Ir. M. Nilza Pereira da Silva – Acostumados a interpretar os acontecimentos à luz da Fé Prática na Divina Providência, confiamos que “todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rom 8, 28). É Ele quem dirige a história do mundo e deseja a nossa colaboração para que se faça uma nova ordem social. Nessa perspectiva de fé, aplicada à situação política do Brasil, “queremos contribuir de alguma forma para o bem de nossa Pátria” (Pe. Kentenich). O contexto dos acontecimentos atuais nos remete ao objetivo do surgimento da Família de Schoenstatt, o motivo pelo qual a Mãe de Deus sela a Aliança de Amor conosco e habita no Santuário: a renovação religiosa e moral do mundo. Ser um autêntico schoenstattiano é assumir a responsabilidade pela edificação de uma nova ordem social em sua Pátria, pela Cultura da Aliança.
Ao nos confiar a missão Tabor, o Pai e Fundador colocou uma grande confiança sobre cada filho de Schoenstatt no Brasil. Ele sabe que, com a Mãe de Deus, somos capazes de nos empenhar seriamente para a renovação religiosa e moral de nossa Pátria. Mais do que isso, em sua última mensagem enviada a nós, ele assume esse compromisso conosco: “Cuidaremos que não somente nossa pequena Família, mas o Brasil todo, sim, grande parte do mundo – até podemos crer que o mundo inteiro, um dia se tornará Tabor de nossa Mãe e Rainha de Schoenstatt.”
O que Deus nos diz na atual situação?
A situação política de nosso país pode ser interpretada de vários modos. Em todos eles há elementos comuns: a necessidade de líderes autênticos com personalidades livres, desprendidos de interesses pessoais ou partidários, mas que se empenhem desinteressadamente para o bem de cada pessoa, sem perder a visão e o empenho por toda a nação; a força das mídias na formação de opiniões e a necessidade da educação de brasileiros com capacidade de discernimento e responsáveis por suas decisões na escolha de seus representantes.
Quem conhece bem o Movimento Apostólico de Schoenstatt sabe que a resposta para essa realidade está no núcleo da missão que a Mãe de Deus quer realizar a partir do Santuário: a educação do homem livre, mariano e comunitário, o homem novo, empenhado por uma nova sociedade.
Percebe-se que as informações sobre a situação política tocam o coração dos brasileiros, despertam o interesse pelo futuro da pátria e repercutem de vários modos. É muito natural e saudável que haja diferentes posições partidárias. Mas, a meta final e comum deve permanecer a mesma: uma nova ordem social. É preocupação de muitos que carregam responsabilidades em nossa Igreja no Brasil que as opções de linhas políticas, visando o bem da nação, não se tornem uma paixão cega, como é muitas vezes na torcida por um time de futebol, na qual, para muitos, a vitória do time tem que acontecer independente dos meios, pois se trata de honra e orgulho pessoal.
Cada um seja ponte de misericórdia
O Papa Francisco escreve: “É desejável que a linguagem da política e da diplomacia se deixe inspirar pela misericórdia… Faço apelo, sobretudo àqueles que têm responsabilidades institucionais, políticas e de formação da opinião pública, para que estejam sempre vigilantes sobre o modo como se exprimem a respeito de quem pensa ou age de forma diferente e ainda de quem possa ter errado. É fácil ceder à tentação de explorar tais situações e, assim, alimentar as chamas da desconfiança, do medo, do ódio. Pelo contrário, é preciso coragem para orientar as pessoas em direção a processos de reconciliação, mas é precisamente tal audácia positiva e criativa que oferece verdadeiras soluções para conflitos antigos e a oportunidade de realizar uma paz duradoura. ‘Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. (…) Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus’ (Mt 5, 7.9).”1
Na situação política do Brasil, não se deve retornar para a rotina como perdedores ou vitoriosos à espera do próximo campeonato. Estamos todos enlaçados no mesmo destino e está em jogo a vida de milhões de irmãos e o futuro de uma nação inteira. Na condução de um país, o bem da nação está acima das opções partidárias. Disso faz parte a misericórdia para com os mais necessitados e a execução de projetos que possibilitem a cada um ser autor de sua própria história, com a alegria de sustentar-se com o próprio trabalho.
A conquista do espírito social
Nem todos se sentem chamados para ser um guia político. Mas, cada brasileiro é responsável pela história do Brasil e todas as decisões – grandes ou pequenas – começam no coração. A tão necessária nova terra mariana – renovação religiosa e moral do mundo – começa dentro de cada um. Ao comentar sobre a situação social da Alemanha, durante a intensa crise causada pela guerra, o Pai e Fundador tornou claro para seus educandos que os problemas sociais precisam ser resolvidos a partir do coração de cada um, pois é no coração dos líderes que se decide o bem da nação: “Se queremos desenvolver uma ação social abrangente, nossa maior ação social deve consistir na conquista do espírito social. O espírito social é o espírito do amor, da bondade, da consideração por outros, da delicada sensibilidade para com as aflições dos outros e a pronta e atenta disponibilidade em ajudar. Numa palavra: é o espírito de um heroísmo sacrifical verdadeiramente cristão… este espírito social só pode existir onde se combate energicamente o egoísmo, o amor próprio, a busca do próprio proveito. Temos assim diante de nós um grande e vasto campo de ação social! (…) A arma, a espada com a qual contribuímos para conduzir a pátria à vitória consiste em séria expiação, em autodomínio, em posse de si: em auto santificação.” (dezembro, 1914)
Na Aliança de Amor, eduquemo-nos para o autêntico espírito social. “Podemos, todos juntos, conseguir algo como instrumentos de nossa Mãe celeste, se cada um no seu lugar empenhar todas as suas forças e cuidar que o bem gere continuamente o bem… Queremos apenas ser instrumentos de nossa Mãe celeste. Quanto mais fraco e miserável o instrumento, mais claramente resplandece a glória de Maria no meio das nossas obras… Chegou a hora! Todos devem estar a postos! … Nós vivenciamos somente uma pequena fase da gigantesca luta entre Deus e o demônio… Por mais vitoriosa que seja a investida do espírito do mundo, Deus triunfará.” (Pe. José Kentenich 22.5.1916)
Unidos ao Pai e Profeta, cada um de nós é responsável pela nova terra mariana que tanto desejamos. Ela começa dentro de nós, expande-se primeiro para os que convivem diariamente conosco e se amplia aos mais amplos círculos.
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NOTA – Esse artigo tem sua publicação original em maio de 2016.
1 Mensagem para o dia 8 de maio de 2016
Fonte: Revista Tabor, edição 99, maio de 2016