O símbolo foi entronizado no Santuário Original na noite de Ano Novo, em 1940-41
Ir. M. Nilza P. da Silva / Karen Bueno – No Movimento Apostólico de Schoenstatt, a pedagogia é vinculada aos símbolos. Quem participa das formações nessa espiritualidade já deve ter percebido a força positiva das várias peças, desenhos, imagens, que trazem um significado e um impulso especial para a realização da missão. O mesmo acontece com a lâmpada sagrada dos Santuários, aquela que fica acesa, indicando a presença do Santíssimo. Ela representa toda uma geração da Obra. Em 1939, jovens reunidos no Santuário Original consagram suas vidas como uma Primavera Sagrada – Ver Sacrum – da Mãe de Deus.
A lenda do Ver Sacrum
A expressão ‘Primavera Sagrada’ surge da antiguidade. Quando a população de um reino crescia, os melhores jovens do povo eram enviados a lugares distantes, a fim de começarem ali um novo povoado, fundado sob os mesmos princípios do reino de onde partiram. Portanto, os escolhidos eram educados para isso, desde pequenos. Eram separados de seu povo, para serem formados sem interferências negativas, eram, então, reconhecidos como os mais fiéis e exemplares na vida dos valores desse reino. Por isso, dignos de serem fundadores de um novo reino, que perpetuaria os princípios do reino que deixaram.
O teatro do Ver Sacrum é apresentado em Schoenstatt no ano de 1935, na festa do centenário da Comunidade dos Padres Palotinos. A peça narra, em três atos, a salvação de um povo corrompido pelo pecado:
Parte 1: A primeira cena acontece num palácio de real. Um reino que antes fora feliz e próspero é agora atingido pela fome, doença, miséria, que ameaçam o espírito e a alma do povo. Conselheiros tentam orientar o rei sobre qual atitude tomar em relação a essa situação, mas não oferecem uma solução eficiente. O ministro mais velho e sábio comenta que as desgraças são consequências dos pecados cometidos pelo povo. Ele lembra que as antigas gerações, em tempos difíceis, consagravam as crianças nascidas no período de um ano como uma santa primavera. Os outros conselheiros começam a rir e duvidar, porém, aparece um profeta do Senhor que os orienta, só então o rei percebe que é necessário sacrifício, penitência, para garantir a existência de seu povo.
Parte 2: A segunda cena mostra jovens caminhando numa região pedregosa e solitária de uma montanha muito alta – são as crianças que foram separadas do povo para que crescessem puras e santas. Quanto mais difícil se torna a caminhada, mais jovens desistem de seguir o caminho. Várias tentações vão surgindo ao longo da jornada e, quando tudo parece perdido, Deus envia seu mensageiro, que os salva da ameaça dos adversários e leva-os ao encontro da Primavera prometida.
Parte 3: O terceiro ato retorna ao reino. Entre os homens há guerra e destruição. Em meio à floresta, que se torna campo de batalha, onde ouvem gritos da multidão enfurecida, um canto ressoa de longe: Lumen Christi. O caminho se abre entre os arbustos e os consagrados, que todos julgavam perdidos, se aproximam. Os primeiros levam a imagem da Virgem Maria com o Filho, neles brota uma nova vida, surge a Primavera Sagrada: “Venham, vamos avante! Levemos essa imagem por toda terra, este grande sinal. Levemo-la no meio dos que se odeiam, dos que se desesperam e perecem, para que se faça o homem novo, para que todos anunciem e apreciem a Santa Primavera do Senhor”.
A história se torna vida
A mensagem do teatro toca os corações dos jovens. Não poderiam ser também eles uma Sagrada Primavera?! A segunda geração de Schoenstatt vive conflitos semelhantes à história, já que em 1939 irrompe a Segunda Guerra Mundial: o campo de batalhas está montado, é preciso que almas puras se entreguem por amor, para a salvação do seu povo.
Em novembro de 1939, os seminaristas, que depois de um curto período de serviço militar foram licenciados, se encontram em Ehrenbreistein (antiga casa do internato dos Palotinos) e fazem uma reunião para tratar do trabalho futuro. Enviam, então, uma carta circular a todos os dirigentes responsáveis que estavam dispersos. Pela primeira vez é usada a expressão Ver Sacrum.
Irrupção da Primavera Sagrada
Após o natal de 1939, os jovens se reúnem novamente em Schoenstatt para uma jornada. Nessa ocasião, Pe. Franz Bezler, guia espiritual dos jovens, prega uma conferência que se torna a ata de fundação da Primavera Sagrada. Era o dia 3 de janeiro de 1940 e este se torna o ano do Ver Sacrum.
Pe. Bezler diz: “Cada vez, quando o Espírito divino convoca um homem para uma grande tarefa, quando chama um jovem a separar-se de seu povo para ser instrumento na mão de Deus, e quando este jovem morre para si mesmo, então surge uma Primavera Sagrada para o povo. Cada vocação, num certo sentido, é uma Primavera Sagrada”.
Dessa Geração Ver Sacrum surge uma nova geração de herois. A maioria deles tem a vida ceifada durante a Segunda Guerra Mundial, entregando-a livremente em sacrifício pela Obra de Schoenstatt e pela renovação do mundo. Os herois Henrique Schaefer e Julio Steinkaul são nomes que têm destaque nesse período – jovens que consagram as vidas como Primavera Sagrada. “Precisamos de almas que se sacrificam, almas ardentes que imploram as graças para este tempo. A aflição não é outra coisa senão a voz de Deus. A terra clama por uma Primavera Sagrada. Clama por homens que se sacrificam. Schoenstatt quer dar a resposta! Schoenstatt mesmo quer ser a Primavera Sagrada para o tempo de hoje”, falava Pe. Bezler.
Fogo permanente
(Foto: Mariana Siqueira)
Como sinal concreto da Geração Ver Sacrum, os jovens escolhem o fogo. “Não queremos ser uma luz silenciosa, uma chamazinha, mas sim um braseiro ardente”, dizia-lhes Pe. Bezler.
Na madrugada do Ano Novo de 1940-1941, os rapazes do Ver Sacrum se reúnem com o Fundador, Pe. José Kentenich, no Santuário Original, e ali oferecem a Lâmpada Sagrada sob o juramento: “Se nossa Primavera for infiel a ti, que se apague nesta mesma hora nossa luz no Santuário”.
Até o último suspiro
“Sacrifício não é outra coisa senão morrer como semente”, escreve Henrique Schaefer, expressando a entrega desta geração. A Mãe de Deus leva a sério o compromisso e exige dessa geração não apenas uma vida de sacrifícios, mas o sacrifício da vida de 28 jovens, que selam a Aliança Eterna nos campos de batalha da Segunda Guerra Mundial, uma sementeira que floresce na eternidade e cujos frutos são colhidos até hoje pela Obra de Schoenstatt.
Hoje, o ideal de Ver Sacrum continua a impulsionar os corações juvenis. Vivemos em graças de tempo de fundação.
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