, como Família de Schoenstatt, a coroa à Mãe e Rainha! Também com o anseio ardente de que o mundo reconheça que parar foi e é importante para rever, até que ponto, a vida é vivida intensamente como projeto do amor de Deus.
Coroar não é somente entregar uma coroa material à Mãe, num ato solene para o qual nos preparamos, não! Em todos os momentos de nossa vida, nas preocupações, doenças, aflições econômicas, desemprego, podemos expressar este ato de confiança dizendo, do íntimo de nosso coração: Mãe, sê Rainha desta situação… Manifesta teu poder. Cuida de mim, de minha família. Eu confio em ti. Sei que vais providenciar pelo meu pedido. Esse ato de confiança e de reconhecimento de seu poder, sempre toca seu coração de Mãe e Rainha e a move a suplicar a Jesus por nós.
Ao coroá-la, nós reconhecemos o poder que Deus lhe deu de reger, com Cristo, no mundo. Maria tem a tarefa de dar à luz a Cristo e de preparar no mundo o Reino de Cristo, de abrir o caminho à missão, ao trabalho missionário da Igreja. Portanto, coroar é permitir que ela seja nossa Mãe, Educadora e Rainha no pequeno mundo do nosso ser; que ela reine em todos os momentos e situações de nossa vida, entregando-nos a ela confiamos totalmente em seu poder.
Neste tempo nebuloso no qual no encontramos, em que somos desafiados a provar a fé e a confiança no cuidado de Deus e de nossa Rainha, vale retomar nossa convicção, nossos planos, nossos projetos pessoais de vida e de educação, nossas lutas para permitir que a Mãe e Educadora vença em nós! O amor é mais forte! Foi movido pela força do amor maternal de Maria que os primeiros jovens heróis de Schoenstatt, em meio às dificuldades da guerra, foram capazes de bradar. “Nossa vida à nossa Rainha!” Foi o grande amor de Maria que despertou a força ousada no jovem Max Brunner que, ao partir para a guerra, exclama decidido: “Ave, Maria, Rainha, os que estão prontos a morrer por ti te saúdam”!
Confiança em teu poder: Mãe!
Certo dia, João Pozzobon levou a Mãe Peregrina a uma família na qual a esposa encontrava-se gravemente enferma. Foi feita uma oração especial pela saúde da mesma. O marido se interessou e quis saber o que significava a coroa com a qual a Mãe Peregrina estava coroada. João Pozzobon explicou que era expressão de entrega e confiança no poder da Mãe, que é também Rainha. Ele conseguiu transmitir tal fé e confiança, que aquele senhor ficou convicto de que seria atendido em sua súplica. E antes de receber a graça, ofereceu uma pedra preciosa para a coroa da Mãe Peregrina, como expressão de sua gratidão. Entretanto a esposa continuava piorando. Levada ao hospital, o médico não deu esperança e disse que ela não passaria daquela noite. O homem passou toda a noite em oração junto ao leito da esposa. Em sua grande aflição, dirigiu-se à Mãe Peregrina: “Mãe, tu não podes permitir a morte da minha esposa, porque tenho que lhe mostrar a pedra que te ofereci.” A Mãe Peregrina revelou o seu poder de Rainha. A paciente foi se recuperando lentamente e sarou por completo. Logo após a coroação, durante a qual foi colocada na coroa a pedra preciosa oferecida pelo marido da enferma, João Pozzobon visitou novamente aquela família. O dono da casa convidou seus vizinhos e juntos rezaram o terço. Ele relatou com grande alegria aos presentes a grande graça alcançada e, apontando a coroa, disse: “Minha esposa. Aqui está a pedra que doei e que te devo mostrar, conforme prometi à Mãe Peregrina.”
Todos os que entram em contato com Schoenstatt podem observar que por toda parte a Mãe de Deus ostenta uma coroa. É a linguagem eloquente dos símbolos; uma simbologia que tem uma história, mas que é, sobretudo, símbolo de uma corrente de vida. Para um schoenstattiano, a coroa não lhe passa despercebida. Ela lhe fala ao coração. Ele sabe que toda a coroa tem por traz de si uma história de gratidão e é expressão de uma ilimitada confiança no poder daquela que, além de ser Mãe, é Rainha e Vencedora.
Entreguemos a coroa à nossa Rainha e sejamos filhos heroicos que, na força da Aliança, dão testemunho da confiança em Cristo Rei e Maria Rainha!
(Foto: Marcia Kazumi)[/caption]
Bibliografia:
BONFANTE, Ir. M. Lúbia. Coroar por quê?, 2014, Pallotti.
CATALAMESSA, Raniero. Maria, um espelho para a Igreja, 2017, Editora Santuário.
KENTENICH, Pe. José. Maria, Mãe e Educadora. 2017, Pallotti.
KRIEGER, Dom Murilo. Com Maria, Mãe de Jesus, 2002, Edições Paulinas.
VON BALTHASAR, Hans Urs e outros autores. O culto a Maria hoje, 1980, Edições Paulinas.