Às vezes, nada mais que uma flor amarela.
Pe. Vandemir Meister – Com a celebração do Domingo de Ramos abrimos caminho para celebrar a Semana Santa, vivenciando um dos maiores mistérios de Deus no meio de nós – a morte e ressurreição de Jesus Cristo.
A liturgia sempre quer nos transportar para um acontecimento da vida de Jesus. Essa celebração nos leva a participar da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. A leitura de hoje nos mostra a alegria das pessoas que abrem caminho para a passagem do Senhor, elevando o que possuem próximo de si, para demonstrar sua alegria pelo encontro com quem eles têm muita consideração e estima. Folhas de palmeiras e, muito provável, outras coisas que tinham em suas mãos, para aqueles que não dispunham de uma folha de palmeira. Quanta alegria era manifestada por aquelas pessoas que estavam ali. Quem eram elas? Eram pessoas humildes, sem muita condição financeira, os mais pobres, os que não tinham um lugar definido na sociedade de Jerusalém, os estrangeiros, os peregrinos…
Era a alegria do encontro com alguém que era mais do que um grande amigo, encontro com quem significava alguma coisa na vida deles e, por isso, tanta exaltação.
E Ele? Um dentre eles, com muita humildade entrando montado em cima de um burrinho – transporte que possuíam os aldeões daquele tempo. Ele não era um “ele” qualquer. Era alguém que tocou, em algum momento, na vida real de cada um.
Jesus Cristo também nos convida a um encontro. Não somente a um encontro, mas a um encontro de alegria, onde todas as nossas mascaras caem por terra. Um encontro verdadeiro com alguém que tocou nossas vidas, que fez a diferença: Entrego a ele o que tenho, mesmo que não tenha nada, mas tenho algo na mão, e isso o entrego.
Quando nada temos a oferecer
Na Síria, atualmente um país destruído por uma grande guerra interna, Zahara, uma mãe que se encontra em um acampamento de refugiados com seu filho nos braços, acolhe uma jornalista para contar sua história. Entregar um presente, como anfitrião, faz parte da cultura síria. Zaraha, com os olhos cheios de lágrimas, movida pela tradição de seu povo de entregar um presente para a visita, não tem mais que uma flor amarela que acaba de colher no campo. Com o coração cheio de dor, por não ter uma coisa de maior valor, pede insistentemente desculpas à jornalista. Esta, no início, não entende o que se passa. Zahara começa a contar sua história dizendo que o que lhe sobrou foi seu filho, sem documentos, e sua fé. Tudo se perdeu na guerra: seu jovem esposo, sua casa, sua terra, seus parentes …
Também nós, muitas vezes, apesar de termos muito mais seguridades existenciais que Zahara, sentimos que não temos nada. Mais ainda, que não temos nada para oferecer à pessoa que se entregou totalmente por nós. Não foi um qualquer, uma visita, ou uma inesperada chegada de alguém que quer saber de minha vida, como aconteceu com Zahara.
O que tenho para entregar ao Senhor, o que tenho para mostrar minha alegria, o que tenho para oferecer a alguém que é mais que um amigo, que uma jornalista?
Meu coração está em sintonia com quem eu amo?
Ele, Emanuel – Deus Conosco –, deu-me palavras de conforto e tem poder para dar-me uma língua adestrada, para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida. Ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo. Ele é meu Deus, é meu Auxiliador, por isso não me deixa abater o ânimo.
Zahara mostra a força da fé que a mantém firme, em um mundo de desesperanças, de violência, de indignidade, de viver no nada… Ela percebe que por trás de tanta tristeza existe um amor maior, que lhe dá esperança no meio das desesperanças deste mundo.
O Pe. José Kentenich, Fundador do Movimento Apostólico de Schoenstatt, comenta que “meu caminho de vida é um caminho de cruz… Se digo sim, se sou dócil e me deixo formar por Deus, posso contar com que o Pai do Céu trabalhará em mim e fará seu labor com empenho. Tenhamos sempre presente que tudo sucede por amor. Só uma coisa que um homem nobre não pode suportar: pensar que a cruz seja castigo decretado por mera justiça. Cultivemos e eduquemo-nos na fé, de que por detrás da cruz está o amor do Pai. Ele envia a cruz por amor, por um amor” (Livro: Ser filho diante de Deus).
Hoje somos convidados a louvar o Senhor, porque Ele nos ama: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!”. Louvar com nossa alegria, com aquilo que temos e somos. Vamos entrar com ele na cidade santa, na Semana Santa, na nossa vida santa e junto com Ele fazer o caminho da ressurreição.
Dentro do amor imensurável de Jesus por nós temos que encontrar o caminho para nos integrar a Ele… Ser amoroso e honesto com tudo o que fazemos em relação ao próximo. Muitas vezes é praticamente impossível! Isto porquê somos seres imperfeitos, mas dentro de nosso convívio diário com parentes, vizinhos, colegas de trabalho… Devemos tentar praticar o que Jesus tão sabiamente nos ensinou.