Somos “homens adaptados” ou “homens contradição”?
Pe. Nicolás Schwizer – Ao observarmos o mundo de hoje, distinguimos dois tipos de pessoas:
1. O homem adaptado
Sofre de uma enfermidade grave e universal: a massificação. Por isso, podemos chamá-lo também de “homem massa”. Aquele que pensa o que pensa porque os demais o pensam; aquele que diz o que diz porque os demais o dizem; aquele que faz o que faz porque os demais o fazem.
Esse é um escravo do que dizem nos jornais e na TV, do que opina seu partido, do que dita a moda, porque “tem que estar na onda”. O homem massificado não pensa por si mesmo, não decide por si mesmo, ele se deixa arrastar pelos demais. Por isso, não tem personalidade, nem interioridade.
Talvez devêssemos ver também a nós mesmos nesse espelho do homem moderno. Provavelmente encontraríamos alguns traços nossos nele.
2. O homem contradição
É o homem não massificado, ou homem plenamente livre, que pode pensar e decidir por si mesmo. Por isso pode assumir responsabilidades de comprometer-se, de ser fiel.
O resultado deste é ser uma personalidade que se distingue, mas também um homem que inquieta e choca, que desnorteia e desafia, que nada contra a corrente – e é porque atua de acordo a sua própria consciência, e não com a opinião pública. Isso lhe dá também uma paz verdadeira, uma lucidez interior, uma serenidade muito grande.
Modelo deste homem pleno, deste homem novo, deste homem não massificado, é Jesus Cristo. Nele e em sua mensagem se dividem os espíritos.
Quando ainda era criança já se profetiza sobre Ele: “Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de erguimento para muitos em Israel, e a ser um signo que provocará contradições” (Lc 2, 34). E, no final de sua vida, os chefes de Israel o acusam diante de Pilatos com estas palavras: “excita o povo à revolta” (Lc 23, 2).
A vida de Jesus não é uma vida tranquila e tranquilizadora. Pelo contrário, é um profeta perseguido sem piedade pelas autoridades do povo, excomungado da comunidade judaica, traído por falsos amigos, entregue aos romanos e crucificado para castigo de todos.
Não há dúvida de que Jesus quer a paz e não a guerra. Só que a sua paz não tem nada a ver com o que o mundo entende por paz. Essa é uma falsa paz, construída sobre a injustiça, a discriminação, a marginalização. Frente a essa falsa paz Jesus, sim, quer a guerra.
Jesus não vem ao mundo para ser um homem sem problemas e compromissos. Jesus vem ao mundo para dar testemunho da verdade e lutar contra a mentira, para anunciar a Boa Nova aos pobres e denunciar a injustiça dos poderosos.
Jesus vem ao mundo para dizer a uns: “Bem-aventurados!”, e a outros: “Ai de vós, hipócritas!”.
O Evangelho de Jesus é conflituoso: leva à divisão dentro da família e cria conflitos em nossa consciência. Obriga-nos a nos definir, a tomar posição, a optar entre duas alternativas.
A palavra de Deus é conflituosa, porque pede nossa conversão, a renúncia a nossos planos egoístas, a luta por um mundo melhor.
Decidir-se por Cristo e segui-lo fielmente não é assunto fácil, mas seu caminho nos enche de uma alegria profunda e uma paz verdadeira e segura; e, ao final do caminho, nos espera e gozo e a felicidade com Cristo para sempre.
Perguntas para a reflexão:
1. Compro o que todos compram?
2. Repito sem reflexão o que diz a TV?
3. Guardo silêncio quando vejo algo que está errado?
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