Para fazer o céu na terra.
Karen Bueno – “Nosso grande desafio é criar uma cultura do encontro, que encoraje cada pessoa e cada grupo a compartilhar a riqueza de suas tradições e experiências, a abater os muros e a construir pontes… Comunhão entre nós, com os outros cristãos e com todos aqueles que buscam um futuro de esperança”, escreve o Papa Francisco em sua mensagem à Conferência Episcopal dos EUA.
Sobre esse mesmo tema, o arcebispo de Juiz de Fora/MG, Dom Gil Antônio Moreira comenta em um artigo: “Num mundo onde o fenômeno terrível de migrações em massa tem assustado a humanidade inteira e onde a violência e o terror ameaçam a paz, é preciso uma resposta corajosa, mas que diminua as tensões e não que acirre os ânimos”.
Um no outro, um com o outro: uma resposta corajosa
O Pe. José Kentenich também sonhava com uma “cultura do encontro” – que, segundo o Papa Francisco, é o mesmo que cultura da aliança. Um dos objetivos de Schoenstatt, indicado pelo Pai e Fundador, consiste em formar, pela Aliança de Amor, uma nova comunidade. Em Aliança com Maria, essa nova comunidade se constitui por meio da “fusão de corações”, é o estar “um no outro, um com o outro, um para o outro” – todos os corações unidos no coração de Deus Pai. Uma autêntica vivência cristã da cultura do encontro.
Quando estava no Brasil, há 75 anos, Pe. Kentenich dizia: “Sim, nós nos abrigamos no coração. O verdadeiro amor consiste em estar espiritualmente um-no-outro. E isso constitui o céu na terra. Em geral temos uma concepção unilateral do céu e achamos que o céu é tão somente um estar em Deus. Mas é um estar mutuamente um-no-outro. Nosso céu consiste em abrigar-nos mutuamente uns nos outros” (Londrina/PR, 14.04.1947).
O Pai e Fundador chega a afirmar que “o inferno é separação”. Ele diz: “Em Dachau refleti muitas vezes sobre o que constitui o inferno, no que consiste o inferno. O inferno consiste no fato de não se possuir pessoas nos quais se vive, mas em ter somente pessoas que afligem e ferem. O viver um-no-outro é uma parcela do céu” (Jaraguá do Sul/SC, 03.04.1947).
Viver o espírito da nova comunidade é antecipar o céu na terra. É um desafio e uma missão para a Família de Schoenstatt hoje, que vive envolta em diversos desafios atuais, incluindo aquilo que o Papa Francisco chama de ‘cultura do descarte’.
Seja em qual situação e contexto for, é possível buscar uma convivência fraterna, derrubando muros e construindo pontes. Isso vale para o relacionamento com a família, com os vizinhos, no ambiente de trabalho, entre os amigos, na comunidade… “Deus sempre quer construir pontes; somos nós que construímos muros. E os muros caem, sempre”, diz o Papa.
O caminho do amor
A resposta para todas essas questões atuais, nos mostra o Pai e Fundador, é dada pelo amor: “Ontem nos perguntamos: o que é o amor? Podemos classificá-lo como um profundo ‘um-no-outro’ e ‘um-com-o-outro’ na alma. Nisso consiste todo o significado da Pedagogia de Amor… Então, como se chega ao amor? AMOR DESPERTA AMOR. Devemos crer-nos, saber-nos e sentir-nos amados. Queremos cultivar a consciência de que, atrás de todos os acontecimentos, está o amor de Deus… Deus me ama como a pupila de seus olhos” (Santa Maria/RS, 20.03.1947).
O sentir-se amado leva a construir pontes, a se colocar no lugar do próximo, a estar com ele e a servi-lo. O amor é o núcleo que faz surgir a nova comunidade, um lugar onde não há espaço para muros, mas somente para corações em aliança: um no outro, um com o outro, um para o outro. E como se chega a esse amor? “Andar se aprende andando; amar se aprende amando”.
*As conferências do Pe. José Kentenich foram retiradas do livro:
Tabor: Missão para o Brasil – Herança do Tabor I. 2ª edição revisada, 1992.
* Artigo publicado em 5 de fevereiro de 2017