(Foto: Jason Leung, via unsplash.com )
Vamos falar sobre inteligência artificial, vínculos e Aliança de Amor?
Guilherme e Ana Paula Paiva – Se vocês forem nerds como nós, certamente irão conhecer a literatura clássica da ficção científica a respeito da inteligência artificial, que vai desde “Frankenstein” (1818) e “O Médico e o Monstro” (1886), passando por “2001: Uma odisseia no espaço” (1968) até chegar em “O Guia do mochileiro das galáxias” (1979), com uma infinidade de péssimos livros no meio do caminho.
Ou, talvez tenham assistido às produções cinematográficas como “Metrópolis” (1927), “O Exterminador do Futuro” (1991), “Matrix” (1999), “A.I. Inteligência Artificial” (2001) ou “Star Wars” (1977) – sobre este último, registramos que um de nós sabe todas as falas decoradas, contudo, para aguçar a imaginação dos caros leitores, não diremos quem.
Fato é que a ideia de que a inteligência artificial é essa transformação revolucionária de máquinas com sentimentos, guerras interestelares, invasões alienígenas, criações fantásticas de sobre-humanos… é tão absurda quanto literária e cinematograficamente rentável. E nada mais.
E, embora já existam eletrodomésticos parecidos com os da família Jetson’s (1962-1964), ou óculos inteligentes e acessos sem chaves físicas, como previsto em 1989 no “De volta para o futuro” (infelizmente os skates voadores ainda não), até então tudo não passava de um grande exagero, que tinha sua razão de ser: instigar a curiosidade e levar às percepções humanas.
(Foto: Sezer Arslan, via unsplash)
O futuro chegou
Contudo, nem por isso a inteligência artificial deixou de avançar, pelo contrário. Hoje realizamos pagamentos por celular; com apenas a aproximação do cartão de crédito (ou por meio de relógios inteligentes) e por atendimentos online sem o intermédio de vendedores reais; as comunicações se realizam de maneira muito veloz e é comum sermos atendidos por vozes robóticas que simulam atendentes e nos guiam até o acesso à resolução do problema que possuímos (enquanto repetimos – quase sempre sem sucesso, o número do nosso CPF pelo telefone).
O GPS nos guia em carros que possuem piloto automático, enquanto no banco do passageiro alguém acessa redes sociais que possuem reconhecimento facial em fotos postadas ou um ambiente acadêmico online; ao mesmo tempo, longe de nós, máquinas exploram o fundo dos oceanos e o espaço (inacessíveis às pessoas), não obstante ali na esquina nossos dados de operações financeiras sejam analisados e gestores de recursos humanos utilizem aplicativos para selecionar candidatos conforme aptidões compatíveis. A inteligência artificial está em todo lugar e é uma crescente, na medida em que automatiza processos negociais, diminui os custos e, o que parece ser muito atraente do ponto de vista econômico, diminui o erro, querela inafastável das relações humanas.
Não obstante o alto custo de manutenção das máquinas e a possibilidade concreta de retirada do mercado de trabalho de milhares de pessoas – aliada aos indícios de isolamento social e transtornos mentais relacionados – já existiu um grupo razoavelmente grande de juristas que queria aplicar sentenças por computador, baseados na premissa de que o juiz aplica tão somente o texto de lei objetiva, ao analisar elementos também objetivos da realidade. Não menos perigosa é a utilização de inteligência artificial em questões miliares (citamos o controle de investigações criminais, vigilância excessiva em todos os espaços em nome da pretensa segurança e seus reflexos na inviolabilidade da intimidade), cuja discussão sobre a permissibilidade e limites seguem acalorados junto à Organização das Nações Unidas.
(Foto: pixabay.com)
“No futuro não nos deixaremos suplantar por nossos conhecimentos, mas nós os dominaremos” (Documento de Pré-Fundação de Schoenstatt, 1912)
De todo modo, seguimos em Schoenstatt – de forma incontestável – na contracorrente dessa realidade. E embora possamos sempre nos utilizar das novas tecnologias para auxiliar nossa vida diária (ou assistir a um golpe de estado intergaláctico enquanto comemos pipoca), é imprescindível que sejam pontes para a concretização de nossos ideais: que permaneçam como meros instrumentos facilitadores e jamais como fins de nossa existência ou como forma normalizada de relacionamento.
Somos a terra fecunda dos vínculos, do contato pessoal que gera vida, da educação aos altos ideias por meio de experiências vitais. Somos o carisma que busca o enraizamento, a harmonia entre a natureza e a graça, o contato com o Deus da Vida concreta que nos dá uma Mãe real, que zela por nós.
Não somos um número ou o reconhecimento facial do Facebook. Não somos os dados da nossa conta bancária e nem as sugestões de propaganda que nos são apresentadas conforme nosso perfil de consumo. Não somos os códigos de acesso e nem nossas contas em aplicativos que nos permitem pedir nossa própria comida sem conversar com a atendente da pizzaria.
Somos filhos muito amados de Deus, que nos criou, com Sua infinita misericórdia, para bem usar tudo o que se encontra à nossa disposição, desde que de forma ética e com vistas a forjar em nós o novo homem. As pessoas não são substituíveis porque erram (em ambientes negociais ou não): é a humanidade presente nos relacionamentos que traz consigo, como diz o Pai e Fundador, “o eterno” de Deus presente em cada um de nós e são esses traços inafastáveis de Deus, que nos fez à Sua imagem e semelhança, que devem ecoar por primeiro em tudo o que fazemos, especialmente quando nos vinculamos, de forma heroica, às coisas e pessoas.
(Foto: jumasbrasil.com.br)
“Quanto mais progresso exterior, tanto mais aprofundamento interno” (Documento de Pré-Fundação de Schoenstatt, 1912)
Fecundemos, então, vínculos harmoniosos, agradáveis e sacerdotais (justamente como pontes) a tudo que se encontra em nosso entorno: seja um maquinário ou uma pessoa, e valoremos a vitalidade que tais vínculos nos trazem. Pensar de maneira diversa é desumanizar a vida e esvaziá-la do plano de amor de Deus para nós. É justamente nossa originalidade que dá colorido e tempero à humanidade. Nosso Pai e Fundador sabia muito bem o que dizia e nos presenteou com todas as chaves de que necessitamos para compreender o mundo moderno e o grande teatro do mundo.
Ao terminar este texto, colocamos as palavras do Papa Francisco e sua intenção de oração para este mês de novembro de 2020: “A inteligência artificial está na raiz da mudança de época que estamos vivendo. A robótica pode tornar possível um mundo melhor se estiver unida ao bem comum. Porque se o progresso tecnológico aumenta as desigualdades, não é um progresso real. Os avanços futuros devem estar orientados para o respeito pela dignidade da pessoa e da Criação. Rezemos para que o progresso da robótica e da inteligência artificial esteja sempre a serviço do ser humano… podemos dizer, que ‘seja humano’”.