Continuamos a refletir sobre as características de nosso tipo brasileiro, segundo o Pe. Kentenich. O objetivo é motivar-nos em nossa autoeducação para fortalecer o que é positivo e amenizar o que é nossa fraqueza. Para entender todo o conjunto da análise, você pode ler as demais características, nos links abaixo do texto. Ao mesmo tempo, é importante lembrar que essa caracterização mencionada pelo Pe. Kentenich é generalizada, não significa que todos nós as temos em alta intensidade.
A Ana Beatriz Biagioli Manoel Suzan, que é Logoterapeuta e pertence à União de Famílias de Schoenstatt, nos conduz nessa reflexão:
O comodismo
A segunda sombra que o Pe. Kentenich percebe em nosso tipo brasileiro é
2. “O comodismo como um estilo de vida, nos falta a iniciativa.”
Como isso atrapalha no caminho da formação da personalidade? Porque o comodismo me leva e ficar na minha zona de conforto, dificulta que eu saia de mim mesmo.
O Pe Kentenich fez a observação sobre as causas desse comodismo, sendo o “próprio modo de vida, pelo fato da natureza nos oferecer muitas riquezas. Uma segunda causa é o clima tropical que rouba as forças físicas.”[1]
Vou começar a refletir sobre o nosso clima tropical. Nos países do hemisfério norte as estações do ano são bem definidas. No Brasil, acontece o contrário, costuma-se dizer que em algumas ocasiões temos as quatro estações num único dia.
A influência do clima em nossa visão do mundo
Outro dia, um professor e amigo estava falando simbolicamente, sobre a importância de se conhecer esses dramas das mudanças climáticas, porque isso também aparece na vida das pessoas enquanto estado de sofrimento, expectativa, na dificuldade de se instalar na realidade. Ele dizia assim: “Hoje inicia-se a primavera e começo a sentir uma brisa diferente, o mundo me comunica algo diferente, o temperamento do mundo passou por uma mudança de sentido. Meus olhos captam isso, eu respiro o hálito que o mundo agora tem. O modo como recebo os raios do sol, como toca minha pele, tudo isso me comunica uma primavera, verão, inverno ou outono.
Com as estações do ano marcadas, delimitadas, a gente consegue fazer uma melhor instalação na realidade chamada “mundo” com mais propriedade. A gente sabe quando é hora de plantar, colher, guardar, estocar, festejar, por a mesa, tirar a mesa. A gente consegue se situar nessa unidade de tempo chamada dia, por conta dos eventos naturais, amanheceu clareou, sei me situar no dia, na semana, no mês, na estação.
Mas, quando tudo se torna meio caótico, esfria no verão, esquenta no inverno, as chuvas que deveriam parar, em alguns lugares, se estendem. Quando as coisas se alteram, temos dificuldade de entender em que mundo estamos.” (Luís Enrique Carmelo)
Essas mudanças climáticas, que temos no país tropical, afetam a percepção que temos acerca do mundo, trazendo uma certa dificuldade de nos percebermos enquanto microcosmos, enquanto um compendio do universo, do macrocosmo, parece que algo dentro de nós também vai mudando.
Outros fatores que influenciam
Temos também os vícios dos temperamentos que associado ao clima pode favorecer esse comodismo.
O tempo atual favorece uma certa preguiça, ou procrastinação (a preguiça gourmetizada). Hoje vivemos uma era de muitas facilidades, por mais economicamente desfavorecida que a pessoa seja, tem facilidades que na Idade Média, reis não tinham, o que favorece um certo comodismo, não preciso me esforçar muito. Por exemplo, qualquer coisa que se queira comprar está na sua mão à um clic, desde um carro até uma pizza. As redes sociais, os streamings, jogos de vídeo game, nos direcionam a ficar largados no sofá.
Levemos em consideração que, como todos os seres humanos, carregamos a tendência para os pecados capitais e um deles é a preguiça. Se para todos essa tendência merece atenção na auto educação, tanto mais para nós que nascemos num clima que, como vimos, favorece essa tendência.
O que me foi dado não determina quem eu sou
Existem coisas que nos foram dadas, sem que pudéssemos escolher. Ex. Nascemos neste país e não tem como eu mudar o clima do Brasil, é um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Não tem como deixarmos de sermos brasileiros. O temperamento também me foi dado, não escolhi ser melancólico, colérico, sanguíneo ou fleumático.
Porém nem o clima, nem o temperamento, nem as redes sociais e afins, nos determinam, pois como pessoa humana e sempre podemos nos posicionar. Viktor Frankl (psiquiatra, neurologista e fundador da Logoterapia e Análise Existencial) diz que: “Quando não somos capazes de mudar uma situação, nos encontramos diante do desafio de mudar a nós mesmos.”
A graça supõe a natureza
Pe Kentenich nos ensina a autoeducação como um imperativo para nosso tempo, enquanto estivermos vivos a aprendizagem não para. A a autoeducação é uma obra para vida toda. É preciso por mãos à obra todos os dias e todas as horas. Os exercícios de autoeducação precisam ser constantes e conscientes. A cada dia eu preciso vencer a mim mesmo, sair da minha zona de conforto, somente assim é possível vencer esse comodismo e parar de inventar desculpas para não amadurecer.
E lembremos do segundo princípio fundamental de Schoenstatt, a graça sobrepõe a natureza, tudo é graça! Façamos a nossa parte, Deus e a Mãe de Deus sempre fazem a deles.
[1] Livro: Tabor nossa missão, conferências de abril de 1951
Veja também:
Os lados de sombra de nosso tipo brasileiro
1 – O complexo de inferioridade
3 – Movidos pelos sentimentos (falta de exigências)
As luzes de nosso tipo brasileiro