Devemos ser caracteres firmes, livres e… sacerdotais? O que isso quer dizer?
Pe. Marcelo Cervi – Desde o Documento de Pré-Fundação de Schoenstatt (1912), o Pe. José Kentenich convoca os schoenstattianos a serem personalidades «firmes, livres e sacerdotais». Trata-se de um programa de vida, um estilo de ser, uma escolha de identidade, que se busca conseguir por meio da Aliança de Amor. Pela Aliança, Nossa Senhora é aceita como Educadora e deve educar o seu filho e conduzi-lo a esse estilo de vida que inclui também uma dimensão «sacerdotal». Schoenstatt quer formar pessoas que tenham um caráter sacerdotal maduro. Mas o que significa isso?
O Concílio Vaticano II ensinou que todos os cristãos, pelo Batismo, participam da tríplice missão de Cristo: sacerdotal, profética e real (Lumen Gentium, nn. 34-36). Ou seja, todos os cristãos são sacerdotes, profetas e reis, como Jesus. Essa dimensão sacerdotal da vida cristã é a capacidade de «oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo» (cf. 1Pd 2,5), também chamada de «sacerdócio comum» (a todos os batizados), distinto do «sacerdócio ministerial» (conferido pelo Sacramento da Ordem).
Ser sacerdotal é consagrar seu dia a dia
Em outubro de 1931, o Pe. Kentenich pregou um retiro intitulado «A missão divina», no qual discorreu sobre a tríplice missão de Cristo e, em união a Ele, da tríplice missão de todos os fiéis e dos presbíteros em particular. Neste retiro, nos diz que, antes de tudo, o sacerdócio comum incluiu «uma união íntima com Jesus, que se traduz numa vida de fé e de amor, oferecendo sacrifícios espirituais ao longo do dia» fazendo sagrada (santificando, consagrando) a vida diária ao oferecê-la ao Pai em união com Jesus, lembrando que o sacerdote é aquele que «torna sagrado» (consagra) alguma coisa ao oferecê-la a Deus.
Com isso, o Pe. Kentenich antecipava o ensinamento do Concílio Vaticano II (LG 34) que diz: «todos os trabalhos, orações e atividades pastorais, a vida conjugal e familiar, o trabalho de cada dia, o descanso do espírito e do corpo, se forem feitos conforme o Espírito Santo… e também os incômodos da vida, suportados com paciência, se tornam sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo (cfr. 1 Ped. 2,5). Estes sacrifícios são piedosamente oferecidos ao Pai, juntamente com a oblação do Corpo do Senhor, na celebração da Eucaristia. E deste modo os leigos, agindo em toda a parte santamente, como adoradores, consagram a Deus o próprio mundo».
Ser sacerdotal é interceder e ser apóstolo
Nesse mesmo retiro de 1931, O Pe. Kentenich recordava que o sacerdócio comum inclui, além da dimensão de consagração (tornar sagrado), aquela de intercessão e de apostolado, pois o sacerdote é, por natureza, mediador e santificador «expansivo» de toda realidade exterior. Diz o Fundador: «devemos ir além do nosso próprio eu e oferecer sacrifícios de intercessão por todo mundo e pela Igreja. Além disso, devemos projetar-nos para a pastoral, levando a nossa missão sacerdotal para o mundo, mediante o nosso exemplo e também mediante a defesa das realidades divinas, dos assuntos do cristianismo, da educação cristã e da integralidade do matrimônio. O sacerdócio comum recebido no Batismo nos leva a isso».
Assim, pela Aliança de Amor – forma original de viver as promessas batismais segundo a espiritualidade de Schoenstatt – todo schoenstattiano, mulher ou homem, vive a dimensão sacerdotal da vocação cristã sob a proteção e a educação de Maria, com Maria e como Maria. Formado por Ela e assumindo o seu comportamento, o schoenstattiano busca ser «personalidade sacerdotal» mariana através do sistema ascético-pedagógico de Schoenstatt, sobretudo o horário espiritual e as múltiplas contribuições ao Capital de Graças. Desta forma, consagra perfeitamente todas as realidades da vida, tudo oferecendo ao Pai e, ao mesmo tempo, intercede pela humanidade e busca a santificação de todas as realidades nas quais está inserido, principalmente pelo testemunho pessoal.
* Contribuição do Instituto dos Sacerdotes Diocesanos de Schoenstatt