Flávia C. Ghelardi* – Continuamos hoje o nosso estudo sobre o sacramento do matrimônio e trataremos sobre o grande mistério deste sacramento, a importância da indissolubilidade e a graça específica que se recebe ao contrair o matrimônio.
Este mistério é grande (Ef 5,32)
São Paulo, na carta aos Efésios, fala sobre o matrimônio: “Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne. Esse mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja. Em resumo, o que importa é que cada um de vós ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher respeite o seu marido” Ef 5,31-22
O sacramento do matrimônio é um grande mistério porque, ao ver um casal, deveríamos poder enxergar o amor de Cristo pela Igreja e da Igreja por Cristo. Um amor tão grande que é capaz de dar a vida um pelo outro.
A importância da indissolubilidade
O matrimônio ser indissolúvel significa que o compromisso assumido no altar perante Deus e a comunidade só se desfaz com a morte de um dos cônjuges. Essa característica do sacramento foi determinada pelo próprio Jesus, quando ele disse: “Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu.” (Mt 19,6)
Essa indissolubilidade é uma exigência do próprio amor, afinal ninguém diz ao outro: “vou te amar só por 5 anos…” O amor verdadeiro é para sempre, enquanto o outro viver. Principalmente quando a convivência está difícil, é importante recordar dessa promessa feita no altar, pois o motivo de se casarem foi para ajudarem um ao outro chegarem um dia ao Céu e o caminho para o Céu passa pela porta estreita.
A prova maior que os dois realmente se tornaram uma só carne é a vida do filho. Marido e mulher se uniram no amor e dessa união resultou uma nova pessoa, uma nova alma imortal, que foi feita da carne de um e de outro e agora é impossível separar. Olhar o filho, o fruto de seu amor, deve dar as forças necessárias para cada cônjuge resistir à tentação de pensar em separação.
Palavras do Fundador, Pe. José Kentenich
Os dois escolhidos dão-se mutuamente a mão, trocam suas alianças e pronunciam o SIM recíproco… É um acontecimento decisivo, bem profundo na vida de ambos, ao qual são unidas consequências sumamente profundas e amplas. Esta cerimônia externa é uma viva expressão de que ambos os noivos pertencem-se mutuamente para a vida inteira; pertencem-se tão perfeitamente quanto é possível para homens se pertencerem.
Coração pulsa no coração. Isto quer dizer: um coração pulsará, no futuro, constantemente no coração do outro cônjuge. Ambos serão entrelaçados no amor, mas entrelaçados também na sorte de vida… Um partidário diz: minha vida não é mais concebível sem a do outro. Minha
sorte, quer seja alegre ou triste, não é mais imaginável sem a mesma sorte do outro. Sim, ambos são de modo tão profundo, entrelaçados, doados mutuamente, inseridos um no outro, que não apenas pertence coração a coração, não só sorte a sorte, mas até corpo pertence ao outro corpo e ambos representam, por assim dizer, um único corpo, uma única pessoa.
Uma graça especial
Sem a ajuda da graça, isso é impossível, pois tanto o marido como a esposa são seres com defeitos e limitações e amar exige alto grau de heroísmo e de luta contra o egoísmo. Por isso, o casal ao receber o sacramento do matrimônio, recebe também uma graça específica que só esse sacramento pode dar: a graça da santificação do vínculo.
Isso significa que quem recebe esse sacramento tem o direito de pedir a Jesus essa graça toda vez que o relacionamento estiver difícil. Essa graça vai ajudar a moldar tanto o homem como a mulher para que efetivamente se tornem uma só carne, um só coração. É por meio dessa graça também que o casal poderá realizar a primeira finalidade do matrimônio, que é o bem dos cônjuges. É ela que possibilita que um faça o outro feliz e que ambos caminhem juntos rumo ao Céu.
Esta é a grande diferença…
Esta é a grande diferença dos casais que simplesmente decidem morar juntos daqueles que optam por receber o sacramento do matrimônio. Quem recebe o sacramento, recebe essa graça tão especial e tem muito mais chances de que o casamento seja mesmo duradouro. Uma pesquisa feita nos Estados Unidos atesta que morar juntos, sem o sacramento do matrimônio, aumenta as chances de divórcio.
Com a crescente taxa de divórcio no Brasil (aumento de 16% em 2022 ) e com a diminuição do número de anos que dura o casamento (cerca de apenas 13 anos segundo o último senso do IBGE ), o casal precisa de todas as ferramentas possíveis para que possam ficar juntos até que a morte os separe. E sem dúvida o melhor que podem fazer pela família que estão formando é estabelecê-la sobre a rocha firme do sacramento do matrimônio.
Um exemplo de vida…
O casal Friedrich e Helene Kühr são testemunhas do que significa amar um a outro como Cristo ama a Igreja e permanecer fiel. Residentes na Europa, em janeiro de 1938, ela viaja ao Brasil e ele viria em seguida. No entanto, ele foi preso pelo nazismo e ela ficou nove anos sem ter informações sobre seu esposo. No entanto, diariamente escrevia bilhetes de amor para ele. Ao mesmo tempo, nas prisões e hospitais por onde passava, ele vivia com o coração unido a sua esposa, até que em outubro de 1948, finalmente, ele consegue viajar ao Brasil e eles vivem juntos novamente.
Aqui você pode ler alguns artigos sobre o casal
*Flávia e seu esposo Luciano são membros da União de Famílias de Schoenstatt