A Mãe e Rainha é a Educadora que forma Cristo em nós
Ir. M. Claudete Rauen – O relato da cena do Tabor é muito rica em detalhes. Ela diz que, no monte, enquanto Jesus se manifestava transfigurado, ouviu-se uma voz que procedia da nuvem que os envolvia: “Este é o meu Filho muito amado!”
“Filho amado”, neste contexto, significa “Filho único”, aquele que tem com o Pai uma relação absolutamente incomparável, que nenhum outro pode ter. Podemos dizer também: filho predileto, aquele que é amado e tem um lugar seguro no coração do Pai, que sabe e sente-se amado.
Jesus é o Filho do Pai, que assumiu a natureza humana e se revestiu da fragilidade dos homens. Ele é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus.
O nosso Pai e Fundador, Pe. José Kentenich, quis assegurar esta verdade através da espiritualidade de Schoenstatt e confiou a tarefa a nós, filhos de Schoenstatt no Brasil. A imagem de Cristo que ele nos apresenta é o FILHO. Ele, Cristo, é o Filho do Pai por excelência.
Transfigurar a realidade exige que tomemos a sério o nosso caminho de autoeducação para que a nossa MTA possa formar em nós Cristo. Ele deve novamente ressurgir no nosso tempo, em cada um de nós.
Pe. Kentenich apontou-nos a imagem de Cristo como o FILHO: de natureza elevada, de natureza perfeita e de natureza sacrificada.
1. Filho de natureza elevada – Filho transfigurado do Pai
Filho de natureza elevada é o mesmo que filho transfigurado. Em Jesus a sua divindade permanecia oculta. Normalmente não se percebia nele a sua divindade, embora ela sempre estivesse presente. No Tabor esta natureza elevada se manifestou e os apóstolos puderam contemplá-lo em sua divindade.
O nosso Pai e Fundador explica-nos: “Exteriormente não encontramos forma de beleza em seu ser, mas, de modo oculto, vive nele a natureza transfigurada, pois quem aí está é o verdadeiro Deus” (Pe. Kentenich 02.09.1947).
Pelo batismo, todos nós fomos incorporados à natureza elevada do Filho de Deus.
Que consequências práticas traz para nós esta realidade?
Como posso valorizar a dignidade à qual fui elevado pelo batismo, pela realidade de ser filho de Deus?
Estou consciente da minha grandeza e dignidade? Como testemunho a nobreza do meu ser? As minhas atitudes, a forma como realizo as minhas atividades, mesmo aquelas mais simples, revelam a beleza do ser filho de Deus?
2. Filho de natureza perfeita – Filho muito amado do Pai
Quando o nosso Pai e Fundador fala do Filho de natureza perfeita, ele nos apresenta o modelo da nossa perfeição. A natureza é perfeita quando está ordenada, em harmonia consigo mesma, quando cada dimensão que faz parte da natureza está no seu lugar, quando não há inversão nas dimensões do ser. O ser humano perfeito é aquele em que há harmonia entre a razão, a vontade e a vida de afetos.
O nosso Pai e Fundador novamente aponta o Tabor, onde vemos a manifestação plena do Filho de Deus: “Como é perfeita a sua natureza no alto do Tabor!” (Pe. Kentenich 02.09.1947).
Cristo, como modelo de natureza perfeita, é colocado diante de nós pelo nosso Pai e Fundador como modelo da nova personalidade a que todos nós devemos aspirar. Para tanto, ele nos ofereceu os meios pedagógicos que nos ajudam a lutar para alcançar o ideal da natureza perfeita. O esforço na autoeducação é o grande instrumento que nos ajuda a restabelecer a ordem e a harmonia da nossa natureza tão fragilizada pelas consequências do pecado.
Somos um Movimento de educadores e de educação. Em Schoenstatt somos estimulados a olhar para nós mesmos, a fazermos um sério caminho de autoconhecimento e reconhecimento e a trabalhar seriamente buscando a perfeição da nossa natureza, até que possamos nos assemelhar aos traços do Filho amado do Pai.
Neste contexto, o nosso Pai e Fundador nos ajuda a refletir. Ele pergunta: “Como deverá reanalisar-se a perfeição da minha natureza? Onde estão as fraquezas da minha natureza? Quanto ainda sou tão fortemente escravizado à minha vida instintiva!”
O nosso caminho de Aliança de Amor deverá conduzir-nos até a semelhança com Cristo, de modo que o Pai possa dizer também sobre nós: “Este é o meu filho muito amado”.
3. Filho de natureza sacrificada – Filho heroico do Pai
Com Pedro, Tiago e João, Jesus sobe ao monte e revela-lhes toda a sua divindade. O nosso Pai e Fundador descreve este acontecimento: “Ali vemos Jesus, seu ser resplandece em tanto brilho que os apóstolos não conseguem olhá-lo. Tudo está voltado para ele e do céu ressoa a palavra do Pai”.
A transfiguração de Jesus no Tabor é a manifestação plena da sua glória divina e antecede a sua ida para Jerusalém, onde ele viverá a paixão e morte. Ali, Jesus prepara os apóstolos para a “subida a Jerusalém, onde serão confrontados com o mistério da condenação do Filho de Deus à morte na cruz”.
Cristo é o FILHO que se sacrificou por nós na cruz. O seu sacrifício foi um ato perfeito de doação!
O nosso Pai e Fundador apresenta-nos está imagem colocando-nos na cena em que Jesus é apresentado a Pilatos: “Eis o homem! Como a sua natureza está sacrificada, como a sacrificou! Por isso a coroa de espinhos! Por isso o manto de escárnio! Natureza humana sacrificada” (Pe. Kentenich 02.09.1947).
O seu caminho de entrega e de total aniquilamento tornou-se o penhor da sua vitória e da sua transfiguração. Também na dor, Cristo revelou-se como o Homem do Tabor, o Filho Heroico do Pai. Jamais ele perdeu a sua dignidade e a consciência de ser o Filho amado do Pai.
Como filhos do Tabor partilhamos da vida de Cristo, também no seu sofrimento. Faz parte da vida de todo o cristão participar da cruz redentora do Salvador, assemelhando-se a Ele. Para nós, em Schoenstatt, esta participação assume uma dinâmica especial, pois, pelo Capital de Graças, o nosso sofrimento torna-se redentor.
*Trecho da palestra apresentada no Congresso de Outubro de 2019 no Regional Nordeste, em 26.10.2019
Referências:
Citações retiradas do livro:
KENTENICH, Pe. José. Tabor Nossa Missão. Coleção Brasil Tabor, vol 1. Sociedade Mãe e Rainha, Santa Maria/RS, 2007, 1ª edição.
Foto: Iris Marcomini
Publicação primeira, novembro de 2019