Para o Pe. José Kentenich, São José é um modelo daquilo que os schoenstattianos têm como meta vida: ser um santo da vida diária, profundamente unido a Jesus e a Maria, vivendo em Aliança com eles.
Abaixo partilhamos alguns trechos da homilia do Pe. Kentenich em 19 de março de 1966, ou seja, da primeira vez que ele celebra São José após o exílio. A missa foi acompanhada por uma delegação de mães schoenstattianas das dioceses de Paderborn e Rottenburg. Veja abaixo:
Minha querida Família de Schoenstatt,
É pela vez primeira, depois de anos, que podemos celebrar esta festa juntos. Fazemo-lo como convém a uma comunidade pronunciadamente religiosa – rodeando o altar do sacrifício. […] Deixemos atuar em nós a imagem de São José, salientando as características que, conforme o desejo de Deus, são próprias da Família de Schoenstatt.
Na vida de São José vemos, como que num espelho, como deveria ser nossa personalidade, qual o aspecto de nossa missão. Porém, não nos contentamos com isso. Se quisermos inserir-nos mais profundamente na pessoa do Salvador, então naturalmente deveríamos fazê-lo à maneira como São José representa nosso ideal, o ideal de nossa personalidade, o ideal de nossa missão. Este haverá de ser o sentido de nossas reflexões que pretendemos fazer.
Trata-se, portanto, de constatar aqui e ali um parentesco, de salientar as semelhanças entre a pessoa e a missão de São José como imagem da personalidade e missão de nossa Família e dos diversos membros de nossa Família.
Como é nosso perfil? Como quer ver-nos o bom Deus? Conhecemos a resposta: devemos representar o ideal do novo homem na nova comunidade e, ambos, para a glorificação do Pai.
O novo homem na nova comunidade! Que aspecto tem o novo homem na nova comunidade para a glorificação do Pai? A pessoa de São José nos dá uma resposta bem clara.
Vejamos primeiramente qual o aspecto desta figura como personalidade [modelo], portanto, qual o aspecto do homem novo na nova comunidade.
A Sagrada Escritura caracteriza sua personalidade, em termos gerais, com as palavras: “Erat vir justus”. No evangelho de hoje encontramos de novo esta expressão: “Erat vir justus”! O que significa isso no sentido do Antigo Testamento? [Que José era] Um homem que conhecia e considerava uma só coisa, que aspirava a uma só coisa durante toda a sua vida: submeter-se ao plano de Deus, cumprir a vontade de Javé. Vir justus!
Não é este também nosso ideal? Basta irmos ao “Rumo ao céu”. Em quantas páginas encontramos o pensamento: “Um só desejo acalentamos, nos guiem, Pai, teus sábios planos” – submissão ao desejo e à vontade de Deus!
[…] E se nos deixarmos impressionar pelos diversos traços desta personalidade, se o fizermos à mão da Sagrada Escritura, muito em breve constataremos parentesco e semelhança pronunciada de ambos os lados e poderemos dizer: ele [São José] está diante de nós como o ideal da santidade da vida diária, como o ideal da piedade da aliança, como o ideal da piedade de instrumento. […]
Santidade da Vida Diária
É bom considerarmos aqui, por uns momentos, a imagem de São José. Como ele se apresenta diante de nós? Com ferramentas nas mãos! O que significa isso? É um Operário!
Ultimamente ele é considerado pela Igreja, pelo povo simples, como operário. Ele foi um simples operário, mas, como o sentimento cristão no-lo diz, um operário perfeito; em nossa linguagem [schoenstattiana], o perfeito santo da vida diária.
Sanctus est qui sancte vivit! (santo é aquele que vive santamente!) Logo, não é santo aquele que sempre fala com entusiasmo sobre a santidade, que sabe filosofar brilhantemente sobre tais coisas, que sempre fala em santidade. Sanctus est. É santo da vida diária quem vive santamente sua vida prática, isto é, quem realiza a missão que Deus lhe deu, o quanto possível, de modo perfeito. Portanto, tudo o que faz, quer estude, quer ensine, quer cozinhe ou não sei o que mais, faz tudo por elevado amor a Deus e de modo tão perfeito quanto possível. Assim São José está hoje diante de nós. […]
Piedade da Aliança
Se olharmos mais profundamente, encontraremos caracterizado na representação de São José também o ideal da piedade da Aliança.
Aliança! Nas imagens vemos geralmente o Filho em seus braços. Para nós, schoenstattianos, é natural que sempre onde vemos o Filho de Deus, o vejamos unido à imagem da Mãe de Deus. Jesus e Maria em biunidade indissolúvel!
Ambos, Jesus e a Mãe de Deus, não selaram com São José uma Aliança? E não selou ele a Aliança com essas duas pessoas santas, sob o ponto de vista natural? Eles são conduzidos um ao outro numa comunidade de família sumamente terna e profunda. Aliança no nível meramente natural! Aliança! Por isso o sentido de suas vidas é fidelidade à Aliança, piedade de Aliança!
De modo semelhante a São José, não selamos também nós uma Aliança com essas duas pessoas santas? E isto para a glorificação do Pai e a salvação do mundo! […]
Piedade de instrumento
[A piedade de instrumento] ouvimos [sobre ela] no evangelho de hoje. Ele nos fala que o prodígio que se realizou no seio de sua esposa é obra do Espírito Santo. E deve dar ao fruto de seu ventre o nome de Jesus. Quem lhe traz esta incumbência? O anjo, em nome de Deus. Portanto, ele [José] age como instrumento quando dá ao Filho o nome de Jesus, isto é, Salvador do mundo. E, em nome do eterno Deus – que lhe enviou a mensagem – trata o unigênito de tal modo que Ele possa ser e tornar-se o Salvador do mundo. Por isso, piedade de instrumento. […]
Não é, meus devotos ouvintes, não é, minha querida Família de Schoenstatt, assim que queremos comemorar hoje a festa de São José. E se o fizermos de maneira certa, novamente nos conscientizaremos de quão forte é e deve ser a consciência de contraste que, como Família de Schoenstatt, nos distingue da atmosfera geral que penetra o mundo que nos cerca.
Consciência de contraste! Quão poucos homens encontramos hoje, quão poucas associações na Igreja vão ao encontro de tal ideal! Não queremos envergonhar-nos por sermos diferentes dos outros. Ao contrário, queremos alegrar-nos, sermos gratos, porque temos tão grande missão. Mas não poderemos cumpri-la se não estivermos compenetrados de profunda consciência de contrastes. Hoje, o perigo é demasiadamente grande que, em vez de cultivarmos contrastes, cultivemos a adaptação a um ambiente que aspira a tudo, menos ao ideal da virgindade, ao estilo virginal de vida, como ideal da santidade da vida diária, da piedade do instrumento e da Aliança. […]
Toma o Menino e sua Mãe
A festa de hoje nos recorda não apenas a nossa missão, à luz da missão de São José, mas no-la quer dar nova e mais profundamente como participação da missão de Jesus. Para nós, o principal não é procurarmos novos conhecimentos – pode ser que tenhamos conhecimentos em abundância – mas o saber deve tornar-se vida, deve tornar-se empolgamento.
A missão de São José não consistia apenas em realizar esta biunidade em sua própria vida, em dar a Jesus e Maria o lugar certo em seu coração; ele devia aproveitar sua vida para, de qualquer maneira, comunicar a todos os povos esta convicção sobre a biunidade.
“José, levanta-te, toma o Menino e sua Mãe!” Portanto, leva-o para fora, leva-o para os povos. […] Eis nossa grande tarefa, minha querida Família de Schoenstatt, que nunca podemos esquecer neste tempo atual tão confuso na Europa, confuso no mundo inteiro. Não devemos somente cuidar que Cristo seja conhecido pelos pagãos. Não, não! “Toma o Menino e sua Mãe!” Devemos levar Jesus e Maria, em santa biunidade, por toda parte onde temos alguma tarefa a cumprir.
A missão mais essencial de cada filho de Schoenstatt consiste em empenhar-se por esta biunidade por toda a vida, em toda a parte.
Fonte: O Fundador nos fala, vol 1. Conferências e alocuções para as Mães Schoenstattianas e a Família de Schoenstatt