10 de junho é dia de gratidão.
Ir. M. Jacinta Donati / Karen Bueno – Um pequeno grupo e um vasto continente a ser desbravado: esse é o começo da história do Movimento Apostólico de Schoenstatt no Brasil e na América. No dia 10 de junho de 1935, as primeiras 12 Irmãs de Maria de Schoenstatt, enviadas pelo Fundador, Pe. José Kentenich, desembarcam no porto de Santos/SP, trazendo um imenso mundo dentro de si, que deveria ser apresentado ao novo continente.
Como tudo começou
Há quase 90 anos, começa o primeiro capítulo da história de Schoenstatt na América, cujo desenrolar mostra a grandeza da Mãe e Rainha e a universalidade da Obra do Pe. José Kentenich. Em 1929, Pe. Erasmo Raabe, palotino, numa passagem por Schoenstatt, conta sobre a experiência missionária que experimentava no Brasil. Mais tarde, em janeiro de 1935, escreve uma carta ao Pe. José Kentenich pedindo que envie as Irmãs de Maria para a missão no Brasil. O Pai e Fundador lhe responde logo e, entre outras coisas, escreve: “Além do mais, alegro-me de coração que as Irmãs possam ajudá-lo no além-mar na construção de um mundo novo. Eu creio que elas, em virtude de sua instituição e sua essência, certamente possuem a capacidade de colaborar com sucesso na tarefa comum”.
Essa resposta, porém, não é ainda uma promessa, mas, apenas uma consideração ao pedido. O coração missionário do Fundador se alegra, contudo, é preciso considerar ainda diversos detalhes. Em março de 1935, Pe. Kentenich decide aceitar o pedido do Pe. Raabe, o que, naturalmente, é uma grande ousadia. A comunidade das Irmãs de Maria é recém fundada, tem apenas nove anos de existência, e não tem ainda uma estrutura interna finalizada, quanto à parte jurídica, e nem os Estatutos estão concluídos.
Uma frase que deu forças em todas as horas
O chamado da Mãe Três Vezes Admirável começa a ser atendido e, em 1º de abril de 1935, forma-se o primeiro grupo de Irmãs de Maria, que viria à América trazendo a mensagem da Aliança de Amor. Ir. M. Emanuele Seyfried relata:
“O Pai e Fundador mostrou-nos a importância da MTA e nos levou, lentamente, à compreensão da grande importância de nossa missão no Brasil e para o Brasil. Numa dessas meditações, ele nos disse: ‘Quando uma coisa se torna difícil, eu a dou para a Mãe de Deus. Isto agora deve tornar-se realidade. Agora, preciso aprender a solucionar as dificuldades com a palavra mágica: MATER HABEBIT CURAM (A Mãe vai cuidar)’
Assim o Fundador despertou em nós um grande amor à missão e firme vontade de sacrificar tudo para a MTA, para que ela pudesse conquistar novas terras no Brasil. Nossa fé prática na Providência expressava-se no MHC. Esta fé era profundamente mariana. A Mãe cuidará de tudo, se nós enchermos o Capital de Graças com as nossas contribuições. Por isso, por muito tempo, o Capital de Graças esteve no primeiro plano, em nossa aspiração. Estávamos bem conscientes de que o fundamento de Schoenstatt no Brasil seria o Capital de Graças. E nós, como geração fundadora, devíamos enchê-lo. O Senhor Padre sempre nos dizia: Onde se começa algo novo para Schoenstatt, sempre se começa pelo Capital de Graças. E nós, brasileiras, devíamos fundá-lo para o Brasil.
O Pai e Fundador nos ensinou e aconselhou que fôssemos, muitas vezes, ao Santuário e falássemos com a Mãe, estreitando assim nossas relações pessoais com a querida Mãe e Rainha de Schoenstatt, e nos incutiu, assim, a Aliança de Amor. No Santuário, encontraríamos nosso lar e a fonte de graças para a nossa missão”.
Arrumar as malas e partir
A correria para preparar a viagem é intensa e as Irmãs procuram aproveitar, o máximo que podem, o ambiente do Santuário Original. No dia 12 de maio, acontece a solenidade de envio das missionárias, no qual o Fundador lhes diz:
“Queremos ser semente da MTA. Semear é algo de grande, mas talvez seja maior ainda: lançar-se a si mesmo como semente, semente dum novo mundo. O mundo deve tornar-se, mais e mais, Schoenstatt. Este há de ser o sentido de nossa aspiração e de nossas lutas aqui na terra”.
No dia 17 de maio de 1935 as 12 Irmãs pioneiras embarcam no navio General San Martin, rumo ao Brasil:
“Um último aperto de mão talvez, uma lágrima e foi retirada a ponte. Nós, doze apostolas do Brasil, estávamos sozinhas, com silenciosa nostalgia, mas também com um vigoroso espírito de conquista. Lenta, bem lentamente, afastou-se da terra firme. Um derradeiro oceano até não vermos mais nada. Porém, sabemos por qual motivo assumimos tudo isso”, contam na crônica.
As primeiras impressões do Brasil
Narra a cronista: “Aos poucos, começamos de novo a arrumar as nossas coisas (no navio), porque a nossa meta se aproximava. Quando o navio ancorou numa bahia, já vimos terras muito belas e nos alegramos com a expectativa das belezas que nos esperavam no Rio de Janeiro. Nos últimos dias, viajamos ao longo da costa brasileira. O navio balançava muito e isto custou sacrifícios para todas. Apesar de continuar a maresia, a alegria não nos deixou. Ao ancorarmos em Pernambuco, tivemos um sentimento singular, pois nos conscientizamos de que já estávamos em terra brasileira”.
As missionárias fazem uma parada no Rio de Janeiro/RJ e se surpreendem com as paisagens que encontram. Ir. M. Norberta Schulte conta:
“Quando, finalmente, o navio ancorou, a 8 de junho, no Rio de Janeiro/RJ, arrumamo-nos para fazer um passeio. Pe. Winold, que estava no porto, cuidou de uma boa condução pela cidade. Duas beneditinas nos receberam e nos hospedaram, muito amavelmente, em seu colégio e nos mostraram coisas maravilhosas da cidade. Num alto monte, vê-se de todos os lados uma enorme estatua de Cristo, que estende os braços protetores sobre o pais. Que belo! Durante muito tempo ficamos paradas a beira mar e não nos cansávamos de contemplar as belezas deste mar”.
Santuário de Jacarezinho/PR, Tabor Fundamento de Schoenstatt no Brasil
Em terra firme, é hora do desembarque final
Às 7 horas, na segunda-feira, 10 de junho, um dia depois de Pentecostes, as Irmãs aportam em Santos/SP. Ir. M. Norberta continua:
“Esta parada em Santos foi, para todas nós, uma aventura muito divertida. Nós conhecíamos apenas alguns vocábulos em português e, como é obvio, houve muitos risos de ambas as partes. Tal coisa se precisa experimentar. Reunimo-nos num grande ônibus, lotado com 12 padres e 12 Irmãs, e fomos para São Paulo/SP. Cada qual tinha muito a contar a respeito dos últimos acontecimentos. Em breve, porém, não pensamos mais no que passou, pois a bela natureza nos cativou inteiramente. Subimos mais e mais por entre matas maravilhosas, parecendo quase mata virgem e, lá em baixo, a admirável planície e o mar. Foi um prazer que se modificou, quando chegamos às alturas. A estrada era mais macia e fomos embaladas de um lado a outro. Mas, ainda havia muito para ver de ambos os lados”.
Em São Paulo/SP, as pioneiras pegam um trem, rumo a cidade de Ourinhos/SP, e de lá são levadas para seu primeiro lar em terra brasileira, no município de Jacarezinho/PR.
O início difícil vivido por amor a nós
É dali, do interior do Paraná, que o Movimento Apostólico de Schoenstatt se expande por todo Brasil, ganhando força quando o Fundador, Pe. José Kentenich, faz várias visitas pelo continente. Mas, foi um começo que exigiu muito das primeiras Irmãs. Elas relatam:
“Ao desembarcarmos em Santos/SP, no dia 10 de junho, estávamos cheias de fé e consciência de missão, e achávamos que o mundo precisava de nós, que o Brasil precisava de nós. Trazíamos Schoenstatt para o Brasil! Mas, agora nos deparamos com a realidade da vida. Vimos que não podíamos realizar depressa nossos planos e nossa missão. Tivemos que trilhar um longo caminho de duras lutas. Os primeiros anos estiveram sob o lema: Capital de Graças e Mater habebit curam. As lutas se apresentavam com toda a dureza, o clima, a língua nova, a saudade do Santuário, de Schoenstatt. A semente foi mesmo lançada na terra e parecia morrer. Experimentamos a pequenez do instrumento humano, mas, não desanimamos e não deixamos de lado o nosso ideal. A palavra mágica nos ergueu sempre de novo e a responsabilidade pela fundação, por meio das ofertas ao Capital de Graças, para o segundo Schoenstatt no Brasil, não nos deixaram esmorecer”.
É por meio dessas jovens Irmãs inexperientes e com formação religiosa inacabada que Schoenstatt cruza o Oceano Atlântico e chega à América. O que levam? O Fundador as tinha orientado:
“Levem a cruz e o Santuário. Mater Habebit Curam”.
Elas são fiéis instrumentos, que cumprem com ousadia a missão que lhes é confiada, mesmo com suas limitações e debilidades. Hoje, as mesmas palavras do Fundador continuam a ecoar, pedindo a cada um para “lançar-se a si mesmo como semente, semente dum novo mundo. O mundo deve tornar-se, mais e mais, Schoenstatt”.
Quais são os “continentes” que ainda precisam ser desbravados? O Pai e Fundador conta conosco, com nossa ousadia e, principalmente, com nosso amor.
Publicação original, 10 de junho de 2015
Comovente história