“São raras as pessoas, os homens feitos de ferro. Uma pessoa com uma personalidade firme e livre é ainda mais rara”.
Quando o Pe. José Kentenich encontrou seus alunos pela primeira vez, em 1912, ele deu a conferência que ficou conhecida como Documento de Pré-Fundação de Schoenstatt. Na semana seguinte, ele teve um segundo encontro com o jovens e a conversa, nesse novo encontro, foi sobre a vida dos santos. Isso aconteceu no dia 1º de novembro de 1912. Nesta conferência o diretor espiritual, Pe. Kentenich, mostra como os santos são o exemplo concreto “para o cumprimento do nosso Programa [de autoeducação]”. Veja abaixo um resumo da conferência e a versão completa em PDF no final:
Temos a Igreja, esta educadora que Deus deu à humanidade e que sabe o valor educacional que um bom exemplo tem. As palavras ensinam, mas o exemplo atrai e por isso a Igreja vem ao encontro do nosso desejo, o máximo que lhe é possível. Hoje, na Festa de Todos os Santos, ela nos mostra um conjunto de personalidades: eles são os santos. Os santos são a fina-flor da humanidade: personalidades completas, firmes, livres e apostólicas.
– “Mas, mas esses são os santos! Os seus exemplos não me dizem respeito, porque eu não nasci para ser santo”.
Essa atitude parte de um grande erro. Quem quer que fale ou pense dessa maneira ainda não adquiriu a clareza necessária sobre o fato de que os santos, na sua autoeducação, 1) tiveram de ultrapassar os mesmos obstáculos e 2) tiveram ao seu dispor os mesmos meios que nós. Vamos então examinar juntos estes dois pontos.
1. Os santos tiveram de ultrapassar os mesmos obstáculos que nós
Meus queridos alunos! Muitas vezes pensamos que os santos já eram assim quando nasceram ou que talvez tenham desenvolvido uma personalidade aperfeiçoada com a facilidade de quem joga um jogo ou ainda com milagres ou arrebatamentos. Na verdade, muitas vezes sabemos muito pouco sobre os santos – principalmente os dos primeiros séculos. Mas, por trás do pouco que conhecemos, escondem-se mares de tempestades, batalhas ou monstros aterradores.
Os santos não eram humanos e não tinham a mesma natureza humana [que a nossa]? Quem pode duvidar disso? Então, do mesmo modo, não podemos duvidar de que eles carregavam também o pecado original. É isso que a Igreja ensina. E trata-se de um fato óbvio que o pecado original é o maior obstáculo, aliás é o único obstáculo à formação das nossas personalidades.
Vou provar-vos isso numa conferência mais para frente. Mas, se não soubéssemos mais nada sobre os santos, exceto o fato de que eram humanos, saberíamos o suficiente para nos convencermos de que eles tiveram de ultrapassar as mesmas dificuldades que nós. Mas graças a Deus, sabemos mais que isso, principalmente sobre aqueles santos que foram pesquisados e descritos recentemente. […]
2. Os santos tiveram ao seu dispor os mesmos meios que nós
Mas, de que meios dispunham eles para ultrapassar esses obstáculos? É o que vamos tratar neste segundo ponto. São os mesmos que estão à nossa disposição todos os dias. […] Os tesouros de graça dos sacramentos…
Também nós temos a oportunidade a cada dia de fortalecer a nossa vontade e ultrapassar as dificuldades, tanto as grandes como as pequenas. Por que é que ainda hesitamos em começar a formação da nossa personalidade? Ainda falta uma coisa. Temos de querer, mas querer mesmo. Lacordaire nos diz que em cada um de nós se esconde um santo e um delinquente. E depende totalmente da nossa vontade tornarmo-nos um ou outro. Basta que o queiramos de forma séria, consciente e perseverante. Os santos elevavam-se a si próprios em cada dia para este nível de força de vontade. São nada menos que a boa vontade da humanidade canonizada.
Sendo assim, nós também temos de querer, para nos tornarmos personalidades firmes, livres e sacerdotais (apostólicas). Temos de aprender a arte de querer com os santos. Quando lemos a biografia de um santo temos de repetir vezes sem conta: Tal como este santo cumpriu a vontade de Deus em situações extraordinárias, também eu quero cumprir os meus deveres normais do dia a dia com total fidelidade.
Temos aqui uma ascética razoável. Não significa que queremos imitar tudo. Quantos ficaram loucos por causa disso, quantos estragaram completamente a sua saúde!
Meus queridos alunos, já nos convencemos, com esta breve reflexão, que os santos atingem totalmente aquele objetivo pelo qual lutamos, sabendo que eles tiveram de ultrapassar os mesmos obstáculos e tiveram ao seu dispor os mesmos meios que nós. A recompensa para a sua eficiente autoeducação era o próprio Deus, o céu com a sua glória e bem-aventurança eternas. Uma alma de herói sabe sempre quão preciosa é uma outra alma heroica. Assim, jovem alma, sê uma alma de herói! Contempla os teus exemplos de heróis! Segue corajosamente os seus passos!
Texto retirado do livro Heróis de Fogo,
escrito pelo Padre Jonathan Niehaus, ISch.
Tradução portuguesa