Uma coroação singular para o Movimento no Brasil.
Karen Bueno – A Família de Schoenstatt tem a tradição de coroar a Mãe de Deus em diversas situações – uma característica bem própria do carisma, que vem do coração do Pai e Fundador, Pe. José Kentenich, e gera vida aos diversos ramos e comunidades. Das várias coroações realizadas até hoje, uma tem importância singular na história da Obra no Brasil: a coroação da Mãe como Rainha da Filialidade Heroica, realizada no Santuário Tabor, de Santa Maria/RS, em 20 de agosto de 1949.
Pela primeira vez, no primeiro Santuário brasileiro, a Mãe recebe a coroa em sua fronte. A ocasião não poderia ser mais especial, já que o próprio Fundador visitava o Brasil e pode, ele mesmo, coroar a MTA. A história revela que essa coroação está diretamente ligada ao Terceiro Marco Histórico de Schoenstatt, num contexto em que a Igreja questionava o Pe. Kentenich, sua pedagogia e sua Obra, na busca de comprovar se Schoenstatt era realmente Obra inspirada pelo Espírito Santo.
A cronista relata: “A palestra do Senhor Padre (Pe. Kentenich) tinha um cunho de austeridade, quando falou sobre os problemas no âmbito da Igreja, da Família e da vida pessoal. […] Terminada a palestra, rezamos nossa oração de coroação. Depois o Senhor Padre tomou em mãos a coroa, subiu os degraus da escada revestida de branco e, sempre segurando a coroa nas mãos, rezou espontaneamente, os olhos nos olhos da Mãe de Deus, dirigindo-se singelamente a ela. Ao terminar sua oração, coroou a Mãe de Deus como Rainha da Filialidade Heroica [1]”.
Enquanto o Fundador estava na América do Sul, um visitador apostólico, representante oficial da Igreja, visitou Schoenstatt e apontou suas dúvidas e críticas sobre o Movimento. Todos esses apontamentos foram enviados ao Pe. Kentenich no Chile, que previa um período difícil para a Obra. Por isso, no dia 31 de Maio de 1949 – data do Terceiro Marco Histórico –, ele deposita a primeira parte da carta-resposta aos questionamentos da Igreja sobre o altar do Santuário de Bellavista/Chile, confiando à Mãe de Deus os cuidados pelo futuro da Família de Schoenstatt.
Enquanto viajava pelos Brasil, Pe. Kentenich continuou escrevendo essa carta, explicando seu carisma e apontando algumas coisas que, segundo ele, precisavam ser renovadas na Igreja, como, por exemplo, a valorização do leigo na vida eclesial (recordando que se tratava de um período anterior ao Concílio Vaticano II). Nessa época, as Irmãs de Maria preparavam a coroação da Mãe de Deus e ele viu aí uma oportunidade providencial de entregar todo o futuro da Obra nas mãos de Maria e mostrar como deveria ser a atitude da Família de Schoenstatt frente às dificuldades que surgiam.
Missão para todos os tempos
No título de “Rainha da Filialidade Heroica” está expressa a espiritualidade dos filhos de Schoenstatt, como aponta a oração de coroação: “Pedimos-te novamente que aceites a coroa como expressão do pedido: cuida que todos os filhos de Schoenstatt recebam e conservem, até o fim dos tempos, a graça da filialidade heroica e, com ela, a garantia do elemento essencial de nossa espiritualidade”. O ser filial que se entrega totalmente, com suas fraquezas e fortalezas, e confia cegamente em Deus e na Mãe de Deus é o modelo ideal de schoenstattiano, é o filho que encarna verdadeiramente o ideal Tabor. A isso é acrescida uma aspiração muito maior: não apenas a filialidade, mas a filialidade heroica, que requer uma confiança ilimitada no sobrenatural e o comprometimento na auto-educação, sendo um ser filial à imagem de Maria.
Esse ato singelo, realizado por um pequeno grupo de Irmãs de Maria e pelo Fundador, é determinante na história da Obra no Brasil e no mundo: “A coroação da Rainha da Filialidade Heroica não é apenas um acontecimento entre outros, representa o grande acontecimento que marcou o rumo da história de Schoenstatt no Brasil e nos inseriu profundamente na vida e na sorte de nosso Pai e Fundador: em sua missão de Pai e profeta dos novos tempos e no Marco Histórico de 31 de Maio de 1949 [2]”.
Foto: Ir. M. Nanci Meister
[1] Coroar por quê?, Ir. M. Lúbia Bonfante, 2ª edição, pág 54.
[2] Coroar por quê?, Ir. M. Lúbia Bonfante, 2ª edição, pág 56.
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