Muitos perguntam pelo “por quê” da dor e do sofrimento. Uma pergunta que não possui resposta alguma em si mesma. Melhor seria perguntar-nos pelo “para que” da cruz em nossa vida.
Ir. M. Glaucia Couto – Compreender o sofrimento como algo positivo é uma tese inteiramente contrária ao pensar do tempo de hoje. Sem uma fé prática no Deus da Vida e da História, o homem da pós-modernidade vê apenas as aparências da realidade da vida e pouco se importa com a verdade e o valor dos acontecimentos. Com essa disposição, ele torna-se superficial e improdutivo nos caminhos da vida, da fé e da graça divina. É mais cômodo ignorar, e até mesmo negar, a presença amorosa de Deus, que muitas vezes o visita pelo sofrimento e a prostração com o objetivo da trazê-lo de volta ao seu coração de Pai.
Talvez o ser humano nunca tenha sofrido tanto em sua vida como nos dias de hoje. Os avanços da ciência e da tecnologia têm contribuído em muito para aliviar as dores do ser humano e dar-lhe maior conforto na vida. Olhemos para os nossos hospitais. Nunca o ser humano teve tantos recursos para mitigar a dor e superar muitas doenças que no passado eram incuráveis. Contudo, os médicos não conseguem evitar a própria morte e nem eliminar as doenças. Aliviando umas, outras e novas surgem. A chamada “doença do século XXI”, a depressão, não oprimia tanto o ser humano no passado, como hoje. Ela não respeita nem pessoas idosas, de meia idade, pessoas jovens e até mesmo as crianças. São os enigmas da vida pós-moderna que hoje nos afligem e desafiam.
Saber para que estamos sofrendo
Por que, então, o sofrimento aumenta cada vez mais no nosso tempo? Onde estão, pois, a causa e o sentido deste sofrimento, em constante escalada na nossa vida humana?
Somente existe uma resposta que pode nos valer nesta interrogação do coração humano. Que resposta é esta? O fato é que nós, homens da pós-modernidade, sofremos a contragosto, renitentes e, muitas vezes, revoltados, sem compreender a causa e o sentido do sofrimento.
Se olharmos para a história, percebemos que mesmo o homem pagão sabia a quem oferecer suas dores e os seus sofrimentos. Ele sofria para agradar às suas divindades, embora falsas, mas que lhe ofereciam um paliativo na dor. Isto lhe dava sentido e força para sofrer mais resignado e sereno. Portanto, ele sabia para quem estava sofrendo, embora não conhecendo a causa da própria dor.
É pela Sagrada Escritura da Palavra de Deus que nós sabemos qual é a origem do sofrimento. Ela nos diz que a raiz de toda dor está no pecado original, cometido por nossos primeiros pais no início da Criação. Houve uma ruptura da Aliança de Amor com Deus. E esta ruptura trouxe todas essas consequências à humanidade.
A Escritura também nos aponta o remédio para a enfermidade, a dor e o sofrimento. É Cristo que veio até nós, entrou na nossa vida humana, por meio da Virgem Maria.
E ele veio para quê? Para assumir e santificar as nossas dores e os nossos sofrimentos, a fim de transformá-los em caminho de libertação e redenção. Sim, na Cruz Ele assumiu toda a amargura do sofrimento, para dar sentido novo e mérito a toda dor oferecida, voluntariamente, ao Capital de Graças.
A dor é também uma forma de envio para a missão
Somos chamados não apenas para levar com paciência e resignação a nossa vida de dores e sofrimentos. Porém, somos enviados como Missionários da própria Enfermidade, ou seja, cabe a nós evangelizar os homens e as mulheres de hoje, por meio da nossa condição de enfermos. Muitos deverão chegar a Deus, mediante o nosso testemunho de conformidade com a vontade de Deus e, até mesmo, da nossa alegria de sofrer por amor a Cristo, a exemplo dos antigos e recentes mártires da Igreja. Temos muitos exemplos na nossa Família de Schoenstatt, muitas vezes desconhecidos e pouco valorizados.
E, como não é propriamente a ação e a atividade que tornam fecundos o apostolado, mas sim as contribuições ao Capital de Graças, nós temos a melhor oportunidade de alcançar para a Família de Schoenstatt esta graça da fecundidade apostólica. E isto para a ação missionária de todo o Movimento de Schoenstatt.
Assim, a dor e o sofrimento, que jamais faltaram ao homem do passado e nem vão faltar para o homem de hoje, tornam-se um meio precioso para podermos ajudar a humanidade pós-moderna a saciar sua sede de prazer, felicidade e alegria.
O que precisamos fazer, pois, na nossa vida?
Com o nosso apostolado na enfermidade, ajudar o mundo a reencontrar o sentido da dor e do sofrimento e transformá-los numa abundante bênção de Deus. Pela nossa fé e pelo ensinamento da Igreja sabemos que sofrer não é desgraça, mas uma bênção divina.
O nosso Pai e Fundador, Pe. José Kentenich, costumava dizer: “Se por algum tempo não experimento contrariedades e sofrimentos, já começo a perguntar-me se o bom Deus ainda me ama”. E nós sabemos hoje o quanto a vida dele foi uma única cadeia de sofrimentos, desde os dias de sua mais tenra infância, na sua juventude, como jovem Sacerdote, na sua vida de Fundador, no tempo de sua permanência como prisioneiro no Campo de Concentração de Dachau e nos 14 anos de exílio em Milwaukee.
Como cumprimos esta missão, exclusivamente nossa, de evangelizar pelo sofrimento?
Entrando na Escola de Maria e deixando-nos formar por Ela. Nossa Mãe conhece o sentido do sofrimento, pois sofreu com seu Filho Jesus e esteve ao pé da Cruz, oferecendo com Ele ao Pai todos os sofrimentos pela redenção da humanidade.
Transformar a enfermidade em bênção de Deus significa, portanto, voltar ao cultivo da união com Cristo, voltar-nos para os valores eternos e oferecer tudo para a salvação das almas imortais. Isto, naturalmente, exige o cultivo de uma profunda vida interior de oração. Sem unir o sofrimento à vida de oração, não seremos capazes de transformá-lo em bênção e fonte de graças!
Como o Apóstolo São Paulo, também nós queremos anunciar àqueles que estão em contato conosco, de que na nossa enfermidade estamos sofrendo as dores de parto de sua redenção em Cristo. E, com nosso Pai e Fundador almejamos descobrir o que ele escreveu no Rumo ao Céu: “Uma saudação tua é cada sofrimento que dá asas a nossa alma, que marca com firmeza a direção e mantém viva nossa aspiração” (74).
Então, sim, seremos capazes de repetir todos os dias de novo e a todas as pessoas que sofrem: “Deus é Pai, Deus é bom; bom é tudo o que Ele faz, mas também, permite!”
O sofrimento muitas vezes traz dentro de nós um tristeza que não tem consolo mas quando nos debruçamos no colo de Jesus se torna mais leve