“Vejam, o costume que se tem aqui na América (ele se refere aos Estados Unidos), de sair de vez em quando para conceder-se um período de relaxamento, para descansar, é realmente muito belo. Aprender a contemplar profundamente a Deus e o mundo de Deus também é um descanso que nos relaxa. Devemos fazê-lo mais vezes para fortalecer o olhar de fé” * (Pe. José Kentenich).
Karen Bueno – Sol, calor, verão: férias. O período de final/começo de ano, além das férias escolares é também ocasião de descanso para muitos profissionais e estudantes. Os dias de repouso são essenciais para a natureza humana, como aponta São João Paulo II: “De fato, a alternância de trabalho e descanso, inscrita na natureza humana, foi querida pelo próprio Deus, como se deduz da perícope da criação no livro do Gênesis (cf. 2,2-3; Ex 20,8-11): o repouso é coisa ‘sagrada’, constituindo a condição necessária para o homem se subtrair ao ciclo, por vezes excessivamente absorvente, dos afazeres terrenos e retomar consciência de que tudo é obra de Deus”[1].
A Carta Apostólica do Papa alerta sobre a mecanização da sociedade por conta do excesso de trabalho, não permitindo observar as maravilhas do Criador: “O poder sobre a criação, que Deus concede ao homem, é tão prodigioso que este corre o risco de esquecer-se que Deus é o Criador, de quem tudo depende. Este reconhecimento é ainda mais urgente na nossa época, porque a ciência e a técnica aumentaram incrivelmente o poder que o homem exerce através do seu trabalho” [2].
O documento deixa clara a necessidade do descanso para o homem, porém, não apenas um descansar vago e infértil, mas fecundo, que traga benefícios: “Uma vez que o descanso, para não se tornar vazio nem fonte de tédio, deve gerar enriquecimento espiritual, maior liberdade, possibilidade de contemplação e comunhão fraterna, os fiéis hão de escolher, de entre os meios da cultura humana e as diversões que a sociedade proporciona, aqueles que estão mais de acordo com uma vida segundo os preceitos do Evangelho” [3].
A Carta Apostólica de São João Paulo II vai além: “E, no contexto histórico atual, permanece a obrigação de batalhar para que todos possam conhecer a liberdade, o descanso e o relaxe necessários à sua dignidade de homens, com as conexas exigências religiosas, familiares, culturais, interpessoais […]” [4].
Assim eram as férias dos congregados
Nos primeiros anos da fundação do Movimento Apostólico de Schoenstatt, os congregados herois veem cada minuto do dia como uma ocasião de autossantificação – tanto por si mesmos como pela humanidade. O período de férias não é diferente. Juntos, os jovens planejam como permanecer fiéis aos ideais nos dias de descanso. Entre as discussões fica clara a importância de manter o horário espiritual em dia; outra questão que lhes chama a atenção é o apostolado na família, eles queriam ser mais atenciosos com as pessoas de casa.
“Tal fidelidade, porém, não era fácil. Mas aqueles moços possuíam o segredo que os impulsionava interiormente: as contribuições ao Capital de Graças, segredo que não os deixava cair presa do cansaço e do desanimo”, conta a biografia escrita por Olivo Cesca [5].
José Engling escreve: “Com o trabalho das férias tínhamos em mira duas coisas. A primeira, a mais importante, era ofertar a nossa Mãe Três Vezes Admirável, pelos nossos sacrifícios e mortificações, um grande Capital de Graças, a fim de que ela as distribuísse, quando invocada em seu pequeno Santuário, a todos que se encontrassem em necessidades […]. A segunda consistia em encontrarmos um meio para ajudar-nos uns aos outros, a fim de podermos perseverar em nossos propósitos de autoeducação durante as férias” [6].
Nossas férias, dos congregados do segundo século
Os dois focos a que Engling se refere são aplicáveis aos dias atuais. Como em 1914, no ano de 2017 diversas são as circunstâncias que podem ser convertidas em contribuição ao Capital de Graças, contribuindo para a missão da Mãe no Santuário: não reclamar do calor excessivo, aproveitar esses dias para visitar familiares idosos, tirar um tempo para rezar, praticar exercícios físicos, etc. A intenção de dar mais atenção à família também é uma dica muito valiosa.
A segunda preocupação dos jovens é manter contato no período que passariam longe do seminário – e assim eles fizeram, se encontrando ou trocando correspondências. Atualmente é muito mais fácil se comunicar com aquelas pessoas que nos ajudam na missão. Certamente que se os primeiros herois tivessem Facebook,WhatsApp, Skype, Instagram, uma porção de outros aplicativos ou um simples telefone eles não perderiam a oportunidade de aproveitar isso da melhor forma possível. Estar perto das pessoas que contribuem para o nosso crescimento espiritual é muito positivo e pode dar um colorido especial aos dias de lazer.
Como diz São João Paulo II, o descanso é essencial para o homem e é preciso saber aproveitar ao máximo esse período. Usar os dias para realmente descansar, criar ocasiões de lazer, cultura, entretenimento, porém, sem descuidar da vida espiritual, afinal, Deus não tira férias de seus filhos.
Referências
[1] JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Dies Domini. Capítulo IV, Nº 65. Disponível em:<http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_letters/documents/hf_jp-ii_apl_05071998_dies-domini_po.html>. Acesso em: 15 jan. 2015.
[2] JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Dies Domini. Capítulo IV, Nº 65. Disponível em:<http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_letters/documents/hf_jp-ii_apl_05071998_dies-domini_po.html>. Acesso em: 15 jan. 2015.
[3] JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Dies Domini. Capítulo IV, Nº 68. Disponível em:<http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_letters/documents/hf_jp-ii_apl_05071998_dies-domini_po.html>. Acesso em: 15 jan. 2015.
[4] JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Dies Domini. Capítulo IV, Nº 66. Disponível em:<http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_letters/documents/hf_jp-ii_apl_05071998_dies-domini_po.html>. Acesso em: 15 jan. 2015.
[5] CESCA, Olivio. Heroi de duas espadas. 3ª Edição. São Paulo/SP: Editado pelos Padres de Schoenstatt, 1978. Pág 69.
[6] CESCA, Olivio. Heroi de duas espadas. 3ª Edição. São Paulo/SP: Editado pelos Padres de Schoenstatt, 1978. Pág 68.