Começa um tempo de projetos e oportunidades, mas, para ter sucesso, é necessário planejamento
Dom Antonio de Assis Ribeiro – Chegando ao final de mais um ano e no começo de outro, reflitamos juntos sobre o tempo. Corremos o risco de pensar que o “tempo” é uma realidade concreta, objetiva, material da qual podemos dispor e manipular como quisermos! Na verdade, não! Onde está o tempo? Não está aqui e nem ali! Estamos nele! O tempo é o bonde veloz da nossa história.
O tempo é o dinamismo da nossa existência. O tempo é o dinamismo da nossa vida! O tempo é a experiência da nossa inteligência, da nossa afetividade e sexualidade, dos nossos relacionamentos; o tempo é o exercício da nossa vontade, das nossas opções, da nossa liberdade, é o exercício das nossas responsabilidades! O tempo é oportunidade de viver e fazer a nossa história.
Um “novo ano”, para muitos, não significa que, existencialmente, será “ano novo”; ou seja, um tempo com características e conteúdos novos. Para fazermos história, avançando para uma realidade melhor, é preciso almejar um “ano novo”! Um novo ano vem naturalmente, pois o tempo não para! Mas um “ano novo”, nem sempre. Isso depende da vontade pessoal, das inquietudes, do desejo de mudanças na nossa vida pessoal e do entorno onde vivemos, da nossa projetualidade pessoal.
1. A necessidade de fazer projetos
O tempo por si mesmo não faz história, mas nós a fazemos a partir do teor e do conteúdo da nossa vida, a partir dos verbos que conjugamos! A história não é naturalmente espontânea; não obedece a lógica da natureza, mas é fruto da subjetividade humana. Assim, quem mais vive com profundidade, mais tem história para contar. Para isso é preciso pensar, discernir, projetar-se! Deus nos acompanha e esse olhar de fé para com a história é muito importante!
Estamos vivendo numa época caracterizada por rápidas transformações. As mudanças sociais são consequências, em geral, da passagem de uma mentalidade para outra, são frutos do conhecimento, do avanço tecnológico, de novas descobertas, etc.
No mundo atual cresce cada vez mais a cultura da projetualidade (não queremos voltar ao passado!): os grandes e rápidos avanços são consequências de grandes projetos em todas as áreas (na medicina, na engenharia, na biologia, na física, etc.).
Dessa forma, a humanidade se supera, se desenvolve, expande seu domínio sobre a natureza (doenças, envelhecimento, explica e intervém sobre fenômenos da natureza, etc.). Na esfera comercial a concorrência acelera o surgimento de novos projetos alinhados às novas necessidades humanas (de conforto, de produção, de comunicação, etc.)…
A cultura da projetualidade tem um fundamento antropológico, pois é fruto da consciência humana: somos seres inteligentes, livres e responsáveis; temos desejos, sonhamos, somos dinâmicos… Não somos súditos dos nossos instintos! Mas também nem tudo é possível!
Na vida social nem tudo caminha na mesma direção, há conflitos de interesses, encontramos desafios, as circunstâncias nem sempre nos ajudam, mas nos desafiam. Por isso, quem está convicto daquilo que deseja realizar deve, antes, pensar em objetivos, refletir, projetar, programar, adotar estratégias, princípios e valores.
2. Memória e profecia
A justa cultura projetual, superando o presentismo, reconhece o passado e projeta o futuro. Memória e profecia, passado e futuro, estão em profunda relação. Todo bom projeto é fruto de uma memória (de um saber que vem do passado: valores, tradição, princípios fundamentais, experiências, etc.), daquilo que já se vem fazendo corretamente; o projeto é também documentação da sensibilidade do presente e, ao mesmo tempo, é profecia para o futuro.
Um projeto é, dinamicamente, de certa forma, o que já somos (o que trazemos do passado, o que vivenciamos) e, ao mesmo tempo, é o que queremos ser ou levar mais a sério para sermos mais significativos. Na harmonia entre memória do passado, acolhida dos valores do presente e o olhar para o futuro, está o crescimento humano.
Um projeto sabiamente elaborado integra o passado, o presente e o futuro. Dessa forma evita rupturas em relação ao passado, desvia-se da alienação em relação ao presente e ainda volta o olhar para o futuro para onde se pretende caminhar!
A projetualidade é, na verdade, uma estratégia de ação em vista da eficiência e eficácia daquilo que fazemos. Projetar não é “burocracia”, não é uma exigência “intelectualista”. Ao contrário, é uma estratégia de sabedoria em vista da fecundidade daquilo que fazemos. Nem sempre, é verdade, a eficácia depende dos nossos esforços, mas devemos fazer a nossa parte da melhor forma possível.
3. Projetos e desafios
Quem quer fazer história, deve aprender a dar passos novos, ser ousado, superar condicionamentos negativos, sair da mesmice, desejar ser mais! Não basta, portanto, desejar-nos Feliz Ano Novo! Pois o novo não virá se cada um não buscá-lo para que possa acontecer. Vejamos alguns desafios a serem superados.
– Não ter medo do “novo sadio”! Nem tudo aquilo que é novo é bom, por isso é preciso paixão por aquilo que é bom e buscá-lo com firmeza; isso significa sair da mesmice; não ficar parado!
– Superar o comodismo! Caímos no comodismo quando nos acomodamos numa zona de conforto, numa estabilidade estéril, sem progresso, sem crescimento; quando deixamos de lado o desejo de crescer; isso toca todas as nossas dimensões; a inquietude e o inconformismo nos libertam de aprisionamentos;
– Treinar-se na adaptabilidade! Quem não enfrenta e nem se adapta às novas circunstâncias fazendo a própria história, fica engessado, mumifica-se. Isso acontece quando caímos no “personalismo radical” e dizemos: “só sei fazer se for do meu jeito”, “eu sou assim mesmo e basta”; quem pensa dessa forma está com um circuito mental fechado em si mesmo, esquecendo-se do seu dinamismo de sujeito capaz de autotransformação; perde oportunidades, precocemente envelhece e muito atrapalha;
– Programar o que deseja realizar! Não basta a inquietude pessoal, nem mesmo sonhos, é preciso programação pessoal concreta! Muitas vezes temos sonhos, planos, projetos, ideias maravilhosas, mas só ficam no papel… entre o sonho e o projeto realizado deve haver a programação pessoal, muito suor e, às vezes, sangue (duros sacrifícios).
– Cultivar visão estratégica! Quem quer realizar um sonho ou executar um projeto deve pensar no “como” colocá-lo em prática. Essa tarefa é desafiadora, porque nos estimula à criatividade levando-nos a colocar a nossa inteligência para trabalhar!
– Manter a Perseverança! Por último, visto que nada é automático é necessário perseverança! Isso significa não se deixar desanimar diante das dificuldades! A perseverança depende das nossas virtudes, sobretudo da Fé, da Esperança e do Amor que colocamos naquilo que queremos realizar.
PARA REFLEXÃO PESSOAL:
1. O que podemos fazer para crescer na mentalidade projetual?
2. Por que é importante projetar-se?
3. Quais dos desafios apresentados são mais sérios?
Dom Antonio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém – Pará
Fonte: cnbb.org.br
Devemos nos comunicarmos mais e sem exclusão de pessoas e dominações, todos tem o direito de se expressar e fazer parte desse projeto.