O milagre escondido na singeleza de uma criança
Pe. Nicolás Schwizer – O que celebramos no Natal? Celebramos o nascimento de um menino, mas não de um menino comum, se não de um Menino que é Deus.
Agora, se comparamos este nascimento com outros nascimentos, por exemplo com o de nossos filhos, então notamos algumas coisas estranhas. Este menino nasce em condições surpreendentes, desconcertantes e até chocantes – já que se trata do Filho de Deus.
1. Uma primeira condição estranha. Dá-se a conhecer aos pastores.
Veio a terra. Não preveniu aos grandes. Não avisou aos poderosos. Não fez saber nada aos sacerdotes. Jogou por terra a hierarquia. Não houve conferência de imprensa para anunciar ao mundo um acontecimento de tal categoria. E, no entanto tinha sumo interesse de que alguém o soubesse. Alguém tinha direito de ser o primeiro em conhecer a notícia. E manda seus mensageiros a uns pastores que acampam perto da cidade guardando seus rebanhos. Os pastores vivem à margem da sociedade e muitas vezes também à margem da religião. São incultos, não conhecem a lei, e por isso estão destinados ao inferno, segundo os fariseus. E precisamente a esses “excomungados” é a quem Cristo envia seus anjos para lhes anunciar sua vinda.
É que Jesus quer deixar as coisas claras desde o começo. Ele vê tudo ao revés. A seus olhos, os grandes são os pequenos. Os últimos são os primeiros. Os deixados de lado pela sociedade, seus clientes privilegiados. A Boa Nova se comunica antes que a ninguém e chega a pertencer primeiro a aqueles que estão “fora”.
2. Uma segunda circunstância estranha. Não é reconhecido pelos homens.
Pensemos, por exemplo, nos hospedeiros de Belém. Se houvessem sabido que Deus estava ali, lhe abririam a porta, o acolheriam. Porque eram pessoas religiosas, como nós. Mas acreditaram que se tratava de vagabundos, de refugiados não se sabe de onde, um par de desconhecidos.
E não os quiseram receber. E nós, os receberíamos? Como crer que Deus podia se apresentar a nós dessa forma?
3. Uma terceira circunstância estranha do nascimento. É Deus e nasce na miséria.
Deus é totalmente distinto de como o havíamos imaginado; Deus é todo o contrário ao poder, a majestade, a autoridade, a riqueza, a força que lhe havíamos atribuído.
Mas Deus é totalmente semelhante aos singelos, aos pobres, aos que se sentem irmãos, aos misericordiosos, aos que amam, aos que tem fome de justiça.
Não é que Cristo não seja um homem como nós, se não que é tão homem, o único verdadeiro homem: verdadeiramente livre, simples, amante, fiel, disponível. A Boa Nova que anuncia o Natal consiste nisso.
Para assemelhar-nos a Deus, não temos que fazer-nos ricos, fortes, solitários ou majestosos. Basta amar um pouco mais, servir um pouco mais, aproximar-se mais aos pobres, lutar um pouco mais por justiça. Podemos nos converter em Cristo seguidamente – em nossa mesma situação, em nosso nível social ou cultural –, sem aguardar visões ou milagres, mas nos tornado os últimos de todos e os servidores de todos.
Deus é pobre: pobre de todas essas coisas que ambicionamos, que buscamos, que pretendemos. E não digamos que Deus se oculta ou está ausente do mundo. Deus está extraordinariamente presente e visível: tão presente e tão visível – ou tão pouco presente e tão pouco visível como o estão, em nossa vida, os pobres.
Se quisermos nos encontrar com o verdadeiro Deus que nesse Natal vem a nós, devemos nos encontrar com os pobres. E se então esse amor aos desafortunados nasce em nós, Deus se faz presente realmente em nosso coração. Esse é o Natal que devemos fazer. Esse é o Natal verdadeiro no qual devemos crer. Somos responsáveis de que se faça esse Natal em toda parte.
Perguntas para a reflexão
1. Como vivo o Natal?
2. Sou capaz de ver ao Menino Deus entre os pobres de nosso tempo?
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