Toda coroa traz consigo uma história de amor e gratidão
Jaqueline Montoya – Existem pequenos acontecimentos na história que mudam o sentido das coisas. O dia 10 de dezembro de 1939 pode ser considerado um deles. Afinal, quem imagina hoje chegar a um Santuário de Schoenstatt e não encontrar a Mãe com sua coroa resplandecente? Impossível, não?! Especialmente neste ano, em que recordamos a entrega da coroa e do cetro, fatos tão marcantes ocorridos aqui no Brasil! Porém, nenhum deles teria acontecido se não fosse o 10 de dezembro de 1939. São 80 anos de uma história de amor e gratidão: da entrega solene da coroa à Mãe Três Vezes Admirável de Schoenstatt, no Santuário Original, e da corrente de coroação que se gerou a partir daí.
Como surge esta coroa?
Em Schoenstatt nada se presenteia ao acaso. A primeira coroa solenemente ofertada ao Santuário Original é a expressão de muitos anseios. A Família de Schoenstatt estava em um ano jubilar, celebrando os 25 anos da primeira Aliança de Amor, além de viver um momento decisivo da história: o início da 2ª Guerra Mundial. O Instituto Secular das Irmãs de Maria decide então presentear a Mãe com uma coroa. O ato, portanto, tem o sentido da gratidão pela história até então construída e a súplica confiante de que a Mãe não desamparasse a Família durante a guerra que se iniciava. Ao reconhecer Maria como Rainha, a Família anseia que a Mãe possa ajudá-los a vencer mais esta batalha.
Em 20 de maio de 1939 as tropas de Hitler se estabeleceram em Schoenstatt e converteram o Seminário Menor dos Padres Palotinos na escola de chefes do nacional-socialismo. Nesses difíceis anos, o Pe. José Kentenich escreveu “…resgatar das ruínas significa para nós, no tempo atual, coroar a Mãe de Deus”. “Quando Maria for reconhecida como a Rainha do mundo inteiro”, acrescenta o Pe. Kentenich, “então surgirá a vida, uma vida nova”. [1]
Apesar dos preparativos iniciais serem para que a coroação ocorresse no dia 18 de outubro, não foi possível realizar o ato nesta data, pois o Pe. Kentenich estava na Suíça. Porém, no dia 10 de dezembro, ele mesmo, solenemente, realiza a coroação no Santuário Original. O Pai se refere a este momento afirmando “como recordação perene de tudo quanto realizou nossa Mãe e Rainha de Schoenstatt, em nome de toda a Família, nossas Irmãs de Maria presenteiam a coroa a Mãe Três Vezes Admirável de Schoenstatt”. É a partir deste momento que a Família de Schoenstatt passa a invocar a MTA como Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt.
O significado da Coroa
Pe. Rafael Fernández, em artigo já referido, detalha “a coroa presenteada à MTA tem cinco pontas, entre as quais surgem flores, que já fazem alusão ao que mais tarde se concretizará com o Jardim de Maria (visão de Schoenstatt e da Igreja como um jardim que a Virgem faz florescer para Cristo). Uma pedra adorna o centro da coroa e ela representa Maria. As outras pedras representam as ‘pequenas Marias’, quer dizer, aqueles que selam uma Aliança de Amor com nossa Mãe e Rainha de Schoenstatt”.
Nos Santuários filiais deve haver uma réplica da coroa do Santuário Original, mas também há coroas que surgiram das correntes de vida próprias dos diversos lugares.
Coroar, uma corrente de vida da Família de Schoenstatt
Como dito no início: um pequeno gesto, mas com um significado tão grande. A partir desta coroação, a Família de Schoenstatt inicia uma grande corrente. A partir de 1939 diversos ramos entendem a grandeza da coroação e esta corrente se espalha por toda Família em diversas ocasiões. O próprio Pe. Kentenich coroa Maria no Campo de Concentração em Dachau, como “Mãe e Rainha do Campo de Concentração e Mãe do Pão”. Outros inúmeros exemplos poderiam ser dados neste sentido. O mais importante é captarmos o sentido destas coroações.
Por que coroamos a Mãe de Deus?
Apesar da tradição da Igreja tratar da coroação ao longo dos séculos, é somente em 1954 que o Papa Pio XII escreve uma encíclica sobre a realeza de Maria, apontando os argumentos teológicos para este reconhecimento. O Pe. Kentenich vai reafirmar “quanto mais nos aprofundarmos, pela vida e pelo amor, nas glórias e no poder da Mãe de Deus, tanto mais gostaríamos de repetir sempre a grande cerimônia da coroação” (23/03/1941).
Em linhas gerais, a coroação tem diversas motivações, porém, podemos entendê-la como um ato de súplica, de disponibilidade, de reconhecimento da pequenez e de agradecimento. [2]
– Coroar é expressão de súplica
Coroamos a Maria e conhecemos seu poder, precisamente porque experimentamos a necessidade de que Ela atue em alguma circunstância de nossa vida.
– Coroar é expressão de disponibilidade
Coroar a Maria significa reconhecer seu poder, de certo modo, podemos dizer que é uma “carta branca”, já que dizemos: “a senhora tem o poder, pode utilizá-lo”. É dar o poder sobre nossas vidas e também o espaço e disponibilidade de atuar em minha vida, de me educar, me moldar, me conduzir e mostrar o caminho. Que Maria seja minha Rainha significa que eu quero que em minha vida ELA REINE, ou seja, seus valores, seus sentimentos, seu estilo de vida adaptado a minha realidade e originalidade pessoal.
– Coroar é expressão de reconhecimento de minha pequenez
Dou poder a Maria justamente porque eu sou pequeno, porque experimento, uma vez ou outra, meus limites e minha própria impotência diante de tantas situações. Reconhecer a própria pequenez é abrir o coração para ação de Deus, para que Ele derrame sua misericórdia sobre nós.
– Coroar é expressão de agradecimento
“Todo amor coroa”, dizia o Pe. Kentenich. Quando amamos muito a alguém, sentimos que é nosso rei ou nossa rainha, que ocupa o trono de nosso coração. O amor que presenteamos a Maria expressa nossa gratidão por seu atuar palpável em nossa vida, por todos os presentes e mostras de amor que recebemos no dia a dia.
E você, já entregou sua coroa para a Mãe?
Depois de entender o significado da coroação e recordar este dia tão especial para Família de Schoenstatt também fica o desafio: como posso coroar a Mãe de Deus? Em que situação a Mãe quer reinar em minha vida? A cada momento posso e devo renovar ou entregar uma nova coroa para Mãe, vivendo assim como o Pe. Kentenich fez a cada novo desafio que enfrentava.
Foto: Schoenstatt International Communication Office 2014
[1]FERNÁNDEZ, Pe. Rafael. La Corona de la Mater Ter Admirabilis. Schoenstatt Vivo. Disponível em: http://lexico.redschoenstatt.org/la-corona-de-la-mater-ter-admirabilis/lexico/2014-12-05/121551.html. Acesso em: dezembro 2019.
[2] Com base no material http://www.schoenstatt.cl/reunion-para-coronacion/juventudfemenina/2013-05-27/161030.html