“Cada um de nós é muito mais do que os rótulos que nos dão. Assim Jesus no-lo ensina e convida a acreditar” (Papa Francisco)
Giovanna Borges – Rótulo. Substantivo masculino. De acordo com o dicionário Michaelis, trata-se de um pequeno impresso, com formato variável, que se cola em frascos, garrafas, latas, caixas etc., para indicar o seu conteúdo; etiqueta. À primeira vista, parece um termo simples e inofensivo.
Entretanto, na sociedade atual, os papéis frequentemente se invertem. A vida e a dignidade humana são cada vez mais desvalorizadas, ao passo que os objetos se tornam “dignos” de amor. As notícias de tragédias tornam-se banalizadas, aumenta-se o apego às tecnologias e às coisas.
Nessa inversão de valores, as pessoas passaram a ser também rotuladas, umas pelas outras, como verdadeiros objetos, etiquetados. No próprio dicionário é possível encontrar uma nova definição para “rótulo”: qualificação desprovida de fundamento e, na maioria das vezes, inadequada.
O rótulo é algo estático e os objetos admitem uma qualificação estática. Um molho de tomate possui as características necessárias para que lhe seja atribuído o rótulo de “molho de tomate”. Ele, por si só, não vai deixar de ser um molho de tomate, não vai se transformar em outra coisa. Assim, é possível que se indique o conteúdo de sua embalagem, é possível que ele seja rotulado.
Afinal, é concebível que esse fenômeno também aconteça com pessoas? A complexidade do ser humano pode ser delimitada e qualificada por um rótulo? Parece inimaginável que uma pessoa possa julgar e afirmar qual o “conteúdo” de outra, o que lhe é mais íntimo e pessoal, o que ou quem ela é. Porém, isso de fato acontece. A todo momento, julgamos e rotulamos uns aos outros, sendo que vez ou outra, ainda aceitamos e repassamos os rótulos atribuídos por terceiros. Julgamos sem conhecer, ou ainda, julgamos conhecer, quando, na verdade, nunca sabemos realmente o que se passa em cada coração, quais as chagas de cada alma, qual a história de cada pessoa.
Santa Teresa de Calcutá disse em determinada ocasião: “Quem julga as pessoas, não tem tempo para amá-las” [1]. O rótulo limita, diminui, é frio e estático, enquanto a misericórdia e o amor são vivos, orgânicos.
“O Senhor quer fazer festa quando vê os seus filhos que regressam à casa (Lc 15, 11-32). Assim o testemunhou Jesus, levando até o extremo a manifestação do amor misericordioso do Pai. Um amor que não tem tempo para murmurar, mas procura romper o círculo da crítica inútil e indiferente, neutra e imparcial e assume a complexidade da vida e de cada situação. (…) Cada um de nós é muito mais do que os rótulos que nos dão. Assim Jesus no-lo ensina e convida a acreditar”, diz o Papa Francisco [2].
Ter um olhar de amor e misericórdia uns para com os outros é o oposto da atitude de atribuir rótulos, é saber que o outro é muito mais do que aquilo que eu posso ver – e pode vir a ser muito mais. Não somos pedras imóveis! Nos moldamos, nos transformamos. O rótulo nos aprisiona no olhar do outro, no “aqui e agora”, não admite o que ainda podemos ser.
Excelsior! Nosso Pai e Fundador, Pe. José Kentenich, nos convida a ir além. Como schoenstattianos, sabemos que podemos aprender a educar-nos e que, sob a proteção de Maria, podemos ser personalidades livres, para além dos rótulos, para além dos julgamentos. Queremos vencer a tentação de rotular uns aos outros, transformando o olhar que julga no olhar que ama. Deixemos os rótulos para os objetos, para as pessoas, o amor!
*Contribuição da Juventude Feminina de Schoenstatt do Regional Sudeste
Foto: pixabay.com
Referências:
[1] https://blog.cancaonova.com/metanoia/10-frases-de-madre-teresa-de-calcuta-para-rezar-e-pensar/
[2] Papa Francisco, liturgia penitencial no Centro de Detenção Juvenil Las Garzas de Pacora, no Panamá. 25 de janeiro de 2019. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/events/event.dir.html/content/vaticanevents/pt/2019/1/25/penitenziale-panama.html
Quando agimos do nosso olhar misericordioso Deus nos permite ver o coração com uma visão mais profunda Que Deus misericordioso tenha Compaixão de nós.