O que significa ser livre?
O homem novo schoenstattiano, por ser mariano, é um homem livre: ama a liberdade e busca vivê-la plenamente em Jesus Cristo.
Cristo infundiu em nós o espírito de liberdade e não o de escravidão. Pois, “para sermos livres, Cristo nos libertou” (Gal 5,1; cf Lc 4, 18-19, Rom 8,14).
O tipo de homem schoenstattiano é o homem radicalmente oposto ao homem-massa que reina em nosso tempo; o qual, apesar de seus proclamas libertinos, contradiz a verdadeira liberdade.
“A liberdade é uma palavra que aparece em todos os dicionários. É um canto de todos os jornais e canções. Um parágrafo de todos os livros de direito; uma faixa de todas as bandeiras; um sonho de todos os povos; um registro de todos os órgãos.
Liberdade é a palavra mais tranqüila e com diferentes sentidos do linguajar humano. A liberdade é uma mera aparência, um som vazio e sem conteúdo, enquanto não se esclarece do que se é livre: se é livre de mentira ou livre de verdade; livre de irresponsabilidade ou de responsabilidade; livre de ódio à religião ou livre da religião; livre de correntes ou livres… da própria liberdade” (Cardeal Faulhaber).
A cada momento, ouvimos a palavra “liberdade”, mas, cada um vende sua própria mercadoria de liberação. Na verdade, poucas palavras são tão usadas como a palavra “liberdade” e “libertação”. Romperam-se as correntes dos escravos de galera, porém, não desapareceram as escravidões mais deformadoras e destruidoras do homem e da sociedade.
O homem massificado assume sem dificuldade o que dita a moda; o que “pensa a gente”; o que faz ou acredita a maioria; o que dita a propaganda, o grupo social ou político ao qual pertencem; o que se anuncia nos meios de comunicação… Como um camaleão muda segundo o ambiente e as conveniências, não está “amarrado” a nada.
Pe. Kentenich descreve o homem massa como aquele tipo de pessoa que pensa o que pensa, porque os demais o pensam (suas opiniões são o que trazem a imprensa ou a TV, sem que se tenha formado verdadeiramente um juízo pessoal); que diz o que diz porque os demais o dizem (simplesmente segue a corrente); que faz o que faz, porque os demais o fazem (imita e se representa conforme o ambiente). Este tipo de homem não é livre, não se possui a sim mesmo, não possui convicções, foge de assumir compromissos. Está longe do ensinamento que Jesus proclama: “Vosso falar seja ‘sim’, ‘sim’, ‘não’, ‘não’ ”. (Mt 5, 37)
Como resposta ao tempo, Schoenstatt se sente chamado a lutar por uma autêntica liberdade. Por essa liberdade que nos define como pessoa humana e filhos de Deus. Pela liberdade que encarnou Maria, a Imaculada. Essa foi a meta que Schoenstatt perseguiu desde o início, formulada já no “Programa” do Documento de Pré-fundação (1912): “Sob a proteção de Maria, queremos nos educar como personalidades livres e sólidas”.
O esforço pedagógico do Pe. Kentenich se concentrou em educar homens livres, livres de escravidões e livres para amar. Todo o desenvolvimento e a história de Schoenstatt pode-se considerar como uma contínua luta pela perfeita liberdade.
Ser livre “de”
A liberdade que caracteriza o homem novo abrange duas dimensões: ser livre “de” e ser livre “para”.
A liberdade que Cristo nos trouxe é a libertação de toda escravidão: do pecado, da ânsia de poder e de ter, da angustia e do temor, do egoísmo e da massificação, dos instintos desordenados, daquelas cadeias que nos prendem interiormente e nos arrastam a uma existência indigna; livres, sobretudo, do pecado, para poder optar por aquilo que constitui nosso verdadeiro bem e felicidade.
Este processo de libertação não se dá sem renuncia e sacrifício. Por isso, uma espiritualidade e uma ascética da liberdade, sempre deve incluir em seu programa a educação para a renuncia: a videira deve ser podada para que dê mais fruto (cf Jo 15, 2).
Ser livre “para”
A segunda dimensão da liberdade é a liberdade “para”. Ser livres não significa ser uma fumaça solta, que vento leva de um lado a outro. A liberdade não é ausência de compromisso; é, antes, capacidade e vontade de compromisso.
O homem novo é um homem que aprendeu a decidir, a tomar posições, a fazer opções. Isto implica um processo interior: deve aprender a discernir, a dar o passo de decisão ou optar (se trata de decidir entre dois ou mais opções) e logo, a realizar o que se decide. Esta realização é o complemento natural da decisão: o homem livre quer realizar por sim mesmo, quer ser gestor e não simplesmente um parafuso de uma máquina que ordena e reclama tributo. Quer “viver” e não simplesmente ser “vivido”.
A capacidade de decidir é a essência da liberdade. É o que chamamos de liberdade interior, que, como indicamos, se aperfeiçoa e encontra uma compreensão na liberdade “exterior” ou de realização.
A liberdade de realização ou exterior pode nos ser tirada ou dificultada por meio da violência ou por outros meios. O que nunca nos pode ser tirado é a nossa liberdade interior. Esse é o sentido do martírio de cristãos, que preferiram morrer antes de trocar a sua opção por Cristo, de contrariar suas convicções ou negar os seus princípios.
Schoenstatt persegue este objetivo: de encarnar um homem novo uma personalidade “que tenha alma” e “interioridade”, e que, a partir dessa interioridade (a liberdade interior) seja capaz de auto-decidir e que, por ela, seja responsável por suas decisões e seus atos.
Liberdade e formas
O Pe. Kentenich propõe formulações que expressam o sentido da liberdade do homem novo. Afirma:
“O homem novo é uma personalidade autônoma, uma grande interioridade, animada por uma vontade e disposição a decidir por si mesma; é um homem responsável ante sua consciência e interiormente livre, que se afasta tanto de uma rígida escravidão às formas como de uma arbitrariedade que não conhece normas.”
Explica assim que o homem novo schoenstattiano não se fecha em formas que são impostas de fora (por um ambiente, por tradição, por uma moda, pelo que dirão, por pressões políticas ou econômicas, etc.), ou formas que não contam com um respaldo vital, fazendo delas costumes e ritos sem alma. Pelo contrário, sem dúvidas, também sabe que certas normas e formas são necessárias para si mesmo e para a convivência social. Estas, certamente, também são formas que recebemos por tradição, mas que assumimos pelo sentido profundo que possui, as cultiva e assume, exercendo nisso sua liberdade.
Em outra definição, Pe. Kentenich afirma que “o homem novo é o homem comunitário e sobrenatural, que assume, a partir de sua própria interioridade e de forma radical, todas as vinculações desejadas por Deus”.
Como lemos anteriormente, significa ser livres “de” e estar orientado – isto é o essencial – a ser livre “para”. O sentido da liberdade é a auto decisão pelo próprio bem e a felicidade. Decidimo-nos por algo que avaliamos como bom para nós. Nosso maior anseio – como seres feitos à imagem e semelhança de Deus – é amar e ser amado. O sentido básico de nossa liberdade é amar, a doação de nosso eu a um tu, para entrar em comunhão com ele. Somos pessoas destinadas a entrar em comunhão. Em outras palavras: o ideal do homem novo schoenstattiano é ser livre para amar.
Texto: Ir. M. Nilza Pereira da Silva
Publicação original, em maio de 2018
quero ser livre para viver desfruta melhor dessa terrra