Fernando Panno e Andréia J. Piovesan* – De um ponto de vista pedagógico e comportamental, a relação entre limites e liberdade, no dia a dia da sala de aula, pode parecer contraditório. Em um cenário completamente instável em que vivemos, com o avanço tecnológico e midiático, nossas crianças e jovens estão a mercê de uma gama gigantesca de informações que, como professores ou educadores, nem sempre conseguimos filtrar.
Esta preocupante realidade nos leva a refletir… é possível impor limites às nossas crianças, mantendo os preceitos de liberdade, tão importantes para sua formação humana, cristã e profissional? Pe. José Kentenich nos mostra que sim, é possível.
Lições do Pe. Kentenich
Para compreendermos esta relação extremamente tênue entre liberdade e limites, Pe. Kentenich nos deixa lições em suas construções pedagógicas, especialmente quando fala da liberdade com o principio da “escolha, responsabilidade e autonomia”. Quando falava aos seminaristas em formação, em um tempo onde os limites eram impostos por princípios de moralidade, ética e temor a Deus muito mais intensos que hoje, ele ousava abrir os corações dos jovens para a retórica “liberdade com responsabilidade”, ou seja, homens livres para decidir, questionar e construir uma identidade própria, mas que assumem as responsabilidades de suas atitudes e ações.
Nós schoenstattianos, que buscamos construir nossa história alicerçados por nosso ideal pessoal, temos na figura de nosso Pai e Fundador um exemplo de vida dedicada para seguir Cristo, com o amparo de Maria. Ele abriu mão de sua liberdade física em prol da obra que acreditava. Mesmo sofrendo os horrores do Campo de Concentração, ele não se deixou vencer. Seu exemplo de fé e resiliência fortaleceu sua divina obra fora dos muros de Dachau.
Somos livres em nossas escolhas
Precisamos compreender essas relações desafiadoras, de mostrar aos nossos educandos que existem muitos caminhos a seguir, que os tempos modernos em que vivemos nos oferecem uma diversidade de possibilidades, que somos livres para tomar nossas escolhas, como Pe. Kentenich foi. Que nossas escolhas nos trarão consequências e marcas, que podem ser positivas ou não. Essas escolhas, baseadas em liberdade, devem ser conduzidas, por meio de orientações e exemplos, e aí entram os limites.
A confiança possibilita a liberdade
Os limites são conotações da confiança nas relações afetivas, ou seja, se educarmos com exemplos e ações concretas, os limites são colocados naturalmente, sem restringir a liberdade. Pe. Kentenich dizia, “a confiança possibilita a liberdade”. Se uma criança confia na integralidade moral e ética dos que a espelham, os limites dessas pessoas serão seus limites, mesmo que lhe seja dada liberdade para perfazer suas próprias escolhas. O nosso maior desafio, como educadores pelo exemplo é permitir que nossas crianças e jovens, diante de sua liberdade de escolha, decidam com convicção seus passos, espelhados nos nossos.
Como professores, encontramos um “norte” no exemplo do Pe. Kentenich
Ao refletirmos sobre o papel do professor à luz da pedagogia de nosso fundador Pe. Kentenich, encontramos um “norte” como educadores. Seus ensinamentos nos mostram que o amor deve permear nossas ações e que estabelecer limites, regras, com afeto e respeito é um caminho possível e que traz resultados concretos. O educador, além de conhecimentos científicos entrega aos seus alunos o seu “ser” e o seu “agir”, por isso o exemplo é o grande norteador desse processo e esse legado nosso Fundador nos deixou, mostrando que é possível.
*Fernando Panno e Andréia J. Piovesan são professores e pertencem à Liga de Famílias, em Frederico Westphalen/RS