Pelas dificuldades e lutas Deus quer nos fazer crescer, demonstra seu amor e sua presença
Sra. Ana Christina Melquiades – É minha vida um caminho de cruz, um caminho de sofrimento, um caminho de sacrifício? A resposta deveria ser sempre “Sim”. Por quê? Porque assim foi a vida de Jesus, adverte nosso Pai e Fundador em várias de suas homilias e nos retiros.
Neste tempo da Quaresma somos convidados a refletir sobre o sentido de nossa vida em Cristo e nosso espírito de entrega e sacrifício.
Em Jesus, está marcada a vida de cada um de nós; está marcado também esse ritmo de amor que se imola a si mesmo e que chega à morte e ressurreição por nós. É este o caminho da plenitude de vida, é este o mistério que tantos recusam hoje em dia, o mistério do sacrifício, da dor e do sofrimento que chega a ser fecundo porque é alicerçado no amor: eu me sacrifico e ofereço algo por amor a Deus e esse é o mesmo caminho que Jesus trilhou para nossa salvação. Para amar plenamente é preciso seguir o caminho da cruz, da entrega e do sacrifício.
Um caminho para viver no coração do Pai
Hoje existe uma aversão muito acentuada ao sofrimento e à cruz, ninguém gosta de fazer sacrifícios, de renunciar, de sentir dor. Estamos diante da mentalidade atual que não vê a cruz de Cristo e o sofrimento como caminhos para glória, para a ressurreição, para viver no coração do Pai. Vivemos em um tempo onde se opta pelo mais fácil, pelo mais cômodo, mais rápido e o que traz alegria e satisfação momentânea. Porém, o sacrifício é necessário para nos tornar livres dos aspectos exteriores: por meio do sacrifício nos libertamos de nossos desejos, satisfações, sentimentos próprios e egoístas, voltando nosso ser para o outro, para um bem maior que é Deus e seu plano de salvação.
“Sofro por amor, me alegro quando Cristo me faz participar da sua dor. Quanto mais vivo essa realidade, mais claramente resplandece a luz da fé. Mas não devemos perder de vista, mesmo que vivamos da fé (Rom 1,17), como São Paulo, e nosso caminhar seja no céu (Fil. 3,20), sempre ficará algo inexplicável. Somente conseguiremos esclarecer tudo quando estivermos frente a frente com Deus (1Cor. 13,12). Então saberemos porque o grau da nossa glória determinou o grau da nossa cruz e da dor que tivemos que levar durante nossa vida na terra” (Pe. José Kentenich, 01 de abril 1964).
Alguns se tornam revolucionários enfurecidos, outros amadurecem
Nosso Pai e Fundador, durante toda sua vida, foi marcando o seu caminho com o caminho de Cristo, pela realidade da cruz e do sacrifício. No sofrimento e abandono, experimentou, como ninguém, a presença de Deus na condução de sua vida, experimentou como alguém escolhido: caminho de cruz e glorificação.
“A fé ilumina a reação das pessoas diante da dor. Não é verdade que muitas vezes pude sair adiante com minhas cruzes e outras vezes não? Se observo e comparo as pessoas: Algumas se tornam revolucionárias sob o peso da cruz, ficam enfurecidas, se colocam como feras, jogam tudo para baixo, não querem mais saber de Deus, afastam de si outras pessoas. E outras, experimentam cura de muitas dificuldades pela dor, se purificam na dor, se fazem mais transparentes , amadurecem. Qual é a causa? Tudo é mistério. De que mistério se trata aqui? Do mistério da Justiça Divina. Uma vida sem fé, especialmente nesta época, é simplesmente impossível. Deus não quer somente nos presentear, nos levar ao céu, nos assemelhar a Cristo, mas também exige de nós uma decisão própria. Por isso, nos dá uma vontade livre. O mistério da livre vontade é o mistério da Justiça de Deus. Tenho que ganhar minha glória, não somente recebê-la de presente de Deus” (Padre José Kentenich, 01 de abril 1964).
Por outro lado podemos dizer que nossa vida é um caminho de cruz porque somos afetados pelo pecado original. Deus quer purificar-nos e todo caminho de purificação passa pela dor.
Quando falamos de sacrifício, pensamos em todas as ações concretas que nos fazem estar mais próximos de Deus – é minha prova de amor, é assemelhar-se a Cristo livremente.
Há também o sacrifício que Deus nos envia em diversas circunstâncias da vida, para nos fazer crescer, para demonstrar seu amor, sua presença. Pode ser muito difícil dizer sim a Deus Pai, principalmente quando se trata de sofrimentos e sacrifícios, porém, quando proferimos nosso sim, Deus realiza de forma perfeita seus planos em nós. Se nos entregamos a Deus apenas pela metade, não possuímos nem o mundo nem a Deus. Ficamos em cima do muro. Só encontramos a felicidade se giramos em torno a Deus e se seguimos seu caminho.
O sacrifício nos leva a um maior crescimento interior, ao autoconhecimento, à educação dos instintos e dos sentimentos. O caminho do sacrifício é um caminho para atuar criativamente, para demonstrar o amor; nosso crescimento será tanto maior quando aumentarem as dificuldades do que quando temos poucas dificuldades a enfrentar.
Em Schoenstatt somos convidados a conquistar e a lutar pelos nossos ideais, entregando diariamente nossas contribuições ao Capital de Graças para sermos dignos do que desejamos. Entrega heróica e sacrifical: “O Senhor que tudo entregou por nós não se contenta com uma vida pela metade; Ele quer o coração e o espírito por inteiro, e não o pálido brilho de um sacrifício medíocre” (Rumo ao Céu, 411).
*A Sra. Ana Christina Melquiades pertence ao Instituto Nossa Senhora de Schoenstatt
Referências
As citações foram retiradas do livro “El dolor a la luz de la fé”, uma série de sermões do Pe. José Kentenich.
Excelente testemunho da Senhora de Schoenstatt Ana Cristina. Um texto verdadeiro que expressa uma triste realidade vivida nos dias de hoje. Nascemos para sermos felizes e só isso basta. Sabemos que é assim, o sofrimento faz parte de nossa vida e quanto mais nos distanciando dele, mais distante ficamos de Deus.
Vamos, portanto, refletir neste tempo propício. Parabéns Sra Ana. Deus a abençoe. Que seu testemunho possa abrir o coração de muitos que os mantém frios e fechados.